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Iniciativa dá cursos e busca emprego para ex-presidiários

Criado por Jayme Brasil Garfinkel, o Instituto Ação pela Paz evita que egressos voltem aos presídios ao oferecer capacitação e trabalho

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 fev 2018, 06h00 - Publicado em 23 fev 2018, 06h00
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  • Judeu de origem ucraniana, o empresário paulistano Jayme Brasil Garfinkel cresceu escutando relatos de seus pais e parentes a respeito das barbáries enfrentadas nos campos de concentração. O regime de Adolf Hitler perseguiu, prendeu, escravizou e matou minorias como judeus, ciganos, portadores de deficiência e homossexuais. “O mais angustiante é pensar que, devido ao nazismo, a sociedade civil não tinha a possibilidade de mudar aquela realidade”, resigna-se Garfinkel. “Já hoje eu posso fazer diferença.”

    Ele só não tinha a definição exata da área em que queria atuar. Tudo mudou quando, em 2010, foi convidado para assistir a uma palestra com Lourival Gomes, secretário da Administração Penitenciária, ocasião em que lhe perguntaram se empregava algum ex-presidiário em sua empresa. A resposta do acionista majoritário e presidente do Conselho de Administração da seguradora Porto Seguro foi “não”.

    Garfinkel saiu de lá incomodado — e guardou no bolso do paletó o cartão de Solange Rosalem Senese, que conheceu na ocasião. A economista ocupava um posto-chave na Fundação Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel, a Funap, entidade que tem como objetivo dar assistência jurídica, educacional, cultural e profissional aos presos. “Minha missão era qualificar e tentar conseguir emprego para a população carcerária”, lembra Solange. Algo complexo diante de um sistema superlotado e dominado por facções.

    Ex-presidiários
    Robson Sanches: egresso do sistema prisional (João Bertholini/Veja SP)

    Poucas semanas depois da palestra, o empresário ligou para ela. Queria entender mais sobre o sistema prisional. Anos mais tarde, contratou-a com a missão de, junto com ele, esboçar um projeto para evitar que egressos retornassem aos presídios.

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    Depois de muitas visitas a cadeias e discussões com advogados, juízes e médicos, criaram o Instituto Ação pela Paz, em 2015. A entidade atua em diversas frentes. Dá cursos de pintura, cabeleireiro, soldagem, gastronomia e panificação, além de aulas de música, xadrez e artes. Na maioria dos casos, o instituto compra maquinário e paga aos professores. “Os 100 primeiros dias de liberdade são os mais críticos. A probabilidade de voltar ao crime é enorme para quem não consegue um emprego”, alerta Solange.

    Ela está correta. A taxa de retorno à cadeia mostra-se alarmante: 75% dos ex-detentos voltam para as celas. Esse quadro muda quando há ações efetivas.

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    Luiz Mendes, preso por trinta anos, em palestra na cadeia de Limeira (Instituto Ação pela Paz/Veja SP)
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    Em Limeira, no interior paulista, a entidade atendeu 272 presos em 2016. Desses, apenas um regressou ao sistema prisional. “Eu elaborei um projeto de música e passei a dar aula de instrumentos nessa unidade”, lembra Robson Mateus Sanches, de 24 anos. Ele foi preso em março de 2015 por tráfico de drogas e deixou a unidade em abril de 2017. Há sete meses, trabalha na confecção Panosocial, localizada no centro de São Paulo. Dos doze funcionários da empresa, cinco são ex-detentos. “Nós precisamos de ajuda.”

    Karine Vieira sabe bem disso. Hoje com 36 anos, ela entrou para o crime aos 14. Traficou, cometeu furtos e assaltos e foi presa aos 24. Passou cinco meses na cadeia e voltou para o crime, situação em que ficou até os 28. “Resolvi parar. Saí de cabeça erguida, em busca de paz.” Ela foi aprovada no curso de serviço social na faculdade Anhanguera.

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    Karine Vieira, assistente social: segunda chance (Pablo Saborido/Veja SP)
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    Trabalhou anos com a ONG AfroReggae, até fundar a Responsa, em setembro de 2017, com patrocínio do Instituto Ação pela Paz. Karine conseguiu onze empregos formais para ex-presidiários em empresas como Tejofran, de serviços de limpeza, e Joaquina Brasil, uma confecção. “Também garantimos dezenas de trabalhos temporários.”

    Se no ano passado o Instituto Ação pela Paz investiu 1,5 milhão de reais em ações para presidiários, neste ano serão 2 milhões. Esse valor vem de Garfinkel como pessoa física, da Porto Seguro, da Fecomercio e da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais. “Meu sonho é apoiar um projeto para que depois ele ande sozinho, assim posso ajudar outros”, diz o empresário. “Capacitar e empregar egressos é tirar um criminoso em potencial da rua.”

    + Cadeia na capital se destaca pelo respeito à detentas transexuais

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