Um bichinho de estimação é muito mais do que um brinquedo que rola, pula, balança o rabo, dá a patinha. Ele requer trabalho — muito trabalho —, para desespero dos pais.
“Conviver com um animal ajuda a criança a se tornar independente e a se comunicar melhor”, afirma a psicóloga e veterinária Hannelore Fuchs. “A experiência ensina ainda qualidades como respeito ao próximo, responsabilidade e até solidariedade, caso a família opte pela adoção.”
Além dos benefícios à formação da personalidade dos pequenos, um pet pode colaborar para o desenvolvimento de habilidades das quais eles são carentes. Cães de raças ativas, como beagle e fox-paulistinha, são ótimos para estimular os sedentários a mexer o corpinho. Já os tranquilos, como poodle míni e golden retriever, contribuem para que a garotada hiperativa fique mais calma.
Tudo isso, porém, só acontece se a escolha for acertada. Afinal, nem todo bichinho é indicado para qualquer criança (veja os tipos abaixo). Se a combinação não der certo, o risco de que o novo companheiro traga prejuízos em vez de lucros é alto. Brutos até mesmo quando estão fazendo carinho, cães de grande porte não são seguros para quem tem menos de 3 anos.
Por outro lado, pets frágeis, como hamsters ou cachorros pequenos, não são indicados para quem está nessa faixa etária, quando as brincadeiras infantis é que podem machucar o animal. A regra geral é que, até os 7 anos, os pais devem supervisionar qualquer interação entre os filhos e os bichos.
Além de todos esses cuidados, é necessário pesar que, por mais comprometida que a criança seja com seu amigo, os cuidados para valer ficam por conta dos adultos. Por esse motivo, leve em consideração o espaço, o tempo e o dinheiro que a família tem disponíveis para o bicho. Verifique também as condições da loja ou da ONG de onde ele virá para garantir que não tenha sido maltratado nem seja fruto de tráfico, como ocorre no caso de aves, tartarugas e peixes.
Cachorro
(para todas as idades)
O cão é um dos animais que mais promovem interação com as crianças, sobretudo porque está sempre pedindo carinho e atenção. Isso faz com que os pequenos exercitem a capacidade de interpretar diversos tipos de linguagem. Ele também exige cuidados frequentes, como banhos, passeios e alimentação diária, o que ajuda a aguçar o senso de responsabilidade dos pequenos.
Vira-latas, beagles, cockers, boxers, golden retrievers e labradores são raças mais robustas e amigáveis e, por tal motivo, indicadas para todas as crianças, especialmente as mais jovens, na faixa dos 3 ou 4 anos. Já os animais que têm menos de 1,5 quilo, e portanto são muito frágeis, ou os de grande porte, como o dogue-alemão ou o fila, não são uma boa opção para crianças até essa idade.
Gato (para crianças a partir de 5 anos)
Costuma-se dizer que o felino é traiçoeiro. Não é verdade. Mas, ao contrário do cão, ele é mais autônomo e não atende tão facilmente aos comandos do homem. É exigente na relação com o dono e, por esse motivo, ajuda a criança a exercitar a capacidade de respeitar a vontade do outro.
Tal tarefa, no entanto, é complicada para os muito pequeninos, com menos de 5 anos. Os animais indicados para crianças são os persas, que têm temperamento dócil, e os vira-latas que viveram em gatis, onde aprendem a se socializar melhor.
Hamster
(para crianças a partir de 5 anos)
O ambiente em que vive esse simpático ratinho parece um miniparque de diversões. Por isso, observá-lo é um passatempo extremamente lúdico que exercita a concentração e a criatividade da garotada.
Embora ele seja mais indicado para quem tem acima de 5 anos, porque os menores podem machucar o animalzinho, a partir dos 2 anos meninos e meninas estão aptos a participar da brincadeira de assistir à rotina do hamster sem pegá-lo nas mãos. Aos 5 anos, então, as crianças já estão preparadas para ajudar os pais na tarefa de limpar a gaiola e, dois anos mais tarde, podem assumir o trabalho sozinhas.
Coelho (para crianças a partir de 4 anos)
Dócil e brincalhão, o coelho costuma atender aos chamados do homem, o que diverte muito a garotada. Além disso, tem uma vantagem muito conveniente para os pais: ele faz as necessidades em um lugar só, o que facilita e muito o seu cuidado, sobretudo em casas sem jardim e em apartamentos.
Aves (a partir de 1 ano e meio)
Periquitos e canários são as melhores aves para crianças por suas características pouco ariscas e bastante afetivas. A partir de 1 ano e meio, os pequenos já começam a interagir com eles. Observam seus movimentos, ficam atentos ao canto e, muitas vezes, emitem sons na tentativa de imitá-los.
Com essa idade, porém, eles ainda não estão aptos a pegar os passarinhos na mão ou dar comida a eles, o que só deve começar a partir dos 7 anos. Quem tem uma ave em casa pode aproveitar a oportunidade para dar aulas de ecologia aos filhos, ensinando que nem todo animal pode ser mantido em cativeiro. Apenas algumas espécies são criadas para tal, outras correm o risco de morrer se forem enjauladas.
Tartaruga, jabuti e cágado
(a partir dos 4 anos)
Esses animais são protegidos pelo Ibama. Por isso, tome o cuidado de adquiri-los em pet shops com autorização do órgão. Cágados e tartarugas de água doce exigem uma estrutura mais complexa. Precisam de um tanque ou aquário grande para nadar e também de um ambiente para tomar banho de sol.
Já o jabuti pode viver apenas num jardim e requer alimentos — frutas e legumes, em geral — só uma vez por dia. Todos eles vivem cerca de quarenta anos e, por serem pacatos, não apresentam grandes riscos no convívio com as crianças. O grande inconveniente é que interagem pouco, o que faz deles animais não muito interessantes.
Peixes
(a partir de 1 ano e meio)
Os peixes mais indicados são o plati e o beta, porque exigem cuidados muito simples. A água do aquário só precisa ser trocada a cada semana, e, em geral, o recipiente dispensa bombas de oxigênio ou substâncias químicas. A partir dos 5 anos, os pimpolhos podem auxiliar os pais nessas tarefas e também na de alimentar os peixinhos. Isso os ajuda a desenvolver o senso de responsabilidade e cuidado com o outro.
Fontes: César Ades, psicólogo dos institutos de Psicologia e de Estudos Avançados da USP; Denis Vieira de Andrade, zoólogo da Unesp; Hannelore Fuchs, psicóloga e veterinária; Maria de Fátima Martins, veterinária da USP; Marisa Solano, pedagoga e diretora do Instituto para Atividades, Terapias e Educação Assistida por Animais, de Campinas; Sabine Althausen Zanotello, psicóloga; Vanessa Verdade, herpetóloga da Universidade Federal do ABC.