Ao contrário do feminino, o guarda-roupa masculino conta com restritas opções para diversificar a composição do visual. Quando muito, de tempos em tempos surge — ou ressurge — alguma variação na cartela de cores, nos materiais utilizados, nos cortes e nas modelagens, evidenciando os esforços dos estilistas em dar uma mexida nos tradicionais trajes dos homens que buscam mudança. O mais recente alvo dessa procura por inovação é o corte dos ternos, que agora tende a ser ajustado ao corpo. A novidade começa a ganhar as ruas e vitrines das lojas paulistanas e deu margem à quebra de um paradigma: a bainha das calças hoje não precisa ser marcada junto ao início do salto do sapato, mas sim cerca de 1 ou 2 centímetros acima desse ponto. O que antes era considerado cafona ou jeca atualmente virou tendência. “É uma chance de inovar nas peças masculinas, que sofrem raras e sutis mudanças”, diz Lu Pimenta, coordenadora de estilo da Daslu Homem.
“Antigamente, a barra da calça podia alcançar a metade do salto. Hoje, a bainha até 2,5 centímetros acima do salto é considerada atual e correta”, explica o estilista Ricardo Almeida. “Eu mesmo prefiro usá-la assim.” A medida deixa a silhueta esguia e evita o excesso de tecido sobre o calçado. “Na frente, a calça deve ficar um dedo acima da planta do pé”, orienta Alan Sidney, supervisor de vendas da marca alemã Hugo Boss.
Assim como tudo no universo fashion, esse padrão é importado e foi visto há algum tempo nas passarelas internacionais. Os homens italianos são conhecidos por manter o estilo “pula brejo” nas ruas, ousando até exibir suas meias. Porém, eles não são os únicos a ostentar o visual. “Na França, as roupas masculinas são mais próximas ao corpo. Já em Nova York, homens andam nas ruas de calça social curta, sapatos finos e sem meias”, conta Carla Raimond, editora de moda da revista “Estilo”. “Mesmo as peças casuais, como os jeans, seguem essa tendência.”
No entanto, há restrições. Para adotar o estilo, considerado moderno, é necessário que todo o visual acompanhe. Isso implica um terno de corte seco, reto e junto à silhueta. Para complementar, a lapela do paletó e a gravata devem também ser estreitas. “A calça tem de ser justa, pois com esse comprimento o modelo clássico não fica bonito”, explica Lu Pimenta. “Para homens mais conservadores, vale manter a bainha tradicional.” Afinal, os trajes devem refletir o gosto e a personalidade de cada um.
Qualquer semelhança com os figurinos do seriado americano “Mad Men”, um drama sobre publicitários nova-iorquinos lindos e bem-sucedidos ambientado no início da década de 60, não é mera coincidência. Os modelitos usados hoje lembram em muito os sessentistas. “Não há o que inventar na moda, por isso as tendências acabam voltando e sendo recicladas”, explica Carla. Nesse vaivém, não será surpresa se, no próximo ano, as calças surgirem largas e cheias de brilho, no melhor estilo discoteca.