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Golpes na internet

No mínimo uma vez por semana, recebo um e-mail me oferecendo 10 milhões de dólares. Ou mais. Os motivos são variados. Segundo um deles, um ditador de um país africano havia deixado uma fortuna. Para resgatá-la do banco seria preciso a colaboração de alguém como eu. Outro era assinado por uma “velhinha inglesa”. No fim […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 18h18 - Publicado em 4 fev 2011, 23h30
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  • No mínimo uma vez por semana, recebo um e-mail me oferecendo 10 milhões de dólares. Ou mais. Os motivos são variados. Segundo um deles, um ditador de um país africano havia deixado uma fortuna. Para resgatá-la do banco seria preciso a colaboração de alguém como eu. Outro era assinado por uma “velhinha inglesa”. No fim da vida, em um asilo, a tal senhora resolvera deixar sua fantástica fortuna para a caridade. Já no limiar do outro mundo, pedia que eu assumisse a fortuna para depois distribuí-la. Só desejava era partir em paz.

    Nunca acreditei. Por que alguém me ofereceria uma fortuna sem sequer me conhecer? Ainda mais porque, ao ler o endereço dos destinatários, lá estava: “Undisclosed recipients”. Ou seja, o e-mail fora enviado indiscriminadamente. Era uma isca, para pescar algum peixe bobo e ambicioso. Suponho que, no decorrer das negociações, eles pediriam para eu abrir uma conta e enviar uma quantia polpuda para “liberar” a fortuna. Depois desapareceriam. A proposta é esperta: oferece um negócio que não é exatamente legal. Quem vai reclamar na polícia que tentou dar um golpe na grana de uma velhinha inglesa e se deu mal?

    Recebi outro, mais sofisticado, dirigido expressamente a mim. Um milionário com meu sobrenome havia falecido na África sem deixar herdeiros. Supunha-se que eu poderia ser o sortudo. Pediam que eu escrevesse, confirmando meu sobrenome, para ser iniciado o processo do espólio. Adoraria que fosse verdade! Quem nunca sonhou em descobrir que é herdeiro de uma grande fortuna? Mas ninguém está querendo me dar 10 milhões de dólares, tenho certeza. Ou 20. É golpe. Como funciona, em seus detalhes, não sei. Mas muita gente deve cair, já que vivem enviando e-mails semelhantes, cada um com nova versão.

    Há truques mais elaborados. Um modelo que conheço colocou as fotos no Facebook. Quase imediatamente foi procurado por uma “agência internacional”, que pretendia lançá-lo em outros países. O rapaz surtou de entusiasmo. Telefonou para o número oferecido, em Salvador. Uma “secretária” atendeu, identificou a agência. Ele pediu para falar com seu contato, a dona. Depois de alguns segundos, a moça veio ao telefone. Conversaram horas. Descobriram pontos em comum. E as ligações foram se sucedendo. O contato “profissional” transformou-se em início de namoro. Ela pediu:

    — Você pode me enviar um material nu? No início, ele reagiu assustado.

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    — Não poso sem roupa.

    Mas a lábia da “agente” era boa:

    — Não se trata disso. Tenho um bom contato na Holanda para fotos de roupas íntimas masculinas. Eles querem ver como você é.

    O incauto fez gravação pela câmera. Exagerou um pouquinho, já que, do outro lado, a futura namorada o incentivava a se soltar. Marcaram a data da viagem para Amsterdam. Ela afirmou:

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    — Como a agência faz muitos trabalhos, eu tenho um desconto especial em passagens. Deposite na minha conta.

    O rapaz concordou. Uma semana se passou. Duas. Ele começou a ligar sem parar. Número inexistente. Finalmente, recebeu um torpedo: “Obrigada por ter garantido meu fim de ano”. Correu ao banco. A conta da mulher não existia mais. Conseguiu falar com ela mais uma vez. Exigiu seu dinheiro.

    — É melhor ficar quietinho, senão boto seu vídeo pelado no YouTube!

    O modelo ficou sem a grana e a esperança!

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    Contos do vigário sempre existiram. Na internet se renovaram. Ninguém está distribuindo fortunas e oportunidades a troco de nada. É nessas horas que lembro do velho ditado: “Quem muito quer nada tem!”.

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