O usual tom cinza que cobre as paredes dos prédios da PUC foi sobreposto pelas cores dos grafites de quinze artistas. Convidados pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais, os grafiteiros tiveram passe-livre para desenvolver seus trabalhos e levar um pouco das ruas para dentro da universidade.
A iniciativa de colorir alguns espaços da instituição partiu de um problema, que o estudante do quinto ano de ciências sociais Cauê Seignemartin Ameni, definiu como cíclico: a PUC costuma cobrir de cinza as intervenções feitas em suas paredes. “A gente pensou que deveria fazer uma pintura criativa para quebrar esse ciclo. Não adianta a universidade repintar as paredes porque as intervenções vão continuar. O pessoal faz isso porque há um movimento contra as cores opacas”, afima Cauê. O jovem assina o projeto ao lado de seu colega Vitor Bastos.
Artista e educador, Patrick Toledo diz que cada grafiteiro teve seu espaço para pintar, mas não houve muito rigor. “Cada um foi chegando e encaixando seu trabalho ao lado do dos outros. Mais ou menos como acontece na rua”, afirma Toledo. Ele conta que já havia participado de uma pintura no interior da própria PUC, a convite de um estudante da universidade. “São poucas as instituições que fazem coisas desse tipo, normalmente são encomendas.”
Segundo Cauê, os artistas tiveram total liberdade para trabalhar. “A temática foi bem livre. Só pedimos para que fizessem algo dentro do contexto do lugar. Fizemos apenas uma sugestão para o Jefferson Vaniski, que faz retratos. Pedimos que ele fizesse a imagagem de Paulo Freire, um símbolo de resistência, com presença marcante na história da PUC”, diz o estudante.
Quinho Fonseca, grafiteiro há 17 anos, retratou sua realidade para um pedaço de parede da Pontifícia. “Fiz uma mostra do que vivo na comunidade onde moro, em Guarulhos. Tem uma molecada que curte um funk e anda de moto sem capacete”, contou. “Achei interessante porque levou um pouco da rua para a universidade”, declarou sobre o evento.
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O resultado das intervenções foi positivo. Os alunos aprovaram e a instituição também, a ponto de custear uma parte do evento, que contou ainda com a ajuda de centros acadêmicos e patrocinadores. Cada grafiteiro recebeu R$ 150,00 pelo trabalho.
A questão estética não foi a única motivação para trazer o pessoal do grafite para a PUC. Os estudantes de ciências sociais afirmam que a proposta era mostrar ser possível fazer política de transformação dentro do espaço acadêmico. “A universidade já foi vanguarda em responder questões da cidade. Hoje ela está fechada em si mesma e trata os assuntos herméticamente, isso quando não se enrola em sua própria burocracia”, disse Cauê.
Com a aceitação da iniciativa, os alunos planejam uma nova intervenção, com lambe-lambe de fotografias temáticas do período do regime militar.
A exposição permanente fica aberta para visitação. A PUC-SP fica à rua Monte Alegre, número 984.