Desde o último dia 2, está mais complicado dirigir pelas ruas do bairro do Morumbi. Proibidos de circular das 5 às 21 horas na Marginal Pinheiros e nas avenidas dos Bandeirantes e Jornalista Roberto Marinho, muitos caminhões, em vez de seguir pelo Rodoanel, migraram para vias da região, afetando a vida de seus mais de 30 000 moradores. “Tive a sensação de dormir no Morumbi e acordar no Minhocão”, diz a comerciante Sílvia Telles, que, durante uma hora na última terça (21), fotografou mais de quarenta desses grandalhões na Avenida Giovanni Gronchi. “Faço viagens pelo bairro inteiro, e o trânsito está ruim por toda parte”, afirma Claudio Roberto Sousa, motorista de uma van escolar. “Fico preocupado com a segurança das crianças, pois as ruas daqui são muito estreitas.”
+ Saiba como fugir de engarrafamentos
Os caminhões vêm usando avenidas como a Morumbi, a Jorge João Saad e a Guilherme Dumont Villares para acessar a Ponte João Dias, que fica fora da Zona Máxima de Restrição a Circulação. “Essas vias são inapropriadas para veículos pesados”, diz o engenheiro Sergio Ejzenberg, especialista em tráfego. “Se houver um acidente com uma carga tóxica, será impossível evacuar a área em menos de 72 horas.” No fim da tarde do dia 16, mais de 25 caminhões congestionavam a Avenida Padre Lebret, na altura do número 700. Transportavam combustíveis, contêineres e máquinas. “Os clientes reclamam do barulho, da poeira e dos congestionamentos”, afirma Valtonivan Moreira, gerente de um restaurante próximo ao Estádio do Morumbi.
Para a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a restrição é positiva, ainda que existam efeitos colaterais. A empresa estima que, dos 250 000 veículos pesados que trafegavam pelo centro expandido, cerca de 80% deixaram o trânsito da capital. O secretário municipal de Transportes, Marcelo Cardinale Branco, anunciou na semana passada que pretende aumentar a área de proibição a cargas pesadas. E o Morumbi estaria entre as regiões beneficiadas. Até a última quinta, no entanto, não havia uma definição de quando a medida entrará em vigor. Mas o problema só deve mudar de lugar. Segundo o engenheiro Flamínio Fichmann, especializado em transporte, os caminhões vão continuar a trafegar por áreas de densidade residencial na Zona Sul, por meio de acessos alternativos nos bairros de Santo Amaro e Campo Limpo. “A medida é um improviso, porque a CET não tem condições de realizar uma fiscalização focada nos veículos que estão aqui de passagem”, afirma ele. Fichmann acredita que o controle de caminhões que passam por São Paulo com destino a outras cidades deveria ser feito por mecanismos eletrônicos, capazes de identificar a placa dos veículos. “Só vamos trocar esse fluxo de um bairro de classe alta para bairros mais carentes.”
Outro especialista, o engenheiro Alexandre Zum Winkel critica o vaivém nas decisões da prefeitura em relação às medidas para regular o trânsito. Para ele, isso ocorre por falta de uma estrutura capaz de prever o impacto de qualquer mudança. A administração municipal precisaria também de um departamento voltado para o controle de cargas. “Não dá para imaginar que uma das maiores cidades do mundo careça de um órgão específico para esse fim.” Apesar do histórico de reviravoltas em suas decisões, a diretoria da CET afirma que dispõe de softwares matemáticos de previsão e acompanhamento de fluxo — e que tem condições, sim, de regular o transporte de cargas na capital. A companhia não dispõe, entretanto, de nenhum cadastro ou levantamento das transportadoras que circulam por nossas ruas.
Além de se queixarem do custo do pedágio, motoristas e donos de caminhões alegam que, em determinados trajetos, utilizar o Rodoanel aumenta em até duas horas o tempo das viagens. Por isso, optam por congestionar os bairros. Onze associações que reúnem moradores do Morumbi reivindicam junto à prefeitura o fim das restrições. Elas pedem a volta do fluxo para a Marginal Pinheiros e para a Avenida dos Bandeirantes. “Essas são as únicas vias com condições de receber movimento pesado na região”, afirma o empresário Paulo Uehara, representante do grupo. “Uma solução seria permitir esse tráfego entre os horários do rodízio de carros, das 10 às 17 horas.”
NÚMEROS DA RESTRIÇÃO
250 000 caminhões pesados trafegavam pelo centro expandido de São Paulo
80% desses veículos deixaram o trânsito da cidade após as proibições, segundo cálculos da CET
32% é quanto caiu a lentidão média diária da cidade, em comparação ao mesmo período do ano passado, depois de adotadas as medidas
85,13 reais é a multa para quem for flagrado dentro da área de restrição, mais 4 pontos na carteira de habilitação