Meu trabalho é a diversão dos outros. Como crítico de cinema de Veja São Paulo há quase nove anos, assisto a cerca de seis filmes por semana. Freqüento cinemas semanalmente, seja nos shoppings, seja na região da Avenida Paulista. Conheço praticamente todos os complexos da cidade. Na semana passada, fui, curioso, visitar as salas premier do Shopping Cidade Jardim, da rede Cinemark. Fiquei boquiaberto. Foi uma surpresa atrás da outra, a começar por um singelo pedido:
– Uma pipoca, por favor.
– Pequena, média ou grande?
– Pequena.
– Aceita cobertura de azeite?
– Humm. Vou experimentar.
– Extravirgem, ao alecrim, alho ou trufa?
– Trufa, por favor.
– São 10 reais.
– Qual o número da sua poltrona, senhor?
– D5.
– Eu levo em alguns minutos.
Isso mesmo. Tiraram a cobertura de manteiga para colocar azeite na pipoca. Azeite engorda menos e é mais chique. Há muitas outras coisas com grife por lá. O projeto do lobby, por exemplo, ganhou a assinatura do arquiteto Arthur Casas, em que os tons sóbrios predominam. O preço do ingresso – 46 reais de sexta a domingo, após as 17 horas – justifica essa mordomia toda. No mesmo horário, pagam-se 21 reais para assistir a um filme nas outras cinco salas do Cidade Jardim ou no Cinemark do Shopping Iguatemi, até então o mais caro da cidade. Mais do que ir ao cinema, parece que os clientes estão ali para um programa diferente, que inclui confortos mil e a sensação do ver e ser visto. E nesses quesitos não existe lugar melhor do que aqui.
Uma hostess conduz os espectadores ao saguão e lhes apresenta um cardápio com salgados (11 reais a porção de bolinho de aipim com carne-seca), cafés (2,75 reais o expresso), cervejas (14 reais a Heineken em garrafa long neck) e vinhos (a taça varia de 15 a 36 reais). Caí em tentação diante de uma série de delícias preparadas com sorvete Häagen-Dazs. Pedi o apple crumb cake (18 reais). Estava quase na última mordida quando uma atendente me alertou: “Seu pedido veio errado. Trouxe o certo”. Estava tão saboroso que nem me dei conta de que comi brownie de chocolate no lugar de empanado de maçã. Conclusão: duas sobremesas pelo preço de uma. Quanta gentileza!
Achava que, por ter 124 lugares, a sala 1 seria um cineminha. Que nada. É um cinemão comprido, largo e com pé-direito que alcança 10 metros. As vedetes são as poltronas de couro supermacio e ultraconfortáveis. Reclináveis, possuem braços espaçosos e descanso flexível para os pés. Esticadas, medem 1,57 metro. Para se ter uma idéia, cada uma ocupa o espaço de três cadeiras tradicionais. Se o filme for chato, corre-se o risco de cair no sono. Tem também mesinha para colocar drinques e guloseimas. Pelo espaço entre as fileiras, é impossível alguém ficar dando pontapés na poltrona atrás de você.
A projeção e o som também são impecáveis. A aventura A Caçada me pareceu ainda mais envolvente, sobretudo nos sustos que tomei quando tiros eram disparados. Nesta semana, a programação das salas vips traz o drama Um Crime Americano e o espetacular O Procurado, que, certamente, ganhará ainda mais pontos por ser uma eletrizante fita de ação.
É importante dizer que as simpáticas garçonetes param de servir quando as luzes se apagam. Ah, sim. A minha pipoca, aquela do azeite trufado, chegou sete minutos depois do pedido. Veio encharcada, murcha e fria. Mas nada como um chique lencinho umedecido – que acompanha a guloseima – para limpar os dedos e tirar a má impressão. Em menos de três horas, gastei, sozinho, 88 reais, contando o estacionamento. Mas valeu cada centavo. O duro agora vai ser sair da ficção do Cidade Jardim e encarar a realidade nas poltronas do meu dia-a-dia.
Cidade Jardim Cinemark – Avenida Magalhães de Castro, 12000, Morumbi, 3758-1670. Veja a programação das salas em Cinemas.