Em 2005, o livro “O Doce Veneno do Escorpião” ainda era um texto não acabado no computador do jornalista Jorge Tarquini quando o diretor Marcus Baldini leu em primeira mão a história de Raquel Pacheco, a menina de classe média que deixou a casa dos pais para se prostituir, adotando o nome de Bruna Surfistinha. “Naquela época, ela só era famosa por seu apimentado blog erótico. Por trás do sexo, porém, havia a história de uma pessoa sincera tentando se reajustar a uma outra vida. Por isso, resolvi comprar os direitos”, conta Baldini. Até então sem nenhum filme no currículo, o aspirante a cineasta desembolsou 60.000 reais para pagar à Editora Panda Books, que mais tarde venderia cerca de 275.000 exemplares do best-seller, e se lançou à batalha pela produção.
+ “Bruna Surfistinha”: saiba tudo sobre o doce veneno do escorpião
Apesar da autorização do Ministério da Cultura para captar recursos por lei de incentivo fiscal, nenhum patrocinador apareceu. “As empresas não queriam associar seu nome a uma garota de programa. Até uma fábrica de camisinhas se recusou a financiar o filme”. O orçamento de 6 milhões de reais se resolveu com a entrada de investidores como Telecine e Imagem Filmes.
Passados seis anos, Baldini colhe os resultados da aposta certeira. O longa “Bruna Surfistinha” estreou em 25 de fevereiro e passa dos 2 milhões de espectadores, o que o coloca entre os campeões do ano (veja o quadro abaixo). O sucesso na bilheteria rendeu aos produtores uma receita de 19 milhões de reais, que representa um retorno superior a 200% sobre o capital investido. Os críticos, em sua maioria, reagiram bem à transposição do livro para o cinema. “Para um primeiro filme, e com um assunto tão difícil, Baldini se saiu muito bem”, aponta o especialista Rubens Ewald Filho.
Nascido há 36 anos no bairro da Vila Mariana, Baldini vem de uma família de médicos. Como no início da década de 90 a carreira de cineasta era uma opção ainda mais arriscada do que é hoje, escolheu o curso de rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes (ECA), na USP. Aos 21 anos, chegou à MTV como estagiário. Seu trabalho na emissora do bairro do Sumaré era editar as chamadas da programação.
Dali, Baldini partiu para o mercado publicitário e se tornou rapidamente um profissional requisitado. Contabiliza, até hoje, a direção de cerca de 500 comerciais. Comandou também videoclipes para as bandas Tihuana e Falamansa. Faltava algo, porém, em sua trajetória. “Pensava num trabalho que unisse a música, a fotografia e a interpretação”, diz ele. O cinema acabou sendo um caminho natural.
A principal dificuldade no início da produção de “Bruna Surfistinha” foi justamente encontrar a protagonista certa. Foram feitos testes com várias atrizes, mas nenhuma delas agradou. Quando os produtores sugeriram o nome de Deborah Secco, Baldini se mostrou um pouco receoso. “Achava a imagem da atriz sexy demais para o papel”, afirma. O diretor conta que o martelo só foi batido quatro meses antes das filmagens. “Tivemos uma conversa e Deborah me convenceu dizendo que via Bruna não pelo lado exuberante e sensual, e sim pela vida dramática da personagem”, lembra.
Casado com a publicitária Michele Matsumoto, esse corintiano é pai de um menino de 6 anos, fruto de seu relacionamento com a cantora Maria Rita. A família comemora o sucesso do cineasta. “Minha mãe disse que o filme é educativo e meu avô falou que os seios da Deborah eram os mais lindos que ele já tinha visto”, diverte-se o diretor.
O sucesso, garante ele, não mudou em nada seu estilo de vida. Maratonista com sola gasta em competições nas ruas de Paris e Nova York, Baldini é morador do Alto de Pinheiros e cliente dos restaurantes da Vila Madalena, bairro onde toca sua produtora, a Damasco Filmes. Depois do êxito na estreia, agora trabalha na adaptação do livro “Sonho Verde”, de Fábio Lamachia Carvalho, sobre um paulistano que vai para o garimpo na Chapada Diamantina.