Nas décadas de 70 e 80, grafiteiro era um termo pejorativo. Associava-se a palavra a um marginal que destruía muros públicos, portas de casas e sacadas de prédios com seus riscos. Essa situação começou a mudar em meados dos anos 90. Hoje, há grafiteiros paulistanos consagrados, como a dupla osgemeos, que pintou a fachada da galeria londrina Tate Modern no ano passado e vende obras por mais de 250?000 dólares. Bem remunerados, eles deixaram de danificar a propriedade alheia, mas continuam a espalhar suas intervenções. A diferença é que agora têm permissão para isso. “Fazemos parcerias para recuperar e embelezar áreas antes degradadas”, afirma o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo. A Subprefeitura da Lapa, por exemplo, associou-se ao grafiteiro Rui Amaral com o objetivo de repaginar becos abandonados. “Quando feito de forma organizada, o grafite valoriza os espaços”, diz Amaral. Desde 2007, ele e alguns alunos do Senac trabalham dentro da estação de trens da Lapa. “O diálogo com o governo melhorou porque o número de artistas respeitados e responsáveis aumentou muito nos últimos dez anos”, explica.
Não são apenas os espaços públicos que ganham com essa mudança de perfil. Empresários contratam grafiteiros para transformar a fachada de seus negócios e mesmo o bairro onde estão. É o caso da casa noturna Vegas, na Rua Augusta, que em setembro do ano passado resolveu mudar a cara de seu entorno. “Oferecemos o serviço a lojistas e jornaleiros”, conta Facundo Guerra, um dos proprietários do clube. A arte legalizada ainda ajuda a combater o vandalismo. “Os pichadores não atacam bancas de revistas grafitadas”, afirma o jornaleiro Paulo Eduardo Santi, um dos beneficiados pela ação do Vegas. Nos últimos tempos, surgiram roteiros turísticos pelos grafites da cidade. A agência SPBureau tem pacotes para grupos de até doze pessoas que variam de 450 a 650 reais.