Em uma noite de 2005, dez clientes aguardavam as tortinhas de tupinambor (conhecido como alcachofra de Jerusalém) do estrelado Flipot, restaurante do Piemonte, na Itália. Na cozinha, clima tenso: era proibido errar, pois só havia a quantidade exata de ingredientes. No momento de retirar as iguarias do forno, porém, um estagiário derrubou a travessa. Levou uma bronca homérica do chef Walter Eynard. Uma década depois, o responsável pelo mico é quem passa sabão em aprendizes — e em rede nacional. Trata-se de Carlos Bertolazzi, de 45 anos, apresentador carrasco do Cozinha sob Pressão, do SBT. Na esteira dos reality shows culinários que viraram febre na TV, o programa da produtora FremantleMedia — inspirado no formato do inglês Hell’s Kitchen — estreou a primeira edição em outubro de 2014. Na ocasião, foi recebido em fogo brando, com ibope máximo de 5,3 pontos na Grande São Paulo, e ofuscado em repercussão pelo MasterChef, da Band. Na segunda temporada, cuja final acontece neste sábado (18), a volta por cima: sua melhor média ficou em 7,7, à frente da marca mais expressiva do concorrente (7,5). Avalia-se na emissora que a mudança de horário (das 18 horas para as 21h30) ajudou, mas a desenvoltura do apresentador se tornou o grande trunfo.
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Bertolazzi também está em fase agitada na vida pessoal: acaba de se separar da mãe de seus dois filhos, assunto que evita comentar. Criado nos Jardins, ele enfrentou, aos 9 anos, o divórcio dos pais, os empresários Alberto e Vera, e passou a se dividir entre dois lares. “Meu pai me levava ao Massimo (fechado em 2013) e ao Suntory (hoje Shintori). Aprendi a comer”. Estudou nos tradicionais colégios Miguel de Cervantes e Viscondede Porto Seguro e cursou administração na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Chegou a trabalhar no Banco Votorantim e teve uma empresa de e-commerce, mas logo começou a fazer bicos, em diversas tarefas, no bufê da mãe, o C.u.c.i.n.a, embolsando 100 reais por evento.
Em 2005, Bertolazzi decidiu estudar gastronomia no Italian Culinary Institute for Foreigners, na Itália. Além de ter trabalhado no Flipot, passou pelo Alto, em Nova York, e pelo Piazza Duomo, em Alba, na Itália. Também participou de um concurso culinário cujo prêmio era uma imersão de um mês na cozinha do lendário El Bulli, perto de Barcelona. Assim, em 2007, aos 37 anos, serviu na bancada de Ferran Adrià. De volta a São Paulo, montou em 2009 o Zena Caffé, nos Jardins, ao lado de três sócios. “Cada um se sentava a uma mesa para fingir que o lugar estava cheio”, diverte-se.
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Hoje, a TV ocupa mais a agenda do chef que o restaurante. “Ele se encontrou. A TV é a cara dele”, diz o amigo Benny Novak, dono do Ici Bistrô. Além de apresentar a própria atração, o paulistano circula por outros programas do SBT. Encarnou o cantor David Lee Roth, da banda Van Halen, no Máquina da Fama, e brincou de Jogo das Três Pistas com Silvio Santos. Das mãos do patrão, ganhou sete notas de 100 reais (guardou uma delas na carteira, como lembrança).
Com 107 000 seguidores no Instagram e 59 000 no Twitter, Bertolazzi dá opinião em pratos de fãs (“Bonito não está” foi um dos comentários) e fatura cada vez mais alto. Por quatro receitas de sanduíche que postou nas redes sociais, recebeu 25 000 reais de uma marca de pães. Nos últimos seis meses, fez publicidade de azeite português, queijo holandês, vinho chileno, filtro de café e distribuidora de gás. Com isso, ele mais do que dobra o cachê de 60 000 reais que ganha do SBT por temporada. Aos fãs, aliás, uma novidade: a terceira está confirmada pelo SBT, para o mês de outubro.
Durão com os competidores, também já fez gente chorar na cozinha do Zena e berrou tanto em um quiosque do festival Lollapalooza que um cozinheiro abandonou o serviço. Episódios pontuais, despistam os amigos. “Há outros bem mais carrascos”, observa Paulo Barros, do Italy. Dosar a tirania é o que busca a diretora do programa, Miloca Nagle. “No Brasil, o público não gosta de humilhação.”
Tiradas tiranas
As broncas que causaram furor na internet
“Vocês estão mais perdidos que camaleão na frente de arco-íris.” (Diante da confusão dosparticipantes na hora deservir os pratos)
“Esse prato está tão frio que daqui a pouco vai cantar Let It Go.” (Citando a música-tema do desenho Frozen, que se passa em terras nevadas)
“Parabéns, você errou duas vezes. Na terceira, pode pedir música.” (Para uma chef, em referência a uma brincadeira do Fantástico, da Globo