“Olha o melão maduro!” “Saindo o pastel quentinho!” “Chegou a conta do condomínio!” Na rotina dos moradores dos oito blocos do Alameda Morumbi, com 1 500 habitantes, o bom-dia dos porteiros convive com a saudação de vendedores de frutas e legumes. Há sete meses o local abriga uma feira, que ocupa semanalmente dezoito das 65 vagas do estacionamento dos visitantes. São sete barracas com produtos diversos, de massas a carnes.
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Ali do lado, o Parque Brasil, com 4 000 pessoas, aderiu à iniciativa: desde setembro, recebe às sextas um grupo desses comerciantes na área de lazer. No total, em ao menos trinta endereços na Grande São Paulo, é possível encher a sacola sem sair do local onde se mora.
O negócio começou a se espalhar de forma simples: os interessados convidam pequenos grupos de feirantes que já trabalham na região para oferecer seus produtos nesses espaços. Ali, eles se comprometem a praticar os mesmos preços da rua. No Alameda Morumbi, o quilo da banana-prata sai por 5,99 reais; o caldo de cana, por 5 reais. Não é necessário obter licença da prefeitura, por se tratar de área privada. Assim, não há tarifas envolvidas (quem atua na rua paga em média 200 reais ao município). “Meu rendimento aumentou 20% com o trabalho nos prédios”, comemora o vendedor Ricardo Ramos, de 35 anos. “Atraímos um público que não ia até nós normalmente, como estudantes.”
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De olho nesse nicho, o feirante Rafael Augusto Rosa, de 28 anos, transformou um ônibus de 14 metros de comprimento em um sacolão móvel. Faz um ano que ele atende sete endereços residenciais da Grande São Paulo, uma vez por semana cada um, com ao menos oitenta itens nas gôndolas. “Muitos pedem o que querem por mensagem de celular. Quando estaciono, está tudo separado para eles.”
Essas comodidades vêm conquistando moradores inicialmente contrários à ideia. No Labitare, do Butantã, alguns dos 3 000 residentes se queixaram do barulho causado pelo evento semanal. Com a lábia típica de quem está no ramo, os comerciantes dobraram os reclamões com gentilezas como levar as compras até os apartamentos.
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No mesmo bairro, o condomínio Altos do Butantã se integrou ainda mais à novidade: uma das seis bancas é dedicada a temperos e legumes originados na horta comunitária. O lixo orgânico produzido ao fim do dia vai para o sistema de compostagem do cultivo. Um bônus: o aumento de convivência de vizinhos que mal se cumprimentavam tem amainado os atritos entre apartamentos. “As reclamações caíram 30%”, contabiliza o síndico Rogério Airoldi.