A infanta da Espanha, Elena de Borbón, primogênita do rei Juan Carlos, almoçou há um mês numa das cinco mesas da foto acima. Com oito lugares cada uma, ocupam o 22º andar de um prédio chique no Brooklin, onde é possível comer e apreciar a vista do Palácio dos Bandeirantes e as árvores da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, no Morumbi. O maître, Osvaldo Correia de Araújo, que trabalhou com o chef Alex Atala, não descuida dos detalhes, sejam as flores vermelhas, sejam os guardanapos zelosamente dobrados. Poderia ser algum novo point gastronômico. Tratase, na verdade, do restaurante montado pela seguradora Mapfre para receber visitantes ilustres. “Gastávamos tempo demais com trânsito e muito dinheiro com contas nos encontros de negócios fora”, afi rma Antonio Cássio dos Santos, presidente da empresa no Brasil, que faz suas refeições ali. A economia é tanta que dá até para servir vinhos chilenos que custam 390 reais, sem sair no prejuízo. “Agora nem preciso marcar compromissos com meus diretores, pois sei que os verei aqui.”
Charutos especiais, adegas muito bem recheadas, vista panorâmica, cristais importados, chefs de currículo invejável e outros itens de luxo chegaram com tudo ao mundo corporativo. Que fi que bem claro: a maioria dos funcionários nem sequer pisa nesses ambientes, restritos aos executivos. A Globo contratou neste ano o premiado piemontês Massimo Ferrari para cuidar do restaurante da diretoria. Na Fiesp, o maior luxo é a vista da Avenida Paulista — além do charme do bar, equipado com umidifi cador de charutos. No quesito vinhos, o grupo Rosset, de Ivo Rosset, tem reputação entre os empresários de reunir o acervo com mais rótulos caros e exclusivos. Quando se trata do design da adega, porém, nada impressiona mais do que a da Rede TV!, na sede tinindo de nova que acaba de ser inaugurada, em Osasco. Redonda, de vidro, com temperatura controlada em exatos e constantes 16,2 graus, virou o xodó de Amilcare Dallevo Junior, um dos sócios, que desenhou o espaço após se desentender com todos os fabricantes que tentou contratar.
Nenhum conseguiu deixar o projeto exatamente do jeito que ele imaginava. O menu também faz jus à inventividade do dono do pedaço. Sua empresa de tecnologia, a Tecnet, desenvolveu um software com as fichas técnicas de cada rótulo, indicando safra, origem e harmonização. Os convidados escolhem o que vão beber num computador portátil — cada garrafa custa entre 300 e 700 reais. Degustam tintos, brancos e rosés em taças de cristal austríaco Riedel, num dos 56 lugares, divididos em quatro salas onde se realizam almoços de trabalho. Ali, há paredes de vidro voltadas para um pequeno bosque interno. “Sinto como se recebesse em casa. Até minhas fi lhas agora jantam comigo aqui”, diz Dallevo. Quem cuida da cozinha é Francisco Everaldo da Silva, ex-Antiquarius e A Bela Sintra, o que explica a predominância de receitas portuguesas no cardápio. Há ocasiões, porém, em que o sócio e vice-presidente do canal, Marcelo de Carvalho, assume as panelas e prepara massas, sua especialidade. “Uso receitas que minha mulher evita comer para não engordar”, conta ele sobre a “patroa”, a apresentadora Luciana Gimenez.
Como qualquer situação que envolva convívio social, o luxo corporativo desenvolveu regras próprias de etiqueta. A mais importante de todas estabelece que, ao receber convidados, uma empresa não pode deixar que dois concorrentes se encontrem. O caso da italiana Safilo, fabricante de óculos das grifes Armani, Gucci, Dior, Marc Jacobs e Balenciaga, é bem peculiar. Sua fi lial paulistana, na Vila Madalena, recebe durante o ano representantes de 30 000 óticas e butiques de todo o país — alguns deles, rivais numa mesma cidade ou praça. “Se um vê o outro fechando negócio, fica com um ciúme danado”, afi rma Renis Gabriel Filho, diretor executivo da marca no Brasil. “O problema é que os clientes gostam tanto de nosso espaço que às vezes aparecem sem agendar.” A área social dali não foi criada para abrigar almoços, mas para receber clientes que ficam pelo menos quatro horas seguidas enfurnados, escolhendo o que levar de um rol de 10.000 modelos, que serão vendidos ao público consumidor por preços que vão de 200 a 5 000 reais.
Como um shopping, a empresa não tem janelas. Perde-se facilmente a noção da hora. Há referência aos materiais dos óculos por toda parte, seguindo a linha do museu da Safilo, na Itália: as pias dos lavabos são de acetato e a escadaria, de vidro. Para o dia ficar mais agradável, DJs cuidam da trilha sonora, em uma mesa de som superequipada. Num bufê, alinham-se canapés com toques asiáticos, docinhos e champanhe. O maior luxo, porém, é a personalização. Cada comprador tem uma ficha (chamada de “facebook”) com suas características: preferências
alimentares, humor, hobbies, últimas compras e especifi cações das lojas. Uma massagista fica à disposição, para quem quiser relaxar antes de tomar decisões
importantes. “Não vendo óculos, vendo conceito”, diz o diretor Gabriel Filho. Donos de redes de lojas levam mais de 20 000 peças, ops, conceitos em um único dia. A Safilo retribui, oferecendo mimos: água, bala e ímã customizados, além de uma panelinha com brigadeiro de colher e outros agrados. No fim, os clientes recebem, discretamente, presentinhos poderosos, como um perfume Marc Jacobs dentro de uma bolsa de edição limitada Emporio Armani.