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Avós da Razão: conheça as octogenárias que fazem sucesso nas redes sociais

Gilda Bandeira, 81, e Sônia Bonetti, 86, falam sobre envelhecimento sem tabus

Por Júlia Rodrigues
9 fev 2024, 06h00
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  • Assistir aos vídeos de Gilda Bandeira, 81, e Sônia Bonetti, 86, dá a impressão de que se está conversando com
    duas amigas em uma mesa de boteco. Com mais de 90 000 inscritos no YouTube e 450 000 seguidores no TikTok e no Instagram juntos, as influenciadoras paulistanas, conhecidas como as Avós da Razão, fazem sucesso ao falar sobre o envelhecimento sem tabus, mostrando que a idade não deve ser encarada como limitação. No perfil, elas também ensinam receitas, dão dicas de passeios culturais pela cidade e respondem a perguntas dos usuários sobre temas que variam de sexo a mercado de trabalho.

    A ideia do projeto, que começou em 2018, foi de Cássia Camargo, ex-nora de Gilda, que sempre acompanhou a dupla, amigas há mais de sessenta anos, nos encontros nos bares. “Somos duas botequeiras de mão-cheia e Cássia achou que nosso papo podia servir para outros velhos saberem que podemos nos divertir, que não precisamos nos ocultar”, conta Gilda. As gravações costumam acontecer em semanas alternadas. Os conteúdos são diversos: elas visitam locais icônicos de São Paulo, como o Bar Leo, na Santa Ifigênia, onde gravaram o episódio especial de 470 anos da cidade, compartilham reflexões sobre a vida, recomendam livros e, principalmente, criticam os preconceitos relacionados à terceira idade. “Tem que parar com isso de ‘idoso’. ‘Idoso’ é ido, algo que já foi. Somos velhas”, reivindica Sônia. “E ‘melhor idade’, então? Queria entender quem inventou isso”, reclama Gilda. A rotina atribulada foi um dos motivos para a saída de Helena Wiechmann, 95, uma das fundadoras do canal, no ano passado. “Às vezes ficamos gra­vando o dia inteiro. Ela não queria mais compromisso, estava cansada. Está bem de saúde, nos encontra­mos ainda, inclusive nos botecos”, assegura Sônia.

    No início, a tecnologia assustou as blogueiras, que às vezes contam com a ajuda dos netos ou outros pa­rentes para mexer no celular e no computador — na entrevista, que aconteceu via chamada de vídeo, Gilda teve de recorrer ao seu “assis­tente técnico”, Miguel, o neto de 14 anos, para virar a câmera. “Co­meçamos a gravar com celular, mes­mo, e fomos aprendendo. A Sônia ainda é mais dedicada nesse assunto, mas eu não sabia nem o que era um link”, conta Gilda, rindo. “Tenho raiva de pessoas da nossa idade que dizem que não conseguem mexer na internet. É só aprender. Não apren­deu a andar, a ler?”, completa.

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    As amigas em gravação no Bar Leo, na Santa Ifigênia (Redes sociais/Reprodução)

    A criação de conteúdo se tor­nou, além de um hobby, um traba­lho, que resultou no lançamento do livro Avós da Razão: Quebrando a Cristaleira! no ano passado, parce­rias com marcas e convites para podcasts e páginas de outros influenciadores. Se, no começo, os seguidores eram em sua maioria das novas gerações, hoje o público é variado. “Acho que os próprios jovens começaram a mostrar o pro­grama para os pais, para os avós, e agora tem muita gente de mais ida­de que está nos acompanhando”, conta Sônia. “Recebemos mensa­gens de pessoas dizendo que, com a gente, mudaram o pensamento, o jeito de vestir, tomaram coragem de fazer uma tatuagem. É muito gratificante”, continua.

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    Para a surpresa da dupla, o canal e os perfis acabaram virando, também, um confessionário. Diaria­mente, seguidores as procuram em busca de conselhos sobre relacio­namentos, sexualidade e outros te­mas. “Os homens gays são boa par­te do nosso público, eles nos pro­curam perguntando como, por exemplo, se assumir para os pais, sair de casa. Acho que é porque fa­lamos a verdade e aceitamos todas as diferenças. Sempre fomos mais evoluídas que as outras pessoas nesse sentido”, revela Sônia.

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    O livro: milhares de seguidores (Divulgação/Divulgação)

    Também não faltam perguntas curiosas sobre o envelhecimento. “Uma vez nos perguntaram se já tínhamos feito sexo tântrico. De­mos muita risada. Pensamos: ‘Será que vamos ter que fazer para expