Desde a estreia de “Toy Story”, em novembro de 1995, a californiana Pixar virou rapidamente uma grife superpoderosa: foi indicada duas vezes ao Oscar de melhor filme (por “Up – Altas Aventuras” e “Toy Story 3”), arrecadou 7,5 bilhões de dólares em ingressos vendidos e fez do digital o modelo dominante no cinema de animação. Essa história de sucesso ganha mais um capítulo com a estreia de “Valente”, seu 13° longa-metragem.
+ Nancy Kato: a brasileira que deu vida à heroína de “Valente”
O desenho acrescenta novidades a uma fórmula imbatível. Narrada em tom de conto de fadas medieval, a aventura apresenta a primeira heroína da Pixar: com longos cachos ruivos, a adolescente Merida se rebela contra a mãe para fazer valer o direito a ser uma mulher independente. O filme tem direção de Mark Andrews e Brenda Chapman, dois novatos em um estúdio que não deixou de arriscar mesmo depois de ter sido comprado pela Disney, em 2006.
+ Os melhores e piores filmes de super-heróis
A história da Pixar começa muito antes de “Toy Story”. A origem do grupo vem de 1979, quando era apenas um departamento de tecnologia da Lucasfilm, o gigante de George Lucas, e ainda atendia por Graphics Group. Em 1986, após investimento de Steve Jobs, a empresa ganhou um nome e começou a consolidar sua identidade. Não sem crises, deslanchou como uma das principais forças criativas de Hollywood.
A seguir, conheça a trajetória do estúdio, filme a filme.
1986 – Luxo Jr. (de John Lasseter)
Com apenas dois minutos e meio de duração, o curta foi feito no ano em que a Pixar rompeu o vínculo com a Lucasfilm e se tornou um estúdio independente, financiado por Steve Jobs. O personagem principal, uma luminária de mesa saltitante, serviria de inspiração para a logomarca da corporação. Para os produtores, o valor afetivo do desenho é incalculável. Tanto que, em 1999, ele foi exibido nas sessões de “Toy Story 2”.
1995 – Toy Story (de John Lasseter)
O primeiro longa-metragem da Pixar foi lançado em meio a uma crise pesada: em caso de fracasso, muito possivelmente o estúdio iria à falência. Quando começaram a aparecer elogios para a animação, que conta uma história de amizade entre um caubói de brinquedo e um astronauta de plástico, o executivo Steve Jobs decidiu investir ainda mais na empresa. Uma aposta acertada: o desenho digital, produzido a 30 milhões de dólares, arrecadou 361 milhões de dólares.
1998 – Vida de Inseto (de John Lasseter e Andrew Stanton)
Para exibir os primeiros filmes nos cinemas, a Pixar fez um acordo com a poderosa Disney, que dominava o mercado dos desenhos nos anos 90. Apesar de bem recebido, “Vida de Inseto” enfrentou a concorrência da Dreamworks, que lançou uma animação digital semelhante no mesmo período (a comédia “Formiguinhaz”). Na trama, inspirada sutilmente no épico “Os Sete Samurais” (1954), de Akira Kurosawa, uma formiga une um exército de insetos para enfrentar um exército de gafanhotos.
1999 – Toy Story 2 (de John Lasseter, Ash Brannon e Lee Unkrich)
A continuação do desenho de 1995 seria lançada diretamente em vídeo. Mas a Disney, que assinou acordo para distribuir as criações da Pixar, insistiu por sua exibição nos cinemas. Para contornar a saia-justa, o diretor John Lasseter descartou o primeiro roteiro da sequência, que ele considerava fraco, e recomeçou o longa-metragem. Com mais ação e piadas inspiradas, a fita fez ainda mais sucesso. Rendeu 485 milhões de dólares e marcou o início de uma era computadorizada para as animações.
2001 – Monstros S.A. (de Pete Docter)
No ano em que os monstros coloridos dominaram os desenhos digitais, a Pixar bateu de frente com a Dreamworks – e ganhou a batalha. Faturou quase 100 milhões de dólares a mais que “Shrek”, outro grande sucesso daquela temporada e vencedor do primeiro Oscar para longas-metragens de animação. Os personagens principais, criaturas que habitam os sonhos das crianças, vão voltar às telas em 2013 na continuação “Monsters University”.
2003 – Procurando Nemo (de Andrew Stanton)
A aventura marinha sobre um peixinho perdido confirmou em definitivo o domínio da Pixar no ramo da animação digital. Com impressionantes 868 milhões de dólares arrecadados, só perdeu em 2003 para “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”. A popularidade não representou declínio de prestígio. Aclamado pela crítica, o longa-metragem rendeu comparações com o lirismo do diretor japonês Hayao Miyazaki, de “A Viagem de Chihiro”. O filme, vencedor do Oscar de animação, vai ganhar uma sequência em 2016.
