Diretor francês radicado na Suíça desde os 18 anos, Georges Gachot tem ligação afetiva e profissional com a MPB. Em 2005, esse documentarista lançou “Maria Bethânia — Música É Perfume” e agora se debruça sobre a carreira de outra grande cantora brasileira. Nana Caymmi em Rio Sonata segue a linha narrativa do trabalho anterior de Gachot. Trata-se de um registro carinhoso, sem polêmicas nem declarações ousadas, voltado, sobretudo, para os fãs de Nana Caymmi. Conforme aponta o título, o Rio de Janeiro aparece como pano de fundo, em cenas ora poéticas, ora displicentes.
Gachot conheceu Nana em 2004, quando gravava no Canecão o show “Brasileirinho” para o documentário de Bethânia. No camarim, flagrou as duas mais Miúcha improvisando a cappella “Vestido de Bolero”, de Dorival Caymmi. A deliciosa sequência foi aproveitada no novo filme. Mais nostálgicos, há outros momentos marcantes: a sua participação no festival da TV Record de 1967 defendendo a canção “Bom Dia”, a dobradinha com o piano de Tom Jobim em “Só Louco” e arrasando em” Atrás da Porta”, numa homenagem a Elis Regina em programa de 1997 da TV Globo.
Nana não é de meias palavras e diz que, embora fosse casada com Gilberto Gil nos anos 60, nunca entendeu a Tropicália. Sem modéstia, confessa: “adoro me ouvir cantando”. Gachot passa de raspão pela intimidade e pelas relações conjugais da biografada, detalhes que parecem pequenos diante de uma intérprete de fôlego, com uma potente extensão de voz. Seja em estúdio ou no palco, Nana traz um timbre único em interpretações quase sempre arrebatadoras, conforme demonstra nas marcantes versões para “Resposta ao Tempo”, “Não Se Esqueça de Mim” e “Sábado em Copacabana”, entre outras pérolas entoadas ao longo da projeção. Arrematam o bom programa as entrevistas de demais craques da música, a exemplo de Milton Nascimento, João Donato e Erasmo Carlos. Em tempo: na sexta (29), Nana festeja seu 70º aniversário.