Quem deseja tirar habilitação para guiar uma moto na cidade precisa passar por aulas obrigatórias num circuito onde só se pode andar em primeira marcha e são proibidas as ultrapassagens. Os mais graduados nesse tipo de direção têm hoje à disposição um curso muito mais radical. No Autódromo de Interlagos, os aprendizes recebem lições desde como manter o equilíbrio na chuva até fazer tomadas em curvas em alta velocidade, com o corpo bem inclinado e o joelho quase raspando o asfalto, como se fossem dublês do campeão italiano Valentino Rossi.
Os módulos de ensino ocorrem duas vezes por mês, têm onze horas de duração, são completados num só dia e custam entre 1.990 e 4.500 reais. Fotógrafos e cinegrafistas registram o desempenho dos calouros em trechos como a famosa curva do Senna, e uma ambulância fica de prontidão para qualquer emergência. Entre uma volta e outra, os estudantes podem recuperar parte da energia servindo-se em um bufê de comidas que fica à disposição deles ao lado dos boxes.
Um dos maiores atrativos do negócio é o professor, o ex-corredor Alexandre Barros, que disputou dezessete temporadas do Campeonato Mundial de Motovelocidade, categoria 500 cilindradas, considerada a Fórmula 1 sobre duas rodas (foi o único brasileiro a ganhar provas nesse circuito, somando um total de sete vitórias e 32 pódios).
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Ele criou a Riding School em 2010 e já formou por ali mais de 1.000 alunos (metade deles somente nos primeiros meses deste ano). “Queremos capacitar a turma para usar de forma adequada suas máquinas”, explica Barros. Para poder se matricular, o cliente precisa ser dono de um equipamento de, no mínimo, 250 cilindradas e trazer de casa luvas, capacete, botas e macacão. Barros e o time de outros seis instrutores utilizam modelos da BMW, a patrocinadora da escola. Além das classes regulares, ela oferece de tempos em tempos módulos para desenvolver algumas habilidades. Exemplo disso foram as aulas dadas ali recentemente sobre condução para os proprietários de modelos estilo estradeiro, como as Harley-Davidson.
Os inscritos na Riding School são trintões e quarentões em boa situação profissional que cultuam motos potentes e ícones como a dupla de protagonistas hippies de Sem Destino, o clássico de1969 estrelado por Peter Fonda e Dennis Hopper. “O bicho da gasolina me pegou e hoje levo essa história muito a sério”, afirma o administrador Henrique Winik, de 28 anos, proprietário de uma Honda CBR 1000 RR. Ele passou pelas aulas mais avançadas e pretende fazer a estreia nas pistas no segundo semestre. “Estou pensando em correr em provas de 1.000 cilindradas”, conta.
Há também alguns rostos conhecidos entre os alunos, como o do ator Marcos Chiesa, o Bola do programa Pânico na TV. “Fui lá para aprender a andar na cidade com segurança em cima de uma moto”, afirma ele, que terminou há duas semanas o módulo mais básico da escola de Alexandre Barros. O ex-jogador Denilson, do São Paulo e da seleção brasileira, frequentou o curso com pretensões maiores. “Perto da emoção que sinto numa máquina em Interlagos, a bola foi só um passatempo”, diz. “Descobri minha vocação e vou virar um craque nesse negócio.”