O empresário Renato Alves Rodrigues, de 39 anos, faz parte do clube de aficionados do Camaro, uma das mais lendárias criações já saídas da linha de montagem da Chevrolet. Em 2010, finalmente, o automóvel passou a ser importado pela fábrica para o Brasil. Rodrigues encomendou o seu no início deste ano, ao custo de 185.000 reais. Mal podia esperar para sentar-se no carrão branco, cutucar o acelerador e ouvir o barulho do possante motor de oito cilindros. Passados cinquenta dias da compra, porém, nada de o presente chegar. Para agilizar a entrega, a loja ofereceu-lhe um modelo equivalente, mas de cor preta. “Se eu não topasse a troca, correria o risco de ficar esperando ainda mais tempo”, afirma ele. Situações como essa são hoje muito comuns no mercado paulistano. De acordo com um levantamento realizado recentemente pela consultoria MSantos Publicidade com vinte das maiores concessionárias da cidade, a fila de espera para várias marcas de veículos zero-quilômetro varia de dois a três meses.
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Na relação dos produtos mais disputados figuram a versão Sporting do novo Uno (demora de 45 dias) e o Fox 1.6 (trinta dias). Mas o grosso da lista são veículos muito mais caros. Carros de outros países, com preços que rondam os seis dígitos, estão entre os que mais têm problemas de entrega. Quem se aventurar a comprar hoje, por exemplo, um Mitsubishi ASX, fabricado no Japão e avaliado em até 99.700 reais, só deverá receber as chaves do utilitário daqui a três meses. Um Hyundai ix35, vendido por aqui por preço similar e produzido na Coreia do Sul, leva cerca de dois meses para chegar. “O abastecimento não está acompanhando a demanda”, afirma o economista Ayrton Fontes, responsável pela pesquisa.
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Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), foram comercializados no ano passado na cidade mais de 363.000 carros novos — o que dá uma média de quase 1.000 vendas por dia. Mesmo batendo recordes seguidos, ano após ano, o negócio não dá sinais de que vá se desacelerar. A entidade que reúne as concessionárias brasileiras estima um crescimento de quase 6% para o mercado paulistano em 2011. Em consequência disso, as ruas estão ficando cada vez mais cheias — e as concessionárias, vazias. “A queda do dólar e a economia aquecida são os motores por trás desse fenômeno”, aponta Fontes. Nos últimos dois anos, estima-se que 600.000 brasileiros adquiriram um zero-quilômetro pela primeira vez. “Não foi apenas o poder de compra da classe C que aumentou recentemente, mas também o das fatias mais abastadas, que passaram a almejar veículos mais caros, importados ou não”, observa o economista.
Com duas lojas na capital, a concessionária Caltabiano Toyota recebe cinquenta pedidos por mês do imponente SUV RAV4, mas consegue entregar apenas vinte. “As pessoas estão trocando de veículo mais rapidamente”, diz Evaner Bertolini, diretor comercial da empresa. O problema se repete nas quatro unidades da Chevrolet Palazzo na capital. “Boa parte dos clientes acaba desistindo de fechar negócio conosco quando aviso que em alguns casos a espera poderá ultrapassar sessenta dias”, conta Silvana Arruda Coqueto, gerente de vendas do grupo.
A briga pelos modelos mais disputados não é vantajosa para os consumidores. “No cenário atual, o poder de barganha deles é praticamente nulo”, opina Leandro Radomile, diretor de vendas e marketing da Audi, cuja matriz fica na Alemanha. No primeiro semestre, as vendas de veículos da marca no país cresceram 47%, o que resultou em filas de até quatro meses. “Equacionamos parte da produção, mas a espera para alguns de nossos esportivos ainda é grande”, admite ele.