O novo comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), o 1º Batalhão de Choque da Polícia Militar paulista, disse ao portal UOL que os policiais que atuam na região nobre e na periferia da capital paulista adotam formas diferentes de abordagem e contato. “É outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma de ele abordar tem de ser diferente. Se ele for abordar uma pessoa da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins, ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, disse o tenente-coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo.
A declaração foi alvo de críticas por policiais especialistas no estudo de procedimentos-padrão da corporação e do ouvidor das polícias do Estado, Júlio César Fernandes Neves, que a classificou como “discriminatória e elitista”, tendo dito esperar que o comportamento “não prospere”. A reportagem solicitou entrevista com o tenente-coronel e pediu posicionamento à Secretaria da Segurança Pública, mas não obteve resposta.
Na entrevista, Mello Araújo disse ainda que a linguagem usada é diferente. “O policial tem de se adaptar àquele meio que ele está naquele momento.”
A major da reserva da PM paulista e pesquisadora do Instituto Igarapé Tânia Pinc disse que, apesar de esse discurso ser comum dentro e fora da corporação, “não faz muito sentido”. “O policial só pode decidir por abordar alguém quando há suspeita de crime, seja portando arma ou droga, andando em carro que pode ter sido roubado. Mas deixar de observar procedimentos e condutas é algo que muitos policiais acreditam que precisa ser assim em áreas onde a taxa de crime violento é mais alta.”
O coronel da reserva da PM José Vicente da Silva Filho disse que “com a Mercedes-Benz dos Jardins ou com a Kombi velha do Capão Redondo” a abordagem deve ser sempre educada, mas severa quando necessária. “É um padrão só.” O coronel também criticou a operação da Rota realizada na quarta-feira (23), na qual 25 pessoas foram presas e 100 quilos de drogas, apreendidos. “A Rota não conhece a cidade, quem conhece é o policiamento territorial, os batalhões.”
O ouvidor das Polícias disse que “todos têm de ter tratamento igual”. “Tanto na periferia como nos Jardins.” Para ele, como a “hierarquia é implacável”, ainda que todos não pensem dessa forma, acabam tendo de seguir a determinação. “Dá margem a atitudes imprevisíveis.”
Procurada, a PM informou que “respeita a opinião pessoal de seus integrantes, contudo tais ponderações não interferem na doutrina institucional”.