A primeira tentativa foi incentivar um “acordo social”, nas palavras do presidente da CET, Roberto Scaringella, entre motoristas e motoqueiros. Nos dois sentidos do corredor formado pelas avenidas Eusébio Matoso e Rebouças e pela Rua da Consolação, um dos mais movimentados (e congestionados) da capital, cada um respeitaria o próprio espaço. A chamada faixa cidadã, com losangos verdes pintados no asfalto, deveria ser usada preferencialmente pelas motos. Criada há um mês, a medida educativa não colou. Automóveis trafegam normalmente por ela e apenas 20% dos 1 500 motoqueiros que circulam por hora no corredor utilizam a tal faixa. O restante continua a costurar irresponsavelmente entre os carros, numa temerária convivência com os motoristas. Só no ano passado, 345 motociclistas morreram na cidade. Quase um por dia. Para amenizar essa estatística, a CET lança uma proposta ainda mais polêmica. A partir da segunda-feira 18, praticamente toda a extensão da Avenida Sumaré (veja o mapa abaixo) deverá ter uma pista exclusiva para as motos. Com 1,70 metro de largura, a motofaixa ficará junto ao canteiro central. A avenida continuará com a mesma quantidade de faixas para veículos (três ou quatro, dependendo do trecho). Elas, no entanto, serão encolhidas – passarão dos atuais 3 metros para 2,50 ou 2,80 metros. O motorista que invadir o corredor exclusivo dos motoqueiros será multado em 127 reais (infração considerada grave, com punição de 5 pontos na carteira de habilitação). O motoqueiro, no entanto, não terá obrigação de manter-se na faixa que ganhará de presente. Por se tratar de uma operação piloto, a avenida escolhida propositadamente tem movimento pequeno de motoqueiros, cerca de 300 por hora. Na 23 de Maio, por exemplo, passam 1 200 por hora. “Essa iniciativa é válida, positiva, mesmo em avenidas com pouca circulação de motos, como a Sumaré”, diz o engenheiro Jaime Waisman, especialista em transporte urbano. “É fundamental, entretanto, regulamentar a atividade do motofrete, com normas e fiscalização mais rígidas”, acrescenta. “Sabemos que mudar comportamento é difícil e demorado, por isso começaremos por um lugar mais tranqüilo para poder avaliar”, diz Scaringella. “Manteremos a experiência por seis meses e, se der certo, adotaremos em outras avenidas.” É ver para crer. Estima-se em 500 000 o número de motos em São Paulo, 10% da frota total de veículos. Os mortos em acidentes com motocicletas, entretanto, correspondem a 23% do total de vítimas na cidade. “Somos os maiores interessados em reduzir os acidentes”, afirma Aldemir Martins, do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas da Cidade de São Paulo. “Mas queremos soluções para avenidas que realmente representam perigo, caso das marginais, 23 de Maio, Radial Leste.” No mês passado, a entidade realizou uma pesquisa com 302 de seus associados. Adivinhem… Nada menos que 89% são contra a faixa cidadã da Rebouças e 90% aprovariam a criação de uma faixa exclusiva na 23 de Maio.