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Nosso cartão-postal

“A mente humana busca clareza.” Essa foi a conclusão de uma pesquisa divulgada recentemente por uma revista de ciência. A ideia grudou na minha cabeça. Ajuda-me a entender o comportamento humano, acredito. Eu me lembrei dela ao perceber a confusão e o desconforto no rosto do meu filho caçula, Samuel, de 10 anos de idade. […]

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 15h48 - Publicado em 19 jul 2013, 13h13
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  • “A mente humana busca clareza.” Essa foi a conclusão de uma pesquisa divulgada recentemente por uma revista de ciência. A ideia grudou na minha cabeça. Ajuda-me a entender o comportamento humano, acredito. Eu me lembrei dela ao perceber a confusão e o desconforto no rosto do meu filho caçula, Samuel, de 10 anos de idade. Estávamos juntos pela primeira vez, eu e o garoto, no andar de cima do Masp. Nossas idas ao cartão-postal da cidade haviam se limitado, até então, à troca de figurinhas de jogadores de futebol no vão livre do local. Mas acordara naquele domingo com vontade de respirar o ar rarefeito da alta cultura, de contemplar algumas das obras mais belas já feitas.

    Começamos pelas esculturas, no subsolo. É uma coleção bacana, com obras de impacto. Subimos depois para a pequena e simpática livraria. Passamos também na exposição de Portinari, que, embora longe de ser minha favorita, não deixa de ser interessante. Almoçamos no restaurante do museu. É um ótimo programa. Esquecera como é bom. Estava já de bom tamanho para um menino da idade do Samuel. Mas o convenci a subir comigo para olhar os quadros mais famosos. Não queria sair sem vê-los. Só mais duas exposições, digo ao meu filho, mostrando os cartazes no elevador. Ele não tinha muita escolha, verdade seja dita.

    + Um bom passeio geek, por Matthew Shirts

    Tentei explicar sem muito êxito o significado histórico de pinturas famosas feitas por Vincent van Gogh, Henry Matisse e Claude Monet. Paro para apreciar um quadro brasileiro excepcional, Varredores de Rua (Os Garis), de Carlos Prado, que eu não conhecia. Vimos ainda Gauguin, Toulouse-Lautrec, El Greco e Ingres. É fantástica a coleção do Masp, uma aula de história da arte. Entramos na sequência em uma ala com joias mais antigas. Vimos a obra Madonna Willys, a Virgem com o Menino Jesus, de Giovanni Bellini, pintada por volta de 1480. Admiramos Madonna em Adoração do Menino Jesus e um Anjo, da mesma época, criação de Biagio d’Antonio Tucci, que trabalhou, como se não bastasse, na decoração da Capela Sistina, em Roma.

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    A cabeça de Samuel ficava à altura das fichas das obras, o que facilitou a leitura. Em determinado momento, percebo na cara do meu filho a falta de compreensão. Manifesta-se como angústia. Como todos falam em tom de sussurro ali, ele puxa a manga da minha camisa, pedindo que eu abaixasse e respondesse a uma pergunta sua, elaborada com discrição. “Pai, por que é que nesta parte do museu eles falam tanto da Madonna?” Demoro uns cinco segundos para captar direito a mensagem. Mas entendo, depois dessa pequena pausa, que ele se refere à cantora, atriz e pop star. Esforço-me para não dar uma baita risada. Mas faz todo o sentido. Para um menino de 10 anos de idade sem formação religiosa, a Madonna mais conhecida não é a mãe de Jesus. É a cantora. E não seria lógico que naquele setor tão formal do museu ela fosse o assunto predominante. E para explicar?

    + Sem Coleira!, por Matthew Shirts

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