Continua no 0 a 0 a disputa de São Paulo na Copa do Mundo de 2014. Após duas horas de reunião no Palácio dos Bandeirantes, na última quarta, o governador Alberto Goldman, o prefeito Gilberto Kassab, o secretário de Economia e Planejamento do estado, Francisco Luna, e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, saíram da sala com a expressão enigmática de quem está prestes a bater um pênalti. Diante de dezenas de jornalistas que aguardavam a tão esperada definição da jogada, Goldman brincou: “Nunca vi tanta gente aqui como hoje. Será que estamos definindo o futuro da humanidade?”. Nem os desígnios da raça humana nem o da cidade no Mundial. Para desapontamento dos paulistanos, a bola bateu na trave, e o corpo a corpo da cúpula paulista com Ricardo Teixeira terá de continuar numa próxima rodada. Um segundo encontro só deve ocorrer depois das eleições. Da entrevista coletiva, que não durou cinco minutos, extraiu-se a seguinte informação: todos os envolvidos querem que a abertura da Copa seja aqui, só não se sabe em que estádio.
Governo e prefeitura voltaram a defender o Morumbi. Pediram, inclusive, ao São Paulo Futebol Clube que enviasse novamente o projeto de reforma da arena — o sexto e último, avaliado em 250 milhões de reais. Sem sucesso. “O Morumbi está praticamente descartado”, disse o chefe de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva. “Não faz sentido rever o projeto porque o estádio não atende à qualidade que a Fifa quer para o espectador do mundo inteiro.” Segundo ele, nas várias plantas apresentadas, sempre faltava algum requisito. “Pedíamos terno e gravata, e eles vinham de terno, mas sem gravata”, comparou. De acordo com a CBF, São Paulo é a única das doze cidades-sede que ainda não tem projeto de estádio aprovado pela Fifa.
Enquanto isso, as outras candidatas a abrir a Copa de 2014, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, largaram na frente. No último dia 20, por exemplo, a licitação de reforma do Mané Garrincha foi aprovada. Planejada para 70 000 torcedores, a arena do Distrito Federal custará 694 milhões de reais e será erguida pelas construtoras Andrade Gutierrez e Via Engenharia. O Mineirão já iniciou a segunda etapa de suas obras, e o Maracanã, previsto para encerrar o Mundial, poderia muito bem abri-lo. Mas a Fifa e a CBF sabem que a abertura teria de se realizar em São Paulo, a maior e mais rica cidade brasileira. “A abertura concentra mais jornalistas, público e chefe de estados que o encerramento, e, por isso, precisamos da estrutura e da rede hoteleira de São Paulo”, afirma Paiva.
Sem o Morumbi, não resta nenhuma opção, ao menos já em pé, para sediar o início dos jogos. O novo Arena Palestra Itália prevê apenas 45 000 lugares. “Não pretendíamos receber a Copa e por isso não vamos mudar o projeto, mas sim adequá-lo a outras partidas”, avisa o diretor executivo do Palmeiras, Antonio Carlos Corcione. Tombado, o Pacaembu não teria, segundo especialistas, condições de se credenciar. A única saída, portanto, seria construir um novo estádio — em Pirituba, Itaquera ou mesmo na vizinha Guarulhos. Enquanto isso, o canteiro de obras no Morumbi não para. “Teremos 64 000 lugares e plenas condições de abrir a Copa”, garante José Francisco Manssur, advogado do São Paulo e membro do comitê que elabora a reforma do Morumbi. “O governo sabe disso e precisa usar sua autoridade para convencer a CBF a adotar critérios técnicos, e não políticos, nessa escolha.”