O Parque do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, ganhou mais cores nos últimos dias. Um projeto realizado por quatorze grafiteiros da cidade renovou a paisagem de quem passa pela marquise, perto do Museu de Arte Moderna (MAM). Ao todo, são onze muros pintados no entorno de dois banheiros públicos no espaço – um deles foi reformado e deve ser reinaugurado amanhã.
A ação foi coordenada pela Graffiti Fine Art, entidade organizadora da Bienal Internacional do Graffiti. Teve a participação dos grafiteiros Binho Ribeiro, Tinho, Minhau, Chivitz, Mauro, Tikka, Feik, Smoky, Shalak, Suzue, Cadumen, Nick NEM e Snek. Entre os envolvidos no projeto também estão os responsáveis por grafitar, na gestão Fernando Haddad (PT), os muros da Avenida 23 de Maio, também na Zona Sul.
Segundo os organizadores, não houve custo para a Prefeitura, pois o projeto foi bancado pelas empresas Sherwin Williams e Cyrela – esta também responsável pela reforma nos banheiros, com o custo de 450 000 reais. Outro painel que já existia no local, do artista Eduardo Kobra, também está sendo revitalizado.
“Já tínhamos feito intervenções no parque em 2015, mas quando começou a reforma dos banheiros nos pediram uma nova”, diz Binho Ribeiro, coordenador do projeto.
Os painéis são uma trégua no embate entre grafiteiros, pichadores e o prefeito João Doria (PSDB). Em janeiro, a Prefeitura pintou de cinza as pichações e grafites da Avenida 23 de Maio. Pichadores reagiram em diversos pontos pela cidade.
Um dos artistas que assinam os murais, Mauro Neri, de 35 anos, foi detido em janeiro após remover a tinta passada pela Prefeitura em um de seus grafites e pintar sua arte por cima em uma pilastra no Complexo Viário João Jorge Saad (Cebolinha), na Zona Sul.
Neri não foi o único detido. Até ontem, com menos de três meses de gestão, a Guarda Civil Metropolitana já conduziu 51 pichadores à Polícia Civil por depredação ao patrimônio, segundo o balanço mais atualizado do órgão. Lei aprovada pela Câmara Municipal e sancionada por Doria em fevereiro prevê multa de 5 000 reais para pichadores.
“Encaramos aquele primeiro momento como uma situação desrespeitosa em relação à arte. Cobramos a oportunidade de diálogo e esse diálogo está existindo”, ressaltou Ribeiro.
“Mas, mesmo com as conquistas apresentadas à categoria, ainda há muitos artistas que continuam ofendidos com o que houve. Caberá ao prefeito conquistá-los novamente, resgatar a moral”, afirma o coordenador do projeto.
A Prefeitura também lançou, no início do mês, um edital de 200 000 reais que dará início à primeira fase do projeto Museu Arte de Rua, apelidado de MAR. Haverá intervenções de grafiteiros em oito pontos da cidade, que ainda serão definidos.
A mudança no visual do parque foi bem vista pelos frequentadores do Ibirapuera ouvidos pelo Estado. “Ficou ótimo assim, com um aspecto de bem preservado”, opinou o barman Jonas Carvalho, de 26 anos, que fotografava os grafites na tarde de ontem.
O porteiro Richard Bezerra da Silva, de 22 anos, veio do Capão Redondo, bairro da Zona Sul paulistana, para patinar e se surpreendeu com a novidade. “Ficou ótimo, porque tinha muitas pichações naquele lugar”, diz. “O grafite é arte, mas a pichação eu já acho que é vandalismo”, acrescentou.