Morador do edifício Cadete Galvão, na Rua 24 de Maio, há uma década, o físico Décio Sunagawa, 49, tenta há anos, em vão, instalar a fibra óptica em seu apartamento para obter internet rápida. “As operadoras alegam que os dutos estão entupidos com fiação de telefones antigos”, lamenta. A construção, de 1928, tem a fachada e os elevadores tombados pelo Condephaat e pelo Conpresp, mas a parte interna poderia passar por obras. “No entanto, como são apenas dezesseis apartamentos, ninguém tem interesse em investir no condomínio.”
O diretor de arte Tomás Biagi Carvalho, 36, vive uma situação semelhante. “Vários técnicos vieram à minha casa, mas todos disseram a mesma coisa: falta infraestrutura ao imóvel para fazer a instalação do cabeamento”, conta ele, que se mudou há um ano dos Jardins para um edifício da década de 50 na Avenida São Luís. “Trabalho muito em casa e, nesse caso, preciso recorrer ao 4G do celular.”
A questão não é exclusiva dos condomínios de Sunagawa e Carvalho. Especialistas do setor estimam que há pelo menos 150 prédios residenciais e comerciais do centro, sobretudo os da República, nessas mesmas condições. “A região é a que mais concentra construções de cinquenta, sessenta anos atrás, que não foram projetadas para receber essa tecnologia. Muitas foram modernizadas internamente, mas algumas continuam desatualizadas e precisariam de grandes reformas”, avalia Marco Antonio Ramos de Almeida, vice-presidente da Associação Viva o Centro.
As regras da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não obrigam as prestadoras de serviços de telecomunicações a instalar cabos no interior dos edifícios. Os condomínios são os responsáveis por executar os reparos necessários para receber o cabeamento, ainda que isso possa ser negociado diretamente com as operadoras, para que elas façam o serviço. “Nesses empreendimentos, as tubulações geralmente já estão saturadas”, explica Basílio Perez, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), que representa o setor.
“Seria necessário contratar uma empresa de engenharia especializada em telecomunicações para refazer esse sistema, mas custa caro e nem todo condomínio está disposto a arcar com isso”, conclui. O preço varia segundo a estrutura de cada edifício, mas o serviço pode custar até 400 000 reais.
Uma alternativa à conexão a cabo é a internet sem fio. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel) mostra que o centro é uma das áreas mais bem servidas de antenas na capital. Só a República e a Sé somam, juntas, 163 estações de radiobase, equipamentos que fazem a ligação com as operadoras.
Ainda assim, o montante é insuficiente para atender a toda a população. “Considerando-se a quantidade de pessoas que migram para a região durante o dia, a trabalho, as torres não dão conta. Nesse período, a internet cai a toda hora, e, no comércio, as maquininhas de cobrança de cartões não funcionam direito”, comenta Lourenço Coelho, presidente da Abrintel. “Para resolver a questão, seria necessário triplicar o número de antenas.”
Operadoras como Vivo, TIM e NET reconhecem o problema da região central e afirmam que estudam soluções para ele. Em alguns casos, as próprias companhias acabam investindo na infraestrutura do condomínio, seja porque o custo-benefício compensa para as empresas (que poderão atender a várias unidades e reaver o dinheiro aplicado), seja porque o condomínio insiste muito para que isso aconteça.
Foi o caso do Copan, na Avenida Ipiranga. “Fiquei no pé da NET por dezesseis anos, e, no ano passado, a solicitação finalmente foi atendida. O condomínio passou por obras e o cabo chegou aqui”, comemora Affonso Celso de Oliveira, 78, síndico do local há 25 anos.