Cansado das noites mal dormidas, o geólogo Milton Assis Kanji, de 78 anos, resolveu utilizar, próximo à janela de seu apartamento, um aplicativo de tablet desenvolvido para medir ruídos. Algumas semanas atrás, passava da 1h20 e o aparelho, do alto do 5°andar, não demorou a registrar picos de 104 decibéis. Para efeito de comparação, o latido de um rottweiler chega à marca de 105 e a decolagem de um jato atinge 120. “É um problema que tem piorado a cada semana”, relata o morador, inconformado.
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Ele é um dos cercade 200 residentes do Edifício Memphis, na Alameda Santos, colado ao ponto onde ela se encontra com a Rua da Consolação e a Avenida Rebouças. A área, que já guardava um histórico de questões relacionadas a barulho e confusões, neste ano tem sofrido os efeitos colaterais do sucesso dos bares ali por perto.
A reportagem de VEJA SÃO PAULO circulou por aquele trecho da cidade na noite de sexta (15) e flagrou uma ruidosa massa de gente ocupando uma faixa inteira da Rua da Consolação, inclusive com mesas, cadeiras e caixas de cerveja sobre o asfalto, o que dificultava o trânsito de veículos. Em meio à balbúrdia, o teto e o capô dos carros estacionados eram usados como balcão para apoiar copos e garrafas.
Janelas antirruído, tampões auriculares e remédios para dormir têm sido os recursos de emergência utilizados por quem tem a infelicidade de viver perto da algazarra. “A bagunça vai até as 3, 4 da manhã, e não dá para transitar pela calçada. Sem falar que a sujeira e o mau cheiro são insuportáveis”, queixa-se outro vizinho, que pediu para não ser identificado. “Tem lugar que põe até banda de música ao vivo.”
Dono do bar Recanto da Consolação, que, junto com o Coffee Corner e o Orange Point, forma a tríade de botecos responsável pelas baladas mais quentes da área, Rodrigo Guedes tem uma explicação para o fenômeno.“Temos atraído quem antes frequentava os botecos da Rua Augusta, já que o preço da cerveja por lá está muito alto”, teoriza. A respeito das reclamações, o empresário dá de ombros. “Tenho alvará para colocar mesas na calçada e baixo as portas todas as noites à 1 hora, como manda a lei”, jura.
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Além de enviarem várias queixas ao Programa de Silêncio Urbano (Psiu), órgão da prefeitura encarregado de fiscalizar a poluição sonora da metrópole, os moradores entregaram no ano passado um abaixo-assinado à administração municipal pedindo providências. Nada foi feito. Segundo as autoridades responsáveis, a situação vai mudar em breve. “Estamos intensificando o monitoramento na cidade toda, inclusive naquela região”, promete Luiz Carlos Pepe, diretor do Psiu. “As blitze no pedaço começarão o mais rápido possível.”