Na noite do último domingo, o escritor e professor universitário Gabriel Chalita teve de lidar com sentimentos distintos. Ao mesmo tempo em que comemorava os 102 048 votos conquistados na disputa por uma cadeira na Câmara Municipal, precisou consolar seu padrinho político, o ex-governador Geraldo Alckmin, que foi atropelado pelo atual prefeito, Gilberto Kassab, e ficou fora do segundo turno. “Mesmo abatido, ele me deu parabéns e disse que estava feliz por mim”, conta Chalita, que diz só ter aceitado ser candidato depois de muita insistência por parte do seu antigo protetor. “É claro que minha expectativa era ser vereador para apoiar o Geraldo, mas, seja quem for o eleito, não tenho o perfil de parlamentar briguento”, afirma ele, que, garante, seguirá a orientação do seu partido, o PSDB, e estará com Kassab, do DEM, na disputa final com Marta Suplicy, do PT. Apesar da votação expressiva, Chalita ficou longe do recorde do agora deputado federal José Eduardo Cardozo (PT), que em 2000 recebeu quase 230 000 votos.
Esta não será a primeira experiência de Chalita em um legislativo municipal. Aos 19 anos, não só foi eleito vereador em sua cidade natal, Cachoeira Paulista, como assumiu a presidência da Câmara local. “Eu o conheci no fim da adolescência e ele se mostrou uma pessoa bastante curiosa, com um apreço grande pela cultura”, lembra o editor Pedro Paulo de Sena Madureira. “Era um perguntador de marca maior.” Chalita se tornou um escritor prolífico. Aos 39 anos, tem 46 livros publicados. Escreveu o primeiro aos 11 e, pelas suas contas, já vendeu 9 milhões de exemplares. Seu best-seller é Pedagogia do Amor, na linha da auto-ajuda, que ele afirma ter vendido 2 milhões de cópias.
Em 2006, foi eleito membro da Academia Paulista de Letras (APL). “É meu braço-direito”, diz o presidente da casa, o desembargador José Renato Nalini. “Tem uma disposição que os mais antigos já perderam.” E disposição parece que não lhe falta mesmo. Chalita ainda dá aulas nas universidades Mackenzie e PUC, além de palestras Brasil afora (pelas quais diz cobrar entre 20 000 e 25 000 reais). Solteiro, mora sozinho em uma elegante cobertura dúplex no ponto mais nobre do bairro de Higienópolis, avaliada, de acordo com a declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, em 3,5 milhões de reais. Nos jantares que oferece, não se faz de rogado quando lhe pedem para tocar algumas músicas no piano de cauda de sua sala de estar. Muitíssimo bem relacionado, ele tem em sua lista de amigos o empresário Antônio Ermírio de Moraes, o banqueiro Lázaro Brandão, os escritores Walcyr Carrasco e Lygia Fagundes Telles e a ex-primeira-dama Lu Alckmin, cuja biografia escreveu.
Há dois anos, lançou o CD Gabriel Chalita Canta o Amor, com um show para 60 000 simpatizantes do movimento carismático da Igreja Católica Canção Nova reunidos em Cachoeira Paulista. Isso mesmo, ele também canta. E se aventura na televisão. Todas as quartas, apresenta ao vivo um programa na TV Canção Nova – depois de ficar afastado por causa da eleição, voltou ao ar na semana passada, quando entrevistou o padre Antônio Maria. Católico devoto, considera que boa parte de seus eleitores pode ser de fiéis. Entre as notícias divulgadas no site de sua campanha, aparecem diversas manchetes como “Gabriel participa de missa no Terço Bizantino”, “Chalita e Geraldo participam de missa do padre Marcelo Rossi” e “Chalita participa de missa na Igreja de Santa Teresinha”.
Chalita ficou conhecido durante o governo Alckmin, quando foi secretário da Educação e secretário da Juventude, Esporte e Lazer. Nesta campanha, sua gestão à frente da Secretaria da Educação foi acusada de provocar um rombo de 4 milhões de reais aos cofres públicos. Segundo uma sindicância da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), uma empresa responsável pela venda de antenas parabólicas teria deixado de entregar mais de 3 000 equipamentos já pagos. “Mostrei que eu não tinha nada a ver com o funcionário responsável pelo contrato”, defende-se Chalita, que mesmo como vereador pretende continuar exercendo suas múltiplas atividades.
Caras novas na Câmara? Nem tantas
O índice de renovação de 29% é considerado baixo
por cientistas políticos
Nas eleições de 2004, os paulistanos trocaram quase metade dos vereadores da Câmara Municipal. Esse índice de renovação, já considerado baixo por alguns especialistas, caiu consideravelmente neste pleito. Apenas dezesseis dos eleitos não ocupam o cargo atualmente. “Quem já tem mandato entra na disputa em vantagem”, afirma o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. “Conta, por exemplo, com uma boa estrutura para divulgar seu trabalho.” Esse fator pode ter tido um peso considerável, já que a atual lei eleitoral limita bastante a propaganda dos políticos nas ruas. “Na nossa avaliação, divulgamos que doze vereadores respondiam a processos na Justiça”, diz Sonia Barboza, coordenadora da ONG Movimento Voto Consciente, que desde 1987 acompanha a atuação do Legislativo paulistano. “Ficamos surpresos porque, desses, nove estarão na Câmara em 2009.” Mas, mesmo entre as dezesseis caras novas, algumas não são tão novas assim. Estão no grupo o médico Jamil Murad (PC do B), que foi deputado estadual e federal, e o presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, Claudio Fonseca (PPS), vereador entre 2001 e 2004. Mas há uma boa notícia: os eleitores paulistanos não se sensibilizaram com alguns nomes “famosos”. Ficaram de fora figuras como o apresentador trash Sergio Mallandro, o empresário falastrão Oscar Maroni, acusado de formação de quadrilha, tráfico de mulheres e favorecimento à prostituição, e o ex-jogador Dinei. Ainda bem.