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“Nós todos matamos esse menino”, diz reitor da USP

João Grandino Rodas fala sobre o assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, que ocorreu no câmpus na última quarta (18)

Por Daniel Bergamasco
Atualizado em 5 dez 2016, 18h05 - Publicado em 20 Maio 2011, 16h28
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  • O assassinato de Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, estudante da Faculdade de Economia e Administração da USP, na última quarta (18), reacendeu uma velha polêmica na instituição. A Cidade Universitária deve permitir a presença da Polícia Militar e, assim, combater com maior rigor os casos de roubo, furto e sequestro relâmpago dentro do campus? O reitor João Grandino Rodas falou a VEJA SÃO PAULO sobre o tema e disse que “toda a universidade se torna responsável pela morte do Felipe” ao colocar a defesa da livre circulação no câmpus acima das preocupações de segurança.

    + Opine: o que você acha de haver policiamento na USP?

    VEJA SÃO PAULO – O senhor apoia a presença da PM no câmpus?
    JOÃO GRANDINO RODAS –
    Não falo em “PM no câmpus”, mas em “blitz preventiva”. A USP tem 400.000 metros quadrados. É praticamente um bairro, sem impedimento de circulação. Nossa fronteira é bastante porosa, e sabemos que as pessoas não entram apenas pelos acessos principais. Só a polícia tem de fato o poder de polícia, de prender, de dissolver um crime antes que ele aconteça. Mas os grupos ativistas, que são pequenos e barulhentos, transformam o câmpus num lugar favorável a ações criminosas ao serem contra a polícia, em nome de uma ideia de território livre. Mas repito: eu não defendo “PM no câmpus”, mas “blitz preventiva”.

    VEJA SÃO PAULO – Qual é a diferença?
    JOÃO GRANDINO RODAS –
    Muita gente imagina que a polícia vai atrapalhar a manifestação de movimentos sindicais, prejudicar a livre expressão, mas não é isso. A reitoria não vai fazer isso e pode assumir esse compromisso. É uma ronda com a missão específica de combater o crime. Aí estudantes vêm e defendem o aumento da guarda do câmpus: “Ah, vamos aumentar de 100 homens para 200.” Isso não adianta nada. Eles não andam armados, não têm poder de polícia. Quem vai ter medo de um guarda desse? E olha que eles não estão escondidos, estão por toda parte. Ontem, um deles chegou segundos após o disparo do tiro. Mas e daí? Adiantou alguma coisa? O câmpus virou terra de ninguém.

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    VEJA SÃO PAULO – Qual é a dificuldade de implantação das blitze?
    JOÃO GRANDINO RODAS –
    A comissão de segurança do campus é antiga, e o reitor não participa. Para mim, o fato de termos pequenos grupos de ativistas para quem falar da polícia é falar do diabo fez com que o conselho, nesses anos todos, achasse que o policiamento não é bom para a universidade. Você vê: houve uma reunião de 300 alunos com o Centro Acadêmico, muita discussão, e aí chega uma carta para mim que pede providências, mas não cita uma linha sobre proteção policial. Mesmo no calor do momento, em que o garoto nem foi enterrado, fica esse pensamento longínquo, de que a polícia faria o câmpus deixar de ser um território livre. Tenho o maior carinho pelos alunos, mas a turma toda que protesta, não toca em pontos cruciais em sua carta, e depois vai comodamente para suas casas. Amanhã, todo mundo já esqueceu da morte dele. Daqui a pouco, vai morrer outro. Aqui é a terra da demagogia.

    VEJA SÃO PAULO – O senhor está querendo dizer que, de alguma forma, os alunos são culpados pela violência?
    JOÃO GRANDINO RODAS –
    A culpa é de toda a universidade, que deixa pequenos grupos pautarem essa discussão sobre segurança de forma distorcida. Nós todos matamos esse menino. Prefere-se correr o risco da violência a ser considerado direitista. E aí o rapaz foi morto com um tiro! Imagine: nós recebemos alunos de 18 anos, de 19, e alguns até menores de idade, para um ambiente assim, onde essas coisas estão acontecendo. Um pai pode pensar: melhor meu filho estudar em uma universidade fraca e mais segura. E dá para entender [esse raciocínio].

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