A novela acabou. Em cartaz há quase dez anos, o “fecha não fecha” protagonizado pelo Cine Belas Artes parece chegar a seu derradeiro capítulo. Sem direito a final feliz. Foi anunciada para o dia 27 a última sessão no tradicional cinema da Rua da Consolação, quase na esquina com a Avenida Paulista.
Deixará saudade? Provavelmente não muita, se pensarmos nos atuais e bem equipados multiplex dos shopping centers e os compararmos com o desconforto do velho complexo, de labirínticos corredores e minúsculas salas claustrofóbicas no subsolo — a Carmen Miranda e a Mário de Andrade, com 97 e 88 lugares, respectivamente.
Ficará, sim, na lembrança e na memória afetiva dos cinéfilos por seu passado de glória, iniciado em 1967, quando deixou de ser o Cine Trianon para se tornar o Cine Belas Artes. De 1982 a 1985, pertenceu à distribuidora francesa Gaumont (foto). Foi lá, por exemplo, que fizeram tremendo sucesso fitas emblemáticas e hoje clássicas, como “Morte em Veneza” (1971), do italiano Luchino Visconti, “Corações e Mentes” (1974), do americano Peter Davis, “O Passageiro: Profissão Repórter” (1975), do italiano Michelangelo Antonioni, “Cría Cuervos” (1976), do espanhol Carlos Saura, e “A Lei do Desejo” (1987), do também espanhol Pedro Almodóvar.
Todas essas produções estarão em uma retrospectiva até o apagar definitivo das luzes do Belas Artes. É também a última chance de ver ou rever “Medos Privados em Lugares Públicos” (2006), campeão de longevidade. O belo drama do diretor francês Alain Resnais está em exibição ininterrupta desde julho de 2007 no cinema que agora sai de cena.
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