O deputado federal mais votado em 2014, com mais de 1,5 milhão de votos, e apresentador do quadro Patrulha do Consumidor, na Record, Celso Russomanno, do PRB, recebeu uma boa e uma má notícia na terça (21). O motivo para festa: segundo pesquisa eleitoral divulgada pelo Ibope Inteligência, ele ocupa de forma isolada, com 26% das intenções de voto, a liderança da corrida à prefeitura da cidade. O balde de água fria veio em forma de uma reportagem sobre os detalhes de uma delação premiada no âmbito da Lava-Jato.
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De acordo com o denunciante, o ex-deputado Pedro Corrêa (PP), Russomanno teria se beneficiado do mensalão, recebendo regularmente remessas de dinheiro entre 2003 e 2011. “É mentira, saí do PP em 2011 justamente por causa desse esquema de corrupção”, diz o acusado. “Ninguém vai jogar meu nome na lama.” Ele pretende entrar com processos nas esferas cível e criminal, e com uma ação no Ministério Público do Paraná contra Corrêa. “Esse cara vai ter de provar tudo senão quiser ficar na cadeia e pagar uma baita indenização”, ameaça.
No levantamento do Ibope, bem abaixo de Russomanno aparecem quatro candidatos empatados dentro da margem de erro de quatro pontos porcentuais. Marta Suplicy, do PMDB, é mencionada por 10% das pessoas consultadas. Na sequência, vêm Luiza Erundina, do PSOL (8%), o atual prefeito Fernando Haddad, do PT (7%), e João Doria, do PSDB (6%). Os brancos e nulos somam 21%. A análise foi encomendada pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região. As entrevistas com 602 paulistanos ocorreram entre 16 e 19 de junho.
Além do equilíbrio entre esses concorrentes, as fragilidades do líder tornam a eleição municipal, com o primeiro turno marcado para daqui a três meses, uma das mais imprevisíveis dos últimos tempos. Antes da recente denúncia do mensalão, Russomanno tinha muito com que se preocupar. Ele corre o risco de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e de ter a candidatura inviabilizada por um fantasma do passado.
Trata-se de uma condenação por peculato da Justiça Federal, em 2014, com pena de prisão de dois anos e dois meses. De acordo com a sentença, entre 1997 e 2001, uma funcionária tinha seu salário pago pela Câmara, mas trabalhava de fato na produtora do político. “O juiz interpretou errado: ela só assinou um documento na minha empresa, mas não dava expediente lá”, alega. O deputado apelou para o Supremo Tribunal Federal e, em caso de uma nova condenação, ficará impedido de prosseguir na disputa pela prefeitura. O processo aguarda julgamento da ministra Cármen Lúcia.
Apesar dos problemas, Russomanno exibe uma taxa de rejeição mais baixa que a de seus principais adversários: 22%. “Neste momento, as pessoas estão desconfiadas de todos os nomes”, acredita o cientista político Rubens Figueiredo. “Querem alguém que cuide delas e as defenda, imagem passada pelo apresentador.”
Nas eleições municipais de 2012, Russomanno exibia 35% das intenções de voto e seguiu boa parte da corrida na pole position. Mas despencou catorze pontos nas últimas duas semanas e perdeu a vaga no segundo turno para José Serra (30,7% dos votos) e Fernando Haddad (28,9%). “Até hoje acho isso estranho, mas tive pouco tempo na televisão e os demais candidatos me bombardearam”, reclama.
No campo da rejeição aos postulantes atuais, Haddad é o que se vê em pior situação. Quase metade dos entrevistados declarou que não cravaria seu nome na urna. O vínculo ao PT, a legenda mais envolvida nas denúncias da Lava-Jato, não ajuda, é claro. Além disso, contam pontos negativos as promessas não cumpridas em áreas importantes como saúde e educação.
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Mesmo projetos concebidos para ser as vitrines de sua gestão dividem os paulistanos. Suas ciclovias chegaram a receber 80% de aprovação em setembro de 2014. Com o passar do tempo, ficaram mais claros os erros de planejamento dessa política e os custos das obras, entre os mais caros do mundo. Hoje, os paulistanos estão bem divididos sobre essa questão (51% da população aprova a iniciativa, segundo o Ibope).
Marta Suplicy encontra-se em segundo lugar na lista dos “rejeitados”. Petista histórica, ela se filiou ao PMDB em setembro do ano passado. Para muitos eleitores, o movimento a deixou com a pecha de “traidora”. Além disso, seu partido atual vem ocupando, cada vez mais, um lugar de destaque nos escândalos trazidos à tona pela Lava-Jato. A ideia de escolher um nome novo para se contrapor ao desgaste atual dos políticos explica a gênese da candidatura do empresário João Doria.
Apadrinhado pelo governador Geraldo Alckmin, o tucano tem taxa de rejeição de 10% e espera crescer na disputa, à medida que seu nome fique mais conhecido entre os eleitores. Mas ele enfrenta uma forte oposição dentro do próprio partido, não apenas por ser um novato no ninho.
Nas prévias da legenda para a escolha do cabeça de chapa, dois caciques do PSDB, Alberto Goldman e José Aníbal, ingressaram com ação no diretório municipal da sigla acusando o empresário de propaganda ilegal e abuso de poder econômico. Ele acabou inocentado. No fim do mês passado, os dois políticos resolveram recorrer ao Ministério Público Eleitoral. O caso está sob investigação. Procurado por VEJA SÃO PAULO, Doria, através de seu advogado, negou as acusações.
RETRATO ATUALDA CORRIDA
O resultado da pesquisa Ibope Inteligência divulgada na semana passada
Celso Russomanno — 26%
Marta Suplicy — 10%
Luiza Erundina — 8%
Fernando Haddad — 7%
João Doria — 6%
Andrea Matarazzo — 4%
Marco Feliciano — 4%
Delegado Olim — 3%
Major Olímpio — 2%
Roberto Tripoli — 2%
Laércio Benko — 1%
Levy Fidelix — 1%