2004 – Os Incríveis (de Brad Bird)
Para manter o nível dos projetos anteriores, a Pixar saiu à procura de um diretor com criatividade e novas ideias. Encontrou tudo isso em Brad Bird, descoberto no excelente “O Gigante de Ferro” (1999). O cineasta, que mais tarde dirigiria “Missão Impossível 4”, agarrou a oportunidade e levou boas doses de ambição à fórmula do estúdio. O resultado: um filme de super-herói sobre uma típica família americana. Venceu o Oscar de animação e foi indicado à estatueta de melhor roteiro original.
2006 – Carros (de John Lasseter)
Na época em que a Disney comprou a Pixar (por 7,4 bilhões de dólares), entrou em cartaz a primeira animação do estúdio que passou longe da unanimidade. Ao criar versões humanizadas de automóveis, Lasseter voltou ao tema de “Toy Story”, mas ficou devendo em emoção. Nada que abalasse o apelo popular da empresa, que voltou a lucrar na bilheteria: foram mais de 400 milhões de dólares, sem contar a fortuna produzida pelos brinquedinhos lançados no embalo do filme.
2007 – Ratatouille (de Brad Bird)
O diretor de “Os Incríveis” resolveu um momento delicado da Pixar, estremecida pelas críticas negativas a “Carros” (2006), ao assinar um dos filmes mais elogiados do estúdio. Em clima nostálgico e valorizada por uma bela recriação de cenários parisienses, a história mostra os desafios de um ratinho que sonha em ser chefe. Vencedor do Oscar de animação, o desenho guarda o trunfo para um desfecho que faz um belo elogio aos críticos – sejam eles gastronômicos ou de cinema.
2008 – WALL-E (de Andrew Stanton)
Se desenhos como “Os Incríveis” e Ratatouille” mostravam o desejo de conquistar também o público adulto, “Wall-E” foi ainda mais longe. Trata-se do projeto mais ambicioso (e arriscado) da Pixar. Com um quê de fábula futurista, o diretor de “Procurando Nemo” evita diálogos na primeira metade do filme, que mostra o cotidiano de um robô em um planeta devastado. Na segunda parte, faz referências a mestres da ficção científica como o diretor Stanley Kubrick e o escritor Philip K. Dick. A crítica, é claro, adorou. E o público fez da ousadia um sucesso. Para a revista “Time”, trata-se do melhor filme da década.
2009 – Up – Altas Aventuras (de Pete Docter)
Selecionada para abrir o Festival de Cannes (em sessão 3D) e indicada ao Oscar de melhor filme, a animação comprovou uma fase de grande prestígio para a Pixar. Inspirado pelas ousadias de “Wall-E”, o diretor de “Monstros S.A.” foi fundo no sentimentalismo e levou espectadores às lágrimas ao narrar a amizade entre um senhor rabugento e um menino gorducho. Os primeiros 15 minutos, que resume a história de vida do personagem principal, estão entre os momentos mais emocionantes do estúdio.
2010 – Toy Story 3 (de Lee Unkrich)
Muitos fãs de “Toy Story” ficaram desconfiados quando a Pixar, que não gosta de produzir continuações, anunciou mais um episódio da cinessérie. Daí a surpresa provocada por um desenho à altura dos (ótimos) capítulos anteriores. Lee Unkrich, codiretor de “Toy Story 2”, atinge um ponto de equilíbrio perfeito entre humor, ação e emoção. O feito rendeu 1 bilhão de dólares nas bilheterias e foi recompensado com a segunda indicação para o estúdio ao Oscar de melhor filme.
2011 – Carros 2 (de John Lasseter)
Depois de quatro desenhos muito bem recebidos pela crítica e pelo público, a Pixar derrapou. A continuação de “Carros” tenta, sem muito sucesso, simular o clima de uma fita de espionagem ao estilo James Bond. A criançada (como de costume) compareceu aos cinemas. Desta vez, contudo, os adultos ficaram à deriva num filme longo e aborrecido sobre a jornada do carro de corrida Lightning McQueen em uma competição mundial. Não apareceu entre os indicados ao Oscar de melhor animação.
2012 – Valente (de Mark Andrews e Brenda Chapman)
Após a recepção morna a “Carros 2”, a Pixar decidiu mudar de ares para espantar a crise criativa. Para isso, o diretor convocou dois diretores sem muita experiência e criou sua primeira protagonista feminina, a destemida Merida. Em tom de fábula, o filme deslumbra graças ao realismo das cenas: o sistema de animação foi remodelado para criar imagens ainda mais detalhistas. A crítica, apesar disso, recebeu o resultado sem unanimidade e lançou a dúvida: seria um tempo de incertezas para o estúdio?