Por quase seis décadas, o número 60 da Avenida Cidade Jardim, um dos pontos comerciais mais valorizados da capital, abrigou o tradicional Pandoro, o berço do drinque caju amigo e de incontáveis histórias de boemia. Uma reforma transformou completamente o endereço, que deve voltar às atividades na próxima terça (14), rebatizado como Girarrosto. Na nova configuração, o antigo bar continua existindo numa das três áreas em que o salão do imóvel de 1.200 metros quadrados foi dividido. As duas alas restantes incluem um pastifício artesanal e um girarrosto (a grelha com espeto giratório em italiano) envidraçados. Imenso, o espaço tem ainda um jardim pelo qual se distribuem mesas ao ar livre, forno de pizza, uma padaria de entrada independente e uma adega para 1.200 garrafas.
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O investimento total, estimado em 10 milhões de reais, é uma das apostas mais altas feitas no mercado gastronômico paulistano nos últimos anos. Quem está por trás do negócio é o empresário Paulo Roberto Kress Moreira, que se associou a outros quatro investidores mais o premiado chef Paulo Barroso de Barros. “Esperamos recuperar o capital gasto em oito anos”, calcula ele.
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A nova casa de culinária italiana surge num dos momentos econômicos de acentuada ebulição da área de restaurantes em São Paulo. “Nos últimos dois anos, houve um crescimento muito intenso”, diz Tadeu Masano, proprietário do Amadeus, no Jardim Paulista, e diretor da empresa Geografia de Mercado, especializada na análise de viabilidade de pontos comerciais na cidade. Para ele, o setor terá um aquecimento ainda maior em 2012. Além do Girarrosto, estão previstas para os próximos meses várias outras inaugurações de endereços importantes, totalizando mais 26 milhões de reais em injeção de recursos.
As novidades são muitas. Marcelo Fernandes, dono dos caros Kinoshita e Clos de Tapas (caros, aliás, como todos os lugares citados nesta reportagem), pretende concluir o Ristorante Attimo na segunda quinzena de abril. Fincado na Vila Nova Conceição, o futuro endereço ítalo-caipira tem receitas do chef Jefferson Rueda e ocupa uma antiga residência desenhada pelo arquiteto David Libeskind, o mesmo que projetou o Conjunto Nacional. “Investimos 4 milhões de reais e procuramos resgatar a originalidade do belo imóvel que ocupamos”, conta Fernandes. O empresário tem outro projeto em andamento. É o Attimino, um anexo do Attimo, que funcionará como cozinha de pré-produção e loja de massas, molhos, pães e sorvetes.
Dono da grife gastronômica mais famosa do país, Rogério Fasano promete lançar a Trattoria Fasano, que ficará numa espécie de gazebo no térreo do edifício comercial Pátio Malzoni, no Itaim. Como sempre acontece nos empreendimentos do restaurateur, o projeto, orçado em 4 milhões de reais, leva a assinatura do arquiteto Isay Weinfeld. “Desta vez, privilegiaremos a cozinha do sul da Itália”, adianta Fasano. “A trattoria começa a ser erguida depois do Carnaval e tem conclusão prevista para julho.” Também está em andamento o Parigi Bistrot, que será instalado no 4º piso do Shopping Cidade Jardim e custará 3 milhões de reais.
Ainda entre os italianos, o Tre Bicchieri, no Itaim, ganhará a primeira filial quando o Shopping JK Iguatemi abrir as portas, em abril. Juscelino Pereira, que deixou a vida de maître no Grupo Fasano para montar o Piselli em 2004, é um dos sócios. “Hoje, tenho algumas parcerias, e cada uma delas caminha de maneira independente com sócios e administrações diferentes”, diz. Esse tipo de acordo permitiu que Juscelino montasse em outubro nos Jardins a pizzaria Maremonti, junto de Ricardo Trevisani, também ex-Fasano, e, em dezembro, o francês La Cocotte, com Pedro Sant’Anna e o chef Fred Frank, ao custo de 2 milhões de reais e 1,5 milhão de reais, respectivamente. Ainda neste mês, ele deve abrir a primeira filial do Zena Caffè, no Itaim, e, até junho, a pizzaria Maremonti no Shopping Iguatemi Alphaville.
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Num fenômeno tipicamente brasileiro, os restaurantes viraram um motivo de atração de clientes aos shoppings. Por isso, hoje há uma disputa para ter casas estreladas nos centros de compras mais sofisticados. O JK Iguatemi nascerá com filiais do Varanda e do Ráscal. Dono da churrascaria Varanda, Sylvio Lazzarini Neto calcula que tenha gastado 4 milhões de reais com a casa de 205 lugares. “Já estamos treinando a nova equipe para manter o mesmo padrão de atendimento da matriz”, declara. Embora se concentre no eixo entre a Paulista e a Marginal Pinheiros, a efervescência gastronômica se irradia para outras partes da cidade.
A Vila Leopoldina, por exemplo, até recentemente dispunha de apenas um lugar de qualidade superior, a pizzaria Ritto. Localizado na Zona Oeste, o bairro tem hoje várias boas opções, como o Mangiare, aberto em outubro pelo casal de estreantes no ramo Juliana e Benny Burattini Goldenberg. A dupla afirma ter investido 1,5 milhão de reais para transformar um galpão de 650 metros quadrados em um charmoso salão com empório fino na entrada.
Tudo isso deve tornar ainda mais acirrada a briga no já bastante competitivo mercado gastronômico paulistano. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), de cada 100 estabelecimentos abertos na capital, 35 fecham as portas em um ano. E apenas três sobrevivem por mais de uma década. Para não engordarem essa estatística, empreendedores como Paulo Roberto Kress Moreira, do Girarrosto,cercam-se de cuidados. O antigo local do Pandoro, além de contar com a supervisão do chef Barros na cozinha, terá Massimo Barletti — italiano da Toscana e dono de um currículo notável — pilotando os fogões. “Desenvolvemos um cardápio no qual o forte serão os assados e as massas”, anuncia Barletti. Essas são as feições à mesa do mais novo restaurante do pequeno império montado sob a gestão de Kress, que ingressou no segmento há oito anos, quando se associou ao primeiro General Prime Burger, no Itaim, e calcula faturar 45 milhões de reais por ano. Hoje, a rede de fast-food tem duas filiais em São Paulo, uma em Campinas e deve abrir a quarta em abril, no Shopping JK Iguatemi. Completam o grupo o Kaá, no Itaim, e o Italy, no Jardim Paulista, que foi aberto como uma unidade do General Prime Burger em outubro de 2010 ao custo de 4 milhões de reais e transformado na trattoria chique dez meses depois. “Colocamos mais 1 milhão de reais na mudança de bandeira porque era necessário aumentar o tíquete médio, que dobrou de 40 para 80 reais. Só assim conseguiríamos obter o retorno necessário”, justifica Kress. Ou seja, em meio a notícias tão apetitosas para os frequentadores de boas mesas, a única coisa capaz de tirar a fome dos frequentadores é esta — comer nos nossos restaurantes está custando muito. E tudo indica que os preços continuarão lá em cima, infelizmente.
As principais novidades para 2012
Quando: nesta terça (14)
Girarrosto
Especialidade: italiano
Local: Itaim
Valor investido: 10 milhões de reais
Quando: até o fim de fevereiro
Zena Caffè
Especialidade: italiano
Local: Itaim
Valor investido: 1 milhão de reais
Quando: março
Farro
Especialidade: mediterrâneo
Local: Alto da Lapa
Valor investido: 1,5 milhão de reais
Quando: abril
Attimo
Especialidade: italiano
Local: Vila Nova Conceição
Valor investido: 4 milhões de reais
Quando: abril
General Prime Burger
Especialidade: fast-food
Local: Shopping JK Iguatemi
Valor investido: 3,5 milhões de reais
Quando: abril
Gusto
Especialidade: italiano
Local: Itaim
Valor investido: 1,5 milhão de reais
Quando: abril
Tre Bicchieri
Especialidade: italiano
Local: Shopping JK Iguatemi
Valor investido: 3,5 milhões de reais
Quando: abril
Varanda
Especialidade: carnes
Local: Shopping JK Iguatemi
Valor investido: 4 milhões de reais
Quando: julho
Trattoria Fasano
Especialidade: italiano
Local: itaim
Valor investido: 4 milhões de reais
Quando: novembro
Parigi Bistrot
Especialidade: francês
Local: Shopping Cidade Jardim
Valor investido: 3 milhões de reais