Com a desculpa de que o público evita sair de casa para ver espetáculos “pesados”, o teatro tem subvertido os gêneros. Procura encaixar leveza em montagens dramáticas, ou extrair graça delas, a fi m de não exigir muito da plateia em busca de diversão. Sob a direção de Paulo de Moraes, o drama Mente Mentira, escrito pelo americano Sam Shepard, trafega na contramão da tendência. Produzido e protagonizado pelo galã Malvino Salvador, o espetáculo mantém a densidade da trama e dos personagens complexos com equilíbrio e vigor artístico.
A separação de um casal (Salvador e Fernanda Machado) é o mote. Vítima da agressão do marido, a jovem tenta recuperar-se das sequelas ao lado do pai egocêntrico (Zécarlos Machado), da mãe submissa (Roza Grobman) e do irmão servil (Marcos Martins). Ele, por sua vez, encara a mãe (papel de Malu Valle) e os irmãos (Augusto Zacchi e Keli Freitas) para apagar fantasmas do passado. Diante dessa teia de relações, Shepard desmascara a hipocrisia do conservadorismo americano. Ao retratar as duas casas espelhadas no mesmo cenário, Moraes investe na plasticidade sem abrir mão da fi rmeza na direção de atores. Efi ciente na proposta, Salvador marca pontos também pela humildade. Não está no palco durante toda a peça e, ciente da inexperiência no teatro, abre espaço para os colegas brilharem. Destaque maior, Zécarlos Machado rouba a cena em meio ao elenco e Fernanda Machado contorna excessos do difícil papel.
AVALIAÇÃO ✪✪✪✪