Existem dois modos de pilotar uma moto: cavalgar e galopar. O primeiro verbo cabe às máquinas simples, como as que vemos aos montes pelas ruas de São Paulo, enquanto o segundo deve ser aplicado somente aos possantes modelos que ilustram as páginas desta reportagem e seus congêneres. Além dos muitos algarismos que compõem seus preços, as integrantes desse último grupo dispõem de motores com, no mínimo, 500 cilindradas. Também têm em comum o fato de que uma leva de grifes especializadas em fabricá-las aposta no Brasil — sobretudo em São Paulo — como um de seus principais mercados para os próximos anos.
Até 2013, a lendária marca de motos americana Harley-Davidson planeja chegar a dez revendedoras na capital e outras quarenta concessionárias espalhadas pelo país. A montadora operava aqui por meio de um representante local e, desde o ano passado, assumiu o controle do negócio com os próprios executivos.
HARLEY-DAVIDSON NIGHT ROD SPECIAL
Os números desse segmento nos últimos anos foram animadores. A BMW, por exemplo, aumentou suas vendas em 500% nos últimos cinco anos — de 547 para 3.243 unidades. O número faz sentido também se comparado ao total de motos premium comercializadas, que cresceu de 15.000, em 2005, para 37.000, em 2010. Cerca de metade dessas transações foi efetuada na cidade de São Paulo. Para efeito de comparação: as vendas de motos de categorias mais simples saltaram de 1 milhão para 1,8 milhão por ano.
Um dos principais fatores para o crescimento da BMW foi o início da produção na Zona Franca de Manaus, em 2010. Primeiro, a G 650 GS, considerada um modelo de entrada. Em fevereiro deste ano, a F 800 R, uma naked (pois o motor fica à mostra) esportiva. Com a nacionalização, os preços passam por uma redução considerável.
DUCATI MULTISTRADA 1.200 S TOURING
A F 800 R, que custava cerca de 52.000 reais, agora sai por 38.000. O preço de um carro médio, é verdade, mas ainda assim acessível. O que não é exatamente o caso do maior lançamento da BMW para 2011: a K 1.600 GTL. O valor passa dos 100.000 reais. Não é para menos: com seis cilindros em linha (o mais leve já fabricado para uma moto com mais de 1 litro), essa 1.600 permite ainda o ajuste eletrônico de suspensão — ao toque de um botão, o piloto escolhe a melhor combinação para a carga que a moto estiver suportando.
Quando se trata dos mais nobres veículos sobre duas rodas do mercado, no entanto, entram na equação de preço fatores que transcendem a engenharia mecânica. “O consumidor não adquire só o veículo. Compra um estilo”, diz Longino Morawski, da divisão brasileira da Harley-Davidson. Os destaques da grife americana são a Fat Boy e a Night Rod Special. A primeira é um dos modelos mais clássicos, com freios ABS de série e 1.600 cilindradas. A Night Rod possui design mais agressivo e, fazendo jus ao nome, sua cor predominante é o preto.
Uma fabricante menos conhecida dos brasileiros também tem gana por nosso mercado. É a austríaca KTM, famosa por suas motos esportivas, especialmente as off-roads, que acaba de desembarcar em solo nacional. A primeira concessionária ocupa 4.000 metros quadrados na Avenida dos Bandeirantes desde o começo do ano — é a maior revenda da empresa no mundo.
NINJA ZX-14
A montadora já ensaia a produção de alguns modelos em Manaus. A ideia é começar com os menores. Por ora, apenas as importadas estão à venda. À parte alguns veículos de perfil motocross, a aposta para o mercado de luxo é a 990 SM T. Com vocação estradeira (o “T” é de touring, classificação dada às motos próprias para longas viagens), vem com freios de alto desempenho Brembo.
Considerada a Ferrari das motos, a Ducati tem na Multistrada 1.200 S Touring seu principal modelo para o segmento AAA. A versão top de linha está na faixa dos 90.000 reais. Como o nome sugere, seu ponto forte é a versatilidade. Pode-se optar por quatro tipos de pilotagem: urbano, turismo, esporte e enduro. A escolha é feita por meio de um comando no guidão.
As japonesas, já consolidadas no país, também têm seus trunfos para o segmento de alto padrão. A principal novidade fica com a VFR 1.200F, da Honda. Começa a ser vendida por aqui neste segundo trimestre. Considerada uma “obra de arte” no quesito tecnologia, a grande inovação consiste num sistema de duas embreagens diferentes, controladas eletronicamente. Trata-se do DCT (Dual Clutch), que permite dois modos de pilotagem: o automático e o sequencial. Lembra câmbios da Porsche.
“Não somos apenas uma marca de modelos populares”, diz Alfredo Guedes, superintendente de relações institucionais da empresa, que comemora quarenta anos no Brasil. A Kawasaki está fabricando em Manaus, desde dezembro de 2010, a esportiva Ninja 650 R. Custa 30.000 reais, quantia considerada acessível por se tratar de uma moto da categoria mais chique — da mesma marca, a importada ZX-14, que chegou ao Brasil no ano passado, é vendida por mais que o dobro desse preço. Outra oriental com novidades (e que também sai por 60.000 reais) é a Yamaha XT 1.200Z Super Ténéré, modelo 2012, lançada em março.
Um ano de mudanças tão aceleradas no cenário de motos premium só poderia terminar em altíssima velocidade. O grupo italiano Piaggio, proprietário de ícones como Aprilia, Scarabeo e Moto Guzzi, esboça um modelo de inserção no mercado nacional. O mais provável é que seja por meio da CR Zongshen, que fabrica em Manaus as motos Kasinski. É esperar — eleger o melhor ronco, arrancar e galopar no terreno predileto.