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O Japão é aqui

Ao ouvir de um amigo que foi aberta no centro uma filial da Daiso, famosa loja japonesa de utilidades domésticas, fico entusiasmado. Preciso conhecê-la, penso. Em 2010 tive a sorte de viajar para o Japão, a trabalho. Voltei embevecido com a cultura daquele país, tanto a tradicional como a moderna. Nunca mais minha vida foi […]

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 15h41 - Publicado em 30 ago 2013, 16h57
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  • Ao ouvir de um amigo que foi aberta no centro uma filial da Daiso, famosa loja japonesa de utilidades domésticas, fico entusiasmado. Preciso conhecê-la, penso. Em 2010 tive a sorte de viajar para o Japão, a trabalho. Voltei embevecido com a cultura daquele país, tanto a tradicional como a moderna. Nunca mais minha vida foi a mesma. Tóquio é a prova de que uma metrópole gigantesca pode funcionar de modo suave. Mas as pequenas coisas nipônicas me atraem também. Os embrulhos. Os livros delicadamente encapados para ser lidos com discrição no metrô. As fantasias usadas pelos adeptos do cosplay em plena luz do dia.

    A Daiso fica no número 247 da Rua Direita. Pego a Linha Amarela do metrô, a mais novinha, e faço a transferência para a Vermelha na Estação República. Equivale a trocar de canal na televisão. Nesse caso, para um filme mais antigo, penso, ao deparar de repente com design, ventiladores e odores da década de 70 — e um amontoado de gente. No trajeto, levanta-se de imediato uma jovem espevitada e bonita para me oferecer o lugar reservado aos idosos e deficientes. Não é a reação que buscava ao colocar a gravata mais descolada de manhã. Agradeço a gentileza. Ainda não chegou a hora de aceitar a poltrona cinza, penso. A esperança, como se diz, é a última que morre.

    Paramos na Sé. Nesse mesmo ponto, uma colega minha atravessou certa vez o vagão de porta a porta sem conseguir parar, conta. Adoro essa história. Ao tentar entrar no trem, de um lado, ela foi carregada por um tsunami de passageiros até a porta do outro lado e depositada na plataforma da saída. Desço eu na Sé sem percalços. A emoção de subir até a praça ali no centro sempre me tira o fôlego. Hoje não é diferente. O local tem a mesma cara de 1980, quando cheguei à capital, com a diferença dos celulares — ubíquos. Naquele tempo só se falava pelo orelhão.

    Uma placa na porta do estabelecimento define a Daiso como “útil, econômica e original”. Um dos seus temas é o asseio pessoal. Vendem-se palitos para limpar os ouvidos (em cores fosforescentes!), pequenas tesouras com pentes minúsculos para cuidar das sobrancelhas, outras para cortar as unhas dos bebês, leques em dezenas de formatos, tradicionais e modernos, e ventiladores pessoais pequenos, com ventoinhas de 3 centímetros. Ouço um freguês comentar: “Só tranqueira”. É uma interpretação possível. Mas de alguém incapaz de reconhecer a beleza das pequenas coisas.

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    Existe ali uma busca de organização. Há suportes de aço para livros, cadernos quadriculados para receitas de culinária, sacolas lindas, caixinhas diversas e alfinetes coloridos para pendurar imagens na parede com estilo. Fascina a quantidade de produtos para apagar erros. Tintas corretivas, borrachas que exalam fragrâncias diversas, até de Coca-Cola. Quem teve uma ideia dessas? Como ninguém é de ferro, nem mesmo no Japão, vendem-se também fantasias, perucas e, veja que delícia, orelhas festivas. É um endereço original. Disso não tenho dúvida. O país, também. Provoca a curiosidade dos paulistanos desde pelo menos 1883. Naquele ano foi inaugurada a primeira loja com artigos orientais no centro de São Paulo (antes mesmo do marco inicial da imigração, a chegada do navio Kasato Maru ao Porto de Santos em 1908). Chamava-se Loja do Japão e surgiu por iniciativa de um português.

    email: matthew@abril.com.br

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