Ele já foi o mais famoso agente de trânsito de São Paulo. Foi também o principal responsável por fiscalizar motoristas que insistiam em pisar fundo no acelerador na Marginal Tietê.
Ricardão, como ficou conhecido, era uma espécie de xerife da via mais movimentada da cidade.
Criado em 1993, o ilustre marronzinho era, na verdade, um manequim – comprado na Rua São Caetano, no centro – de cerca de 1,80 metro de altura. Com fartos bigodes e vestido com o uniforme dos funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), era colocado em uma das guaritas da via para se passar por um agente. Assim, poderia evitar infrações de trânsito.
“Na época, registrávamos uma morte por dia nas marginais Tietê e Pinheiros. Não existia o congestionamento que vemos hoje, e os caminhões faziam o que queriam nessas duas vias”, conta Ricardo Teixeira, ex-gerente operacional da companhia, atualmente vereador pelo Pros. O nome do boneco, aliás, foi uma homenagem a ele, feita pelo então presidente da empresa, Gilberto Lehfeld.
“O saudoso Lehfeld (morto em 2015) teve de convocar uma coletiva de imprensa porque todo mundo quis saber sobre o boneco. Como pediram para ele dar um nome, na hora ele falou ‘Ricardão’, em minha deferência”, recorda Teixeira. “A ideia foi cópia de outros países. Mas até a CNN, espantada com a repercussão por aqui, divulgou nossa ação”, finaliza.
A fama do boneco Ricardão foi tamanha que foram encomendados mais dez manequins para formar o time de agentes de mentirinha. Surgiu até uma versão feminina, a Susy, que ganhou batom vermelho, peruca preta e óculos escuros.
“O mais impressionante foi que a ideia funcionou por um determinado tempo. Não existiam radares como temos hoje, e o motorista não sabia se ele era um agente de carne e osso ou não. Isso inibia o abuso”, recorda Getúlio Hanashiro, secretário de Transportes da gestão do prefeito da época, Paulo Maluf.
Após a fama, Ricardão caiu no esquecimento, foi alvo de vândalos e seus exemplares foram deixados de lado totalmente em 1997.
Um “sobrevivente” foi descoberto por VEJA SÃO PAULO em um galpão da CET na Vila Leopoldina, na Zona Oeste. Coberto por plástico bola, solitário e cercado por quinquilharias, está vestido com um uniforme mais moderno que o da época em que fez fama. O motivo é que, após a aposentadoria, Ricardão ainda participou de algumas ações específicas, entre elas sinalizações de eventos – Fórmula Um, por exemplo.
Apesar de estar bem conservado, Ricardão, que deixou o velho galpão abandonado para uma sessão de fotos (logo voltou ao seu antigo lugar) não deverá ter um futuro promissor – ao menos, nesta gestão. O prefeito Doria não tem planos de reavivar a função que tanto sucesso fez nos anos 90.