Nas últimas décadas, os projetistas de carros gastaram um bom tempo para suavizar as linhas de vários modelos, de modo a torná-los mais bonitos e aerodinâmicos. Com isso, deixaram para trás toda uma geração de veículos de estilo “caixote”. Para a maior parte dos motoristas, a evolução foi muitíssimo bem-vinda. Mas, como o sentimento saudosista pode extrapolar qualquer limite da razão, um grupo de pessoas ainda suspira ao ver nas ruas em bom estado de conservação peças de museu como Brasília ou as versões mais antigas do Gol e da Parati.
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Essa turma se reúne mensalmente no estacionamento do Osasco Plaza Shopping para exibir suas antiguidades, trocar histórias e relembrar os bons tempos em que as avenidas não eram infestadas por máquinas asiáticas arredondadas. “Tem muita gente que acha um Fiat 147 muito mais charmoso e interessante que qualquer coisa atual”, diz o empresário José Luis Lima, de 43 anos, proprietário de um Voyage 1986 e fundador do Encontro dos Quadrados, como a confraria ficou conhecida.
O caso demonstra como há lugar para tudo no universo de clubes de colecionadores de automóveis. Em São Paulo, acontece uma série de encontros de aficionados de objetos de paixão curiosos. No Anhembi, dezenas de malucos por uma antiga criação italiana se reúne nas noites de terça-feira para mostrar que a onda dos microcarros não foi inventada por montadoras como a Mercedes-Benz, que trouxe ao mercado peças como o Smart para dar uma resposta às pressões dos ambientalistas. O objeto de adoração é o Isetta, minúsculo veículo lançado no início da década de 50 na Europa. Na época de sua chegada ao mercado, o motivo para reduzir o tamanho era a escassez de recursos dos tempos da crise do pós-guerra.
O carrinho foi fabricado no Brasil entre 1956 e 1961. Aqui, ficou conhecido como Romi-Isetta, pois ganhou o mesmo prefixo da montadora responsável por sua produção em território nacional. Embora tenha sido curta a trajetória, foi suficiente para arrebanhar fãs. “Eles chamam muita atenção”, afirma o aposentado João Carlos Bajesteiro, de 68 anos, proprietário de um modelo. Na contramão de gente como ele está a turma do V/8 & Companhia, que paga tributo no primeiro domingo de cada mês na Estação da Luz, no centro, entre outros carros, às velhas e possantes banheiras, como o Studebaker, um clássico americano. “Tenho treze na minha garagem”, orgulha-se o colecionador Mário Ferretti, de 65 anos.
Nas reuniões dessas confrarias, além de exibirem suas raridades, os aficionados gastam uma boa parte do tempo atrás de peças capazes de manter suas máquinas rodando, sem mudar as características originais. Considerando a avançada idade de alguns modelos, é um autêntico trabalho de arqueologia mecânica. No Encontro dos Quadrados, uma das atrações é o Passat 1974 marrom do comerciante Marcos Gebrin, de 32 anos, cinco a menos que seu carro. Ele arrematou a joia por 9.600 reais. Para deixá-la impecável, calcula ter gasto 22.000 reais. “Esse negócio não tem preço para mim”, afirma Gebrin, que ainda desembolsa por mês 1.500 reais na manutenção do veículo. Os cuidados são quase intermináveis. A ida até o lava-rápido, por exemplo, é feita em cima de um guincho. Rodar pela cidade só mesmo em ocasiões de gala, como o fim de semana dedicado ao desfile no Osasco Plaza Shopping.