Coisas caem do céu o tempo inteiro nos espetáculos infantis do italiano radicado no Brasil Billy Bond. Chuva de pétalas, papel picado e bolhas de sabão, além do uso de telões, ventiladores e pirotecnia, compõem o arsenal poderoso de efeitos especiais que costumam embasbacar crianças — e nem sempre agradar à crítica especializada. “Podem me chamar de extravagante. O que eu quero é fazer um show que respeite e divirta toda a família”, diz o diretor, de 73 anos.
Depois de quase quinze anos dedicado exclusivamente ao público mirim, ele se prepara para a estreia do espetáculo adulto Um Dia na Broadway, prevista para 5 de outubro, no Teatro Bradesco. A produção, feita em parceria com a Opus, tem investimento de 3 milhões de reais e remonta a história dos grandes musicais americanos, com mais de quarenta atores em cena.
Um painel composto de 160 metros de tiras de luz de LED vai reproduzir pontos turísticos de Nova York, como a Times Square e a Estátua da Liberdade. “Minha especialidade são os family shows, então de alguma forma sempre conversei com adultos e crianças”, diz o profissional à frente da Black & Red Produções, que também assina a nova dramaturgia.
Antes de assumir a persona do showman, Giuliano Canterini (seu nome de batismo, registrado em La Spezia, na Itália) cresceu em Buenos Aires, na Argentina, onde ingressou com sucesso no mundo do rock nos anos 70. “O presidente da gravadora lá me chamou assim, achei esquisito”, lembra. “É aquela coisa: por mais tosco que seja, depois que o nome se torna popular, ninguém mais questiona.”
Quando chegou por aqui, em 1974, primeiro foi para o Rio e depois se mudou para São Paulo, onde mora até hoje, em uma cobertura no Jardim Europa. Billy foi vocalista da banda punk Joelho de Porco e produziu a primeira apresentação do Queen no Morumbi, em 1981. Em 1999, responsabilizou-se pela direção-geral da versão brasileira de Rent. “Eu me considero o precursor dos musicais de grande porte, que trouxeram o profissionalismo e os investimentos maiores da Broadway para São Paulo”, afirma, de sorriso no rosto e sem traço de modéstia.
Pelas contas dele, os mais de trinta espetáculos de sua carreira foram vistos por 900 000 espectadores no Brasil. Se uma montagem faz sucesso, Billy não hesita em trazê-la de volta. Para que seja garantida a longevidade dos adereços utilizados, os mais de 2 500 figurinos ficam armazenados em um galpão de 3 000 metros quadrados, em Embu das Artes.
Sua versão de Peter Pan, por exemplo, foi remontada em quatro ocasiões. Na última vez em cartaz, em julho do ano passado, foram 24 sessões no mesmo grandioso Teatro Bradesco, com 26 212 pagantes (o ingresso inteiro custava a partir de 60 reais). Isso não chega perto do sucesso do espetáculo sobre o mesmo personagem dirigido por José Possi Neto, com 111 sessões e 101 000 entradas, vendidas a partir de 50 reais, no Alfa. Mas é o suficiente para colocá-lo no patamar dos encenadores mais vistos da cidade. Para este ano, estão na fila Branca de Neve, em outubro, e Natal Mágico, que foi montado pela primeira vez em 2003 e em novembro volta à cena.