Os quitutes da padaria Barcelona, o vaivém da comunidade judaica nas sinagogas, o burburinho dos estudantes do Mackenzie e da Faap, a cachorrada abanando o rabinho nas ruas arborizadas. Algumas coisas parecem que nunca vão mudar em Higienópolis. O mesmo não se pode dizer do perfil de seus moradores. Nos últimos anos, o bairro nobre — com uma população de aproximadamente 35.000 habitantes — começou a passar por um processo de rejuvenescimento. Segundo uma pesquisa da Mello Imóveis, uma das principais imobiliárias da região, caiu de 60 para 40 anos a faixa de idade das pessoas que procuram viver ali. A tendência é sentida também por outros profissionais da área. “Mais de 75% dos meus clientes têm hoje entre 30 e 45 anos”, diz o corretor Alexandre Santana, da imobiliária Coelho da Fonseca.
São recém-casados ou solteiros bem-sucedidos atraídos pela localização central do bairro e que privilegiam apartamentos antigos e amplos, com janelas grandes, pé-direito alto e bom isolamento acústico, em detrimento de poucas vagas na garagem e escassas áreas comuns de estrutura de lazer. “Vim para cá em busca de um novo estilo de vida”, afirma a diretora de arte Renata Drimel, de 34 anos, que trocou em 2004 um imóvel em Santa Cecília por um de três dormitórios na Rua Tupi, com vista para o Estádio do Pacaembu. Hoje, considera-se totalmente adaptada à região. “Adotei até uma cachorrinha, a Catilene, para passear. Ela tem um monte de amigos”, brinca.
Os recém-chegados não se preocupam em desembolsar valores mais altos para desfrutar essas vantagens. A falta de terrenos livres para construção faz com que as raras unidades novas atinjam preços bastante altos. Em contraste com o boom da construção civil, apenas três prédios residenciais foram erguidos em Higienópolis entre outubro de 2007 e setembro de 2010. Um deles é o The Park, condomínio de alto padrão construído pela Elias Victor Nigri na Rua Bahia, com frente para o Parque Buenos Aires, cujos apartamentos, com entrega prevista para julho, podem chegar a 10 milhões de reais. Segundo levantamento da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), a média de custo do metro quadrado de lançamentos no bairro é de 8.320 reais, um dos mais caros da cidade. Por isso, as alternativas mais utilizadas pelos novos moradores são a compra ou a locação de imóveis usados. No último ano, por causa da procura, os preços de casas e apartamentos de padrão médio subiram mais de 100%, de acordo com um levantamento recente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP).
Apesar dos preços inflacionados, o mercado oferece hoje muito mais oportunidades do que no passado. “Com a saída dos filhos de casa, os apartamentos acabam ficando grandes demais para as famílias mais antigas, que resolvem se desfazer dessas propriedades”, explica Antônio Carlos Rangel, sócio da corretora Mello Imóveis. Uma das pessoas que aproveitaram essas ofertas foi o empresário Sérgio Manoel Silva, de 40 anos, que está de mudança para a região. Mesmo morando sozinho, preferiu um imóvel de 220 metros quadrados de área útil, com apenas uma vaga na garagem e sem espaço coletivo de lazer. “Deixava claro para os corretores: ‘Se tiver playground, estou fora’.” A localização e o estilo do bairro também foram diferenciais na escolha. “Higienópolis fica no centro, perto de tudo, e ainda preserva um clima interessante de interior. As pessoas passeiam todos os dias pelas ruas e se cumprimentam. Parece até que você está fora da correria de São Paulo”, diz.
Esses atrativos têm tanto apelo que os profissionais do mercado imobiliário estão expandindo a marca. Imóveis em áreas próximas e menos valorizadas, como a Barra Funda, começam a ser chamados de “nova Higienópolis”. O perfil dos apartamentos de lá, no entanto, é diferente. Foram erguidos recentemente, possuem metragens entre 60 e 80 metros quadrados e valor cerca de 60% menor. Segundo os corretores, é apenas uma questão de tempo para que apareçam por ali mais construções de alto padrão, justificando o novo apelido desse pedaço da região central.