Na manhã desta terça-feira (24), a pesquisadora Carla Moraes chamava atenção na ciclovia da Rua Madre Cabrini, na Vila Mariana (Zona Sul). Com sua bicicleta a tiracolo, ela conversava com pais de alunos que estudam no Colégio Madre Cabrini sobre a ciclovia que passa em frente à escola e que se tornou motivo de uma disputa judicial com a prefeitura. “Quero que as pessoas me entendam. Tenho direito de pedalar e ir com segurança para o trabalho”, dizia para a mãe de um aluno.
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Na segunda-feira (23), após saber que a Justiça deu uma sentença favorável à escola e determinou que a administração municipal retire a ciclovia instalada em novembro, Carla escreveu uma carta na qual se apresentava e distribuiu a missiva na porta da escola. “Ninguém aqui é criminoso. A faixa existe para salvar vidas, não para tirar o direito de ninguém”, disse.
O pedido de retirada da ciclovia foi feito pela Associação Madre Cabrini das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus e acatado pela juíza Simone Viegas de Moraes Leme. “Causa espécie a colocação de ciclofaixa no local, eis que patente o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação em relação a potencial situação de risco à criança e aos adolescentes que frequentam o Colégio Madre Cabrini”, escreveu a magistrada.
“Não sou contra a faixa. Mas ela não aconteceu, amanheceu, não foi planejada. Não se tem educação de trânsito nenhuma nessa cidade para colocar isso aqui”, argumentou a estudante Raquel Fernandes, mãe de um aluno, à ciclista. De acordo com ela, logo na primeira semana de aula uma criança que chegava foi atropelada por uma bicicleta e teve de ir para o hospital.
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Para organizar a chegada dos alunos, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) pintou uma faixa azul ao lado da ciclovia, destinada apenas para o embarque e desembarque de passageiros. O porteiro João Capuchinho, que trabalha na escola, conta que foram contratadas mais três pessoas para ajudar no desembarque. Os pais param os carros e os funcionários abrem as portas e levam os alunos para dentro da escola. “Em dia de chuva, temos que carregar os meninos e as mochilas por causa da enxurrada”, diz.
Durante o protesto solitário de Carla, ciclistas que passavam eram repreendidos pelos pais por não descerem da bicicleta ao passarem pelo trecho da ciclovia que tem uma faixa de pedestre. “No primeiro dia, uma funcionária da CET mandava todos descerem, agora, eles passam aqui voando”, disse o funcionário público Élcio Helbe. “Não há nenhuma placa indicando isso”, respondia Carla.
Procurada, a Secretaria de Transportes informou que a prefeitura foi notificada e apresentará recurso. De acordo com a CET, os ciclistas não têm a obrigação de descer da bicicleta na parte sinalizada da ciclovia, mas devem dar preferência aos pedestres. O colégio não se manifestou oficialmente.