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Berçários de primeira classe

Eles têm professores com pós, atividades em inglês e relatórios de desempenho

Por Letícia Rodrigues
Atualizado em 1 jun 2017, 18h30 - Publicado em 9 jul 2011, 00h50
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  • É manhã de segunda-feira no Morumbi e as crianças matriculadas no berçário Primetime Child Development, todas com menos de 4 anos de idade, colhem folhas de manjericão em uma horta, lambuzam-se de tinta e têm suas fraldas trocadas por jovens simpáticas. Nada é tão trivial quanto parece nesse lugar — projetado pelo arquiteto Marcio Kogan, o mesmo do Hotel Fasano —, que não se define como escola, mas como um learning center (centro de aprendizado). Na plantação, para começar, os pequenos ficam boa parte do tempo falando em inglês com os coleguinhas e orientadores, que anotam as observações que cada aluno faz sobre a textura das folhas, por exemplo. Já a sessão de pintura acontece ao som de jazz ou canções chinesas. Por fim, até quem troca as fraldas ou dá banho na turma tem ao menos um curso superior, em geral de pedagogia ou psicologia, e, em alguns casos, pós-graduação.
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    O local faz parte de um grupo de instituições que figuram no topo do universo aproximado de 280 creches e escolas de ensino infantil particulares que existem na cidade, com mensalidades que começam na casa dos 200 reais e podem custar mais de vinte vezes esse valor. Em média, elas têm uma relação de um educador por grupo de oito crianças. Na Primetime, a proporção é de um para quatro. Eis aí um dos principais diferenciais do trabalho intensivo de pré-escolas como essa, que assumem com os pais o compromisso de extrair o maior desenvolvimento possível dos filhos em áreas como cognição e memória para que, no futuro, o aprendizado seja mais eficiente. “Nessa fase, os bebês e crianças precisam ser estimulados, estar diante de desafios cada vez maiores”, diz a psicóloga Christine Bruder, que fundou a Primetime há quatro anos e, toda semana, analisa relatórios sobre os êxitos e dificuldades dos alunos. Tanta exclusividade e infraestrutura, naturalmente, têm seu preço. O custo ali é de 4.997 reais, pelo período das 8 horas às 15h30.
    Em alguns casos, o diferencial passa despercebido à primeira vista. Localizada em um casarão da Bela Vista, a escola Lumiar, que cobra 2.954 reais por mês para o período completo (das 8 às 18 horas), faz o estilo alternativo: há redes para a soneca, em espaços como ateliês, e um grande quintal. O papel dos educadores (um para cada cinco crianças) é detectar temas de interesse dos pequenos e propor atividades lúdicas. “Não há a intenção de acelerar nenhum processo, mas sim proporcionar um ambiente com rico repertório visual, verbal, literário, cultural e de bem-estar”, explica a diretora, Marina Castellani. O pediatra Jack Shonkoff, diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade Harvard, afirma que estimular o cérebro nessa fase é fundamental para que ele absorva melhor o que for ensinado no futuro. O especialista compara o cérebro a uma rede elétrica. “Os novos circuitos funcionarão melhor se as primeiras instalações forem benfeitas”, sustenta.

    Mario Rodrigues

    Aubrick: aprendizado bilíngue intensivo

    Algumas escolas infantis de ponta oferecem ensino bilíngue. Na Aubrick, que recebe crianças a partir de 1 ano e meio, o inglês é a única língua falada até elas completarem 4 anos. Na Faces, de Higienópolis, as atividades no idioma começam no segundo ano de vida. A oficial de Justiça Ione Rocha, de 48 anos, que não fala idiomas estrangeiros, decidiu que seu filho Caio, de 4 anos, estudaria numa dessas instituições ao ver um anúncio de estágio para um escritório de advocacia que exigia fluência em espanhol e em inglês. “Hoje os requisitos do mercado de trabalho são muito maiores, então quis investir”, diz. Ela, que antes pagava 300 reais por mês em uma creche do Tribunal de Justiça, hoje desembolsa, e mesmo assim graças a descontos, cerca de 2.200 reais. “Meu filho chega em casa cantando músicas em inglês, mostrando as palavras novas que aprendeu na língua”, orgulha-se.

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    Mario Rodrigues

    Berçários de primeira 2225 - Faces
    Berçários de primeira 2225 – Faces ()

    Faces: um quadro na parede expõe metas para cada idade

    O investimento nessas escolas de elite não garante, por si só, o bom desenvolvimento da criança. Independentemente do local escolhido, os especialistas ressaltam que a participação dos pais é fundamental em todo o processo. Em outros termos, não adianta nada matricular o aluno no melhor e mais caro serviço disponível na cidade, imaginando que os professores e pedagogos darão conta da missão de educá-lo nessa fase. “Nenhuma escolinha garante um adulto de sucesso”, afirma Maria do Carmo Kobayashi, pesquisadora de educação infantil da Unesp. “O processo de aprendizagem depende também de outros fatores cruciais, como a atenção da família.”
    O PERFIL DOS BERÇÁRIOS DE PRIMEIRA LINHA
    Primetime (Morumbi)Em quintais emborrachados e salas com piso aquecido, as brincadeiras são supervisionadas por educadores bilíngues, que orientam as crianças em atividades como montar um quebra-cabeça. O progresso de cada uma é registrado em relatórios semanais
    Mensalidade: a partir de 4.997 reais (das 8h às 15h30)
    Faces (Higienópolis)As atividades em inglês começam quando as crianças atingem os 2 anos. Um quadro na parede expõe metas para cada idade. Aos 8 meses, por exemplo, é desejável que os bebês distingam a cor de objetosMensalidade: a partir de 1.760 reais (infantil bilíngue) e 3.959 reais (fundamental bilíngue integral)
    Aubrick (Campo Belo)Prioriza o aprendizado bilíngue intensivo. As crianças ingressam a partir de 1 ano e meio de idade e o inglês é a única língua falada até que elas completem 4 anosMensalidade: 2.300 reais (das 8h às 17h)

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