Bruna Lombardi recauchuta no consultório dos Jardins, de tempos em tempos, a região dos olhos e a pele. Claudia Raia aparece por múltiplas razões, entre elas para estimular a produção de colágeno no rosto. Neymar pôs seus sagrados pés no local ao longo de oito meses em 2012 para combater o excesso de acne e manchas — os publicitários estavam se queixando de ser obrigados a fazer muitos retoques de Photoshop no visual do craque. Até mesmo quem aparentemente está com tudo em cima nas redes sociais faz visitas frequentes. Além dos agachamentos e dos suplementos, como o whey protein, o arsenal de Gabriela Pugliesi, quem diria, conta com aplicações de laser para tonificar o abdômen.
Ficar na sala de espera da clínica do dermatologista Jardis Volpe, nos Jardins, é como uma versão ao vivo de um programa de TV que cobre a vidadas celebridades. Há desde a fina flor de artistas da Rede Globo, incluindo nomes como Carolina Ferraz e Maitê Proença, até quem está a anos-luz de ser famosa de verdade, como a empresária Sylvia Design, que se veste de Mulher-Gato nas propagandas de TV de sua rede de lojas. Entre anônimos e celebridades, a clínica fatura 250 000 reais por mês, atendendo em média oitenta pacientes por dia.
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Filho de uma comerciante de roupas de grife e de um pecuarista com negócios em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Volpe ganhou fama, fortuna e a inveja da concorrência ao apostar forte em duas estratégias. A primeira delas envolveu o investimento em novíssimos tratamentos a laser para fins variados. Enquanto muitos colegas de profissão continuam fazendo dinheiro com a aplicação de toxina botulínica, o Botox, ele passou a importar máquinas de luz fracionada de países como Alemanha, Coreia do Sul e Estados Unidos. “Há dez anos, emprestei 85 000 reais da minha mãe para comprar meu primeiro aparelho”, lembra. “Paguei em seis meses.” Hoje, conta com um conjunto de vinte equipamentos do tipo que consumiu mais de 3 milhões de reais em investimento. Em paralelo, afirma ter reduzido bastante as aplicações de Botox. Há alguns anos, decidiu contratar uma psicóloga para ajudá-lo a demover sua clientela da vontade de aplicar a substância.
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Outra estratégia importante para torná-lo conhecido foi atender famosas, muitas delas com descontos e regalias. O tratamento para elas varia de 100% “na faixa” à cobrança apenas do valor de custo do procedimento. Em um mercado altamente competitivo — há 2 500 dermatologistas no Estado de São Paulo, metade deles na capital —, isso representou sucesso na certa. As estrelas começaram a se multiplicar rapidamente no endereço. Neymar, por exemplo, podia frequentar a clínica às 7 da manhã, horário em que o local normalmente está fechado. Maria Fernanda Cândido, que mantém o rosto impecável com a ajuda de alguns descontos, desenvolveu uma amizade com o médico e retribui os agrados. Foi presente dela a poltrona da sala de seu consultório: um modelo da marca americana Herman Miller. “O Jardis tem a mão leve. Não sugere que façamos coisas que não combinam com o nosso estilo”, elogia Claudia Raia, paciente há sete anos. “Uma conhecida me indicou, fui lá e gostei”, diz Regina Duarte. “Ele aplicou vitaminas no meu rosto, e o resultado ficou natural.” Freguesa do lugar há cinco anos, Zilú Camargo se tornou devota. “Eu tinha a pele inchada devido a problemas de rosácea, que são pequenos vasinhos na face”, conta. Nos anos 90, a ex do cantor Zezé Di Camargo também fez o preenchimento definitivo chamado de metacrilato. “O Jardis deixou a minha pele mais natural.”
Criado nos anos 60, o laser para fins estéticos passou a ser usado na metade dos anos 90. “No Brasil, começamos a utilizá-lo em 1997”, lembra Paulo Barbosa, dermatologista e coordenador do departamento de laser da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Mas os modelos mais antigos do equipamento tinham muitas limitações.” O tempo de recuperação, por exemplo, chegava a dois meses. De lá para cá, a grande revolução foi o lançamento do laser fracionado, em 2005, pelo médico americano Rox Anderson. Em intensidade variada, o feixe de luz passou a ser utilizado em regiões específicas. A parte que não foi “queimada” ajuda a recuperação da outra tratada, funcionando como um curativo biológico. Hoje, há aplicações em que a vermelhidão característica desaparece em menos de cinco horas.
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Uma das sensações do momento se chama criolipólise. A metodologia consiste em reduzir 22,5% da gordura do corpo. Com um cabeçote que emite temperatura média de zero a -10 graus, em regiões como flancos, barriga, braço e lado interno de coxa, o instrumento ataca as células gordurosas. Elas são destruídas e eliminadas pelo sistema linfático, sendo metabolizadas pelo fígado. O resultado promete aparecer após dois meses. O preço do procedimento vai de 2 000 a 20 000 reais. Fernanda Vasconcellos e Deborah Secco se submeteram à técnica. Outra novidade é o Voluderm, aparelho de 150 000 reais que “injeta calor” dentro da pele do rosto. Ele faz pequenas perfurações, aplica a radiofrequência e estimula o crescimento de ácido hialurônico natural. Sua função: preencher rugas e vincos. Cada sessão custa 1 500 reais. “O laser se popularizou tanto que muitos lugares compram máquinas ‘xingue-lingues’ da China e o resultado pode ser devastador”, alerta a dermatologista Luciana Conrado, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Enquanto o equipamento importado custa 250 000 reais, o genérico sai por 20 000 reais e não tem a aprovação da Anvisa. Corre no meio médico que alguns profissionais vão até o país asiático para trazer as geringonças na mala.
Apesar de ser um nome respeitado pelos colegas, Volpe enfrenta alguns problemas com o Conselho Regional de Medicina justamente por uma de suas armas: a frequência de celebridades no consultório e a propaganda que isso gera para o seu negócio. Ele foi enquadrado na Resolução 1974/2011, segundo a qual o médico não pode citar o nome de pacientes nem de aparelhos que utiliza. O motivo da norma seria combater a “mercantilização” da medicina. Hoje, há pelo menos cinco sindicâncias instauradas pelo CRM por esse motivo contra o especialista. Ele mesmo já foi chamado à entidade para dar explicações e defender-se. Uma condenação por esse artigo pode resultar até na cassação da licença. Mas é algo raríssimo de acontecer. Ligia Kogos e Adriana Vilarinho, duas das principais dermatologistas do país, também enfrentam problemas semelhantes. “Nos últimos cinco anos, foram abertas 1 343 sindicâncias do gênero”, conta Lavínio Nilton Camarim, responsável pela Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos do CRM. O departamento tem como missão manter a ordem no que diz respeito ao comportamento da classe. “Dessas sindicâncias, 626 foram arquivadas, 441 estão em análise e 276 já viraram processo.” Em 70% dos casos, são ações que envolvem dermatologistas e cirurgiões plásticos. “Nós, os profissionais dessa área, somos perseguidos”, queixa-se Volpe.
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Embora esteja do mesmo lado das colegas do ramo nos enfrentamentos com o CRM, a coisa muda de figura na disputa pelo mercado da cidade. Aí, é guerra de bisturi entre ele e as outras estrelas da área. Um dos pontos de discussão envolve os procedimentos mais usados nos consultórios. “Meu amor, não dá para comparar laser com Botox”, diz Ligia, a rainha da toxina botulínica no país. Na clínica dela, um casarão do começo do século XX instalado na Avenida Brasil, são feitas mais de 200 aplicações de Botox por mês ao preço de 1 760 reais cada uma. “O que Jardis faz é diferente do que eu faço. Sei do trabalho dele, mas realizamos coisas distintas.” Volpe não deixa barato. “As dermatologistas que só trabalham com Botox estão paradas no tempo”, rebate. “Ninguém quer uma mulher com cara de ‘Fofão’.” Outra concorrente, que optou por não se identificar, é mais ácida na avaliação de seu trabalho. “Conheço o Volpe de ver suas fotos ao lado de artistas, e só”, desdenha. O especialista não se abala com o comentário. “As famosas gostam do meu trabalho, e não peço para elas falarem nada”, jura.
Com um tom de voz tranquilo e um visual que demonstra uma queda por cintos Hermès, gravatas Louis Vuitton e ternos Tom Ford, Volpe parece o tipo de pessoa que foge de uma briga. Uma queda de braço, no entanto, faz parte de sua trajetória profissional e familiar. Ele e a irmã, a também médica Kátia Volpe, formaram uma dupla por um tempo. Ela tinha uma clínica em Campo Grande, enquanto Jardis tocava o dia a dia de outra em São Paulo. Ambos trabalhavam juntos, até que romperam a relação. “Minha irmã queria manter mais de um consultório, eu achava que isso iria interferir na qualidade do trabalho”, limita-se a dizer. Tempos depois, Kátia abriu uma clínica em São Paulo no bairro vizinho ao do irmão e começou a disputar clientela. Com isso, a guerra se acirrou. Desde 2010, os dois não se falam. Procurada pela reportagem, Kátia não quis dar entrevista. “Prefiro não comentar questões pessoais”, escreveu por e-mail.
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Embora tenha apenas 37 anos, Volpe faz de si próprio uma cobaia. A cada quinze dias, aplica laser no rosto, tanto para estimular a produção de células novas quanto para apagar a cicatriz na testa, resultado de um acidente de carro em Nova York, em 2013. Também diminuiu medidas da cintura ao congelar gorduras e fez aplicação de vitamina para prevenir a formação do chamado bigode chinês. Formado em medicina na USP, costuma passar dois meses do ano no exterior fazendo cursos, em faculdades como Harvard. Nas férias, quase sempre embarca para a Ásia. “Conheço o Butão, o Vietnã…”
Em seu apartamento de 190 metros quadrados, com vista panorâmica para o Parque do Ibirapuera, nos Jardins, há uma bandeja com algumas opções de uísque e vodca. Um Chivas 12 anos, por exemplo, é uma das únicas garrafas que não estão 100% cheias. “Por orientação do arquiteto, o Roberto Migotto, joguei fora um pouco do líquido para não ficar muito feio”, explica Volpe, que é abstêmio. Ele divide a casa com Nick, seu yorkshire de 2 anos. Assim como seu dono, o cachorro vive com uma dieta diferenciada, pois tem alergia a ração. Por isso, sua nutricionista (sim, o pet tem uma nutricionista) criou um cardápio que inclui peixe, cabrito e batata-doce. Volpe detesta balada, mas não costuma recusar convites para festas de suas pacientes, entre elas Adriane Galisteu e Maria Fernanda Cândido. No ano passado, comprou um apartamento em Miami, nos Estados Unidos, onde parte de sua clientela também tem imóveis. “Acho o local seguro, gosto de praia e encontro muitos amigos por lá”, afirma o vaidoso especialista na vaidade alheia.