Era para ser um trabalho pontual. Enviado para cuidar da chegada ao país da sofisticada grife de sua família, a Hermès, em setembro do ano passado, Dimitri Mussard se encantou com a cidade. Butique inaugurada no Shopping Cidade Jardim e divulgação encerrada, o francês decidiu se instalar de vez por aqui. “Eu adorei São Paulo”, conta ele, em um português com leve sotaque. “Não via motivo para voltar à Europa.” Primeiro, descolou um serviço como corretor. Vendia propriedades a estrangeiros, como fazendas em Mato Grosso, lotes à beira-mar na Bahia e ilhas no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. Isso até decidir abrir seu próprio negócio, em meados deste ano.
O rapaz, de 27 anos, se juntou a dois amigos locais: a administradora Anna Luisa Pera, que trabalhou onze anos no Grupo Iguatemi, e o publicitário e advogado Fábio Justos, ex-integrante da equipe do consultor de luxo Carlos Ferreirinha. O trio criou a Acaju do Brasil, empresa dedicada a importar, assessorar e distribuir produtos do segmento premium. Por enquanto, a companhia — que cobra a partir de 23 500 reais pelos serviços prestados — conquistou cinco clientes, entre eles a grife francesa Weill, especializada em roupas para gordinhas, e a vodca polonesa Potocki.
O herdeiro, que namora uma estilista italiana que também acaba de se mudar para cá, evita tirar fotos desacompanhado para não criar atrito com seus parentes. Alega razões de segurança. Mas garante se bancar sozinho. “Estou longe de ser um playboy”, afirma. “Não dependo da minha família para nada.” A sala do apartamento onde mora, nos Jardins, emprestado pelo banqueteiro Charlô Whately, foi transformada em escritório. Antes de se apaixonar por São Paulo, Mussard conheceu a cidade em 2007. Ele deu um tempo na faculdade de finanças, cursada entre Paris, Londres e Amsterdã, para rodar o mundo. Entre um destino e outro, passou quatro dias aqui, quando fez questão de conhecer a Fundação Gol de Letra, na Zona Norte. “O Raí é o meu maior ídolo”, conta Mussard, sobre o ex-jogador que, ao lado de Leonardo, criou a ONG. “Costumava vê-lo jogar pelo Paris Saint-Germain.” Agora, torce para o Flamengo. Não tem automóvel e, eventualmente, circula por aí de ônibus. “Uso até um bilhete único.”