Ao sentar na cadeira de reitor da Universidade de São Paulo (USP) no próximo dia 25 de janeiro, o neurocirurgião Carlos Gilberto Carlotti Junior, 61, escolhido pelo governador João Doria por meio de uma lista tríplice, vai encontrar uma situação financeira bem diferente da presenciada pelo seu antecessor, Vahan Agopyan. Com um orçamento recorde de 7,6 bilhões de reais em mãos, um aumento de 24% na comparação com 2021, ele pretende contratar até 600 professores e diz querer recompor o salário de docentes e servidores, há dois anos sem reajuste. Além de cuidar de 97 000 alunos, 5 300 professores e 13 300 funcionários, o professor Carlotti, como é conhecido no meio acadêmico, tem desafios enormes no próximo quadriênio, como recuperar o combalido Hospital Universitário, reformar a moradia de alunos e até ver o que fazer com um muro de vidro que não para em pé.
Tem conversado com o governador João Doria? Ele fez algum pedido especial?
Antes da escolha, tivemos entrevista com a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, e o vice-governador, Rodrigo Garcia. No dia da indicação, conversei com o governador e, hoje, estive em uma reunião com todo o secretariado. Já foram alguns encontros. Existem temas que a universidade está tratando e que precisam ser continuados. Não houve um pedido especial por parte do governador, nenhuma imposição. Ele quer uma universidade bem conduzida.
Quais desses temas são mais urgentes ou preocupantes?
A reforma do Museu do Ipiranga é um dos assuntos pendentes. Está sendo conduzida pelo governo e com um envolvimento pessoal do governador para a capacitação de recursos. Ele quer que tudo esteja pronto para os 200 anos da independência do Brasil, em setembro.
Por que o assunto está pendente? Há alguma possibilidade de a obra atrasar e não ficar pronta a tempo do próximo 7 de Setembro?
As reformas estão acontecendo e encaminhando bem. Tem todo um calendário. Não temos perspectiva de que não estará pronta, não. Queremos uma comemoração digna, por isso todo esse cuidado.
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O orçamento de 2022 vai pular para 7,6 bilhões de reais, um aumento de 24% na comparação com 2021. E ao que parece a grave crise financeira pela qual a instituição passou está superada. Quais serão as prioridades de sua gestão?
Há oito anos tínhamos um comprometimento com a folha de pagamento acima do que recebíamos do Tesouro. Gastávamos 104% do orçamento (em 2021 esse índice é de 70%). Nos últimos anos, por meio de medidas internas, isso foi diminuindo. Chegamos a promover um programa de demissão voluntária e tivemos algumas determinações do governo federal para não fazer reajuste de salário nem novas contratações. Não faremos nenhuma ação que coloque esse equilíbrio em risco. Dentro do orçamento, vamos trabalhar pela permanência estudantil e fazer uma recomposição salarial de alguma maneira, com muita responsabilidade, além de investir em pesquisa e ensino.
Nos últimos anos, por causa da crise financeira da instituição, centenas de professores pediram exoneração e afastamento não remunerado. Como o senhor fará para reverter a fuga de cérebros?
Existe um déficit de 500 a 600 professores. Dentro desse orçamento (de 2022), muito provavelmente haverá espaço para fazer a reposição deles.
O senhor tem falado sobre a importância da permanência escolar. O que pretende fazer na prática para conter a evasão?
De forma objetiva, precisamos melhorar o sistema de bolsas, modificar o sistema de moradia, para que os alunos possam se dedicar ao estudo e não ter de trabalhar. Aproxima-se o dia em que teremos 50% dos alunos vindos de escola pública. Hoje, esse número está em 40%.
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Após quase dois anos de aulas remotas, como ficará o ensino on-line na USP? Apesar de haver entraves na legislação, o que a universidade poderá aproveitar desse período de atividades 100% virtual?
A perspectiva para o próximo ano, se a pandemia permitir, é iniciar as aulas em 14 de abril de forma presencial. A nossa vocação é o ensino presencial, mas muitas ferramentas podem ser mantidas, aprimorando o contato de professores, alunos e de profissionais de outras universidades.
A universidade registrou neste ano três casos de suicídio. Os docentes e discentes pedem medidas de acolhimento social e psicológico. Como sua gestão tratará desse tema?
Temos diferentes políticas em cada câmpus. Precisamos uniformizar e tratar com medidas preventivas, políticas de esclarecimento, professor que identifica risco maior de saúde mental.
O Conjunto Residencial da USP (Crusp) está sendo reformado, mas os alunos reclamam de falta de transparência e de diálogo por parte da reitoria.
A primeira medida é aproximar os alunos da gestão, isso aconteceu nos últimos semestres. Pretendemos melhorar o problema dos blocos, a estrutura elétrica, a lavanderia, a cozinha. Podemos fazer intervenções sem interditar os prédios.
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O Hospital Universitário tem apenas 50% de seus leitos em funcionamento por falta de trabalhadores. Há três anos, o HU fechou o pronto-socorro, o que sobrecarregou os hospitais da região. É papel da USP cuidar dos pacientes da Zona Oeste?
Pretendemos ainda no próximo semestre fazer as contratações. No momento não tenho o número total. Mas a ideia é fazer isso para que possamos recuperar parte da capacidade operacional. O sentido do HU é atender a população.
Além de cuidar de alunos, professores, prédios e hospitais, o reitor da USP precisa cuidar do muro de vidro da Raia Olímpica, inaugurado há três anos pela prefeitura, mas que não ficou um dia sequer sem uma placa quebrada. O que o senhor fará?
O muro ainda não está sob os cuidados da universidade e nos próximos meses faremos a transição. Aí vamos ver qual é a melhor política para evitar as quebras.
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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de dezembro de 2021, edição nº 2769