Por volta das 8 horas da manhã, vestido com seu uniforme cáqui, o comandante Hamilton Alves da Rocha, de 54 anos, sobe no helicóptero Robinson 44, avaliado em 1,7 milhão de dólares, para decolar. Ele gira a chave no painel de controle e aperta o botão de partida. Depois de esperar o aquecimento do motor por cinco minutos, decola do hangar localizado em Carapicuíba, na região metropolitana, para sobrevoar a Grande São Paulo sem um destino certo.
Entre segunda e sexta, ele passa no ar cerca de seis horas por dia, percorrendo todas as regiões da cidade em busca de congestionamentos, enchentes, tiroteios e perseguições policiais. Os flagrantes são exibidos ao vivo em rede nacional. Em geral, o que interessa para ele lá de cima é objeto de encrenca para quem está aqui embaixo. Para fazer os registros, sua aeronave é equipada com três câmeras de alta definição, além de um sistema capaz de aumentar quarenta vezes um objeto captado no solo. Com isso, ele consegue visualizar a placa de um carro a uma distância de 150 metros do chão, ao mesmo tempo que se desloca a uma velocidade de até 200 quilômetros por hora. “Funciono como uma redação jornalística móvel, por isso sou interessante para as emissoras”, afirma Hamilton.
Na semana passada, ele assinou um contrato de três anos com a Rede Record. Era para o comandante ter ido ao lado do chapa José Luiz Datena, que, bem ao seu estilo exagerado, costuma classificar o agora ex-colega de “o maior repórter aéreo do mundo”. A dupla fez parceria durante quatro anos no programa Brasil Urgente, da Band. Em abril, no entanto, Datena foi sondado para retornar à Rede Record, onde começou a burilar seu estilo policialesco, no fim dos anos 90, com o Cidade Alerta. Mas eis que a Band fez uma contraproposta e conseguiu segurar a maior estrela da casa. Datena ficou, Hamiltou partiu. “Temos a absoluta certeza de que contratamos o mais experiente profissional dessa área no Brasil”, acredita Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Record.
Além de ter mais de 10.000 horas de voo no currículo, o comandante-celebridade oferece um pacote de serviços. Ele é dono da empresa Helicóptero Digital, especializada em gravações aéreas, que tem duas aeronaves e uma equipe de seis profissionais — entre eles seu filho mais velho, Uan, de 26 anos. Isso quer dizer que, dos cerca de 200.000 reais por mês que vai receber da nova emissora, mais da metade estará comprometida para manter a estrutura. Em média, custa 1.500 reais uma hora de passeio a bordo de um helicóptero.
Filho único de uma família de lavradores mineiros da cidade de São Francisco, a 600 quilômetros de Belo Horizonte, Hamilton se mudou para São Paulo aos 6 anos de idade. Foi quando sua mãe, Amélia, contraiu a doença de Chagas, que ataca o coração. Ela se curou no Hospital das Clínicas e a família fixou residência na extinta favela Vergueiro, na Chácara Klabin. “Fiz colégio técnico de eletrônica e realizava bicos como vendedor de artesanato para pagar meu curso de pilotagem”, lembra. O esforço lhe rendeu o brevê, a carteira de habilitação para pilotar, aos 29 anos, em 1986.
Sua estreia na televisão aconteceu em 1994, quando começou a fazer reportagens aéreas no Domingo Legal, do SBT. Nunca mais, literalmente, saiu do ar. Em emissoras variadas, trabalhou com Sonia Abrão, Marcelo Rezende e Gugu Liberato. Pai de três filhos (além de Uan, tem Ian, 23 anos, e Vitor, 5 anos) e em seu segundo casamento, hoje ele vive com a família em Alphaville. “Hamilton é uma exceção, pois na maioria das vezes um jornalista fica sentado ao lado do piloto durante as transmissões”, diz Geraldo Nunes, que tem mais de 8.000 horas de voo ao longo dos vinte anos em que foi repórter aéreo da Rádio Eldorado. “Ele consegue desempenhar bem as duas funções e por isso vem se destacando.” E assim, no comando do helicóptero, do microfone e da câmera, o comandante Hamilton mostra uma São Paulo que nem os paulistanos conhecem.