São 5h30 de uma segunda-feira. Ingrid Santos, 31, se levanta da cama rumo ao trabalho de secretária em um consultório pediátrico em Perdizes — ela mora no Jardim Boa Vista, próximo à Estrada do M’Boi Mirim, Zona Sul — e alguns minutos depois é surpreendida pelo marido, também saindo da cama.
Tiago Santos, 32, trabalha em casa. A labuta começou poucos minutos após o despertar da esposa. “Chega a trabalhar doze horas por dia. Ele é terrível”, diz Ingrid, rindo e, ao mesmo tempo, dando uma bronca.
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Tiago é o idealizador da Liga de Quebrada, que reúne cerca de 300 times da Zona Sul da capital paulista (e alguns poucos de Diadema). Ingrid apareceu na sua vida há cinco anos, dentro de uma academia. “Começamos a conversar e eu fui vê-lo jogar, amo futebol desde sempre. Na Liga cuido da parte administrativa e financeira. Nos eventos é onde colaboro mais, ai dele se contratar alguém, porque eu gosto.”
Durante todo o ano, cada participante da Liga pode jogar 92 vezes contra adversários locais em 46 rodadas, que terminam até dezembro. São duas modalidades disputadas: futsal, com 175 times inscritos, e fut7 (seis jogadores na linha e um goleiro), com 125 equipes. O negócio começou em 2018.
“Com certeza é a maior liga da Zona Sul”, diz um dos dirigentes do Clube Atlético Vila Emir, Cláudio Miranda, 43. Os participantes têm acesso a um aplicativo e um site, em que podem marcar os jogos e conferir as tabelas de pontos corridos. Não é de graça, claro. “Temos quatro tipos de plano. O mensal, de 39,99 reais; o trimestral, de 113,99; o semestral, de 219,99; e o anual, de 429,99”, explica Tiago.
“A gente divide o valor. Não dá nem 1 real para cada (por mês)”, diz o diretor do Fuleiros Futebol e Fumaça, Ian Queiroz de Almeida, 30. O ganhador de cada modalidade da Liga de Quebrada leva o troféu da disputa e um ano gratuito de acesso ao serviço.
Os dezesseis melhores colocados de cada modalidade jogam a Copa do Rei, que premia o vencedor com 1 500 reais, uniformes e sessões de fotos profissionais. O logotipo da competição lembra o da Copa Libertadores, mas, em vez do mapa do continente americano, a Zona Sul da capital paulista foi recortada, rodeada de estrelas.
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Tiago tem dois sócios, Eduardo Santos e Rafael Garcia, que são responsáveis pelo aplicativo e pelo site e são donos também de outra competição, em Guarulhos. O empreendedor largou o cargo de diretor de marketing em uma empresa de material esportivo (a mesma que patrocina a Liga) para se dedicar totalmente ao negócio, neste ano.
Formado em tecnologia da informação e em marketing, saiu de casa para morar sozinho aos 15 anos. “Entregava panfletos de escola de inglês e de informática”, lembra. Foi também modelo de eventos, instrutor e gerente de academia.
Antigo membro de equipes da várzea, alimentava havia anos a ideia de montar um campeonato próprio e começou com pequenos eventos, reunindo times da região, para formar uma base de contatos. “Hoje, estou 100% na Liga e faço alguns bicos de design”, conta.
“O que nos chamou a atenção foi a organização e a visibilidade, o Tiago trabalha muito nisso. Ele traz entretenimento para as equipes e aquela disputa sadia”, diz Cláudio Miranda.
O sucesso, no entanto, custou a Tiago um bem precioso. “Eu jogava em seis times. Mas aí os caras falavam que as equipes só estavam ganhando porque o dono da Liga estava jogando, então decidi largar”.
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Publicado em VEJA São Paulo de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775