Cansados de esperar uma intervenção eficaz da prefeitura ou da polícia, moradores do centro resolveram agir por conta própria para expulsar centenas de usuários de drogas que ocupam as vias diariamente. Jatos d’água viraram a arma principal contra o que o presidente do Conselho Comunitário de Segurança do Centro (Conseg), Antonio de Souza Neto, chama de “exército de zumbis”. No prédio de número 318 da Rua Conselheiro Nébias, um sistema com tubos de PVC instalado na marquise esguicha água constantemente na calçada, como um chuveiro, para debandar os dependentes químicos. Funciona. A poucos metros dali, a síndica de um edifício da Rua Guaianazes já mandou armar a mesma arapuca. Pelas janelas, além da água, condôminos respondem à algazarra noturna com paus e pedras. “Teve até tiro para o alto no início do mês”, conta um dos porteiros. A revolta de quem vive nessas ruas foi revelada em reportagem do Jornal da Tarde publicada na última terça. No mesmo dia, mais de 300 viciados e traficantes perambulavam pela região quando os comerciantes baixaram as portas, por volta das 18h30. Só a foto acima mostra mais de 130. “Desde que a prefeitura começou a desenvolver o projeto Nova Luz, na Cracolândia, os drogados migraram alguns metros para a Rua Guaianazes”, diz o presidente do Conseg.
A Polícia Militar garante ter um “esquema especial” para a região com rondas em motocicletas. Prendeu 163 pessoas e apreendeu 700 gramas de drogas na área nos primeiros quatro meses deste ano. É pouco. Para o delegado Maurício Druziani, do 3º Distrito Policial, responsável pela área, “trata-se de uma questão mais social do que policial”. Há uma semana no comando do DP, Druziani diz que está em andamento uma investigação para identificar traficantes na região. O secretário da Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, afirma que o problema é de saúde pública. “Só com uma mudança da legislação federal que permita internar essas pessoas conseguiremos tirá-las das ruas e tratá-las.” Dos 1 100 dependentes químicos encaminhados ao Centro de Apoio Psicossocial da Sé de março até a semana passada, apenas dezenove continuam em tratamento. “Não temos como obrigá-los a ficar”, explica Matarazzo. Nos próximos dois meses, ele promete ampliar o perímetro da operação Nova Luz até a Rua Guaianazes e colocar em funcionamento um novo local para atender viciados em drogas no centro. “Mas isso é apenas um paliativo”, admite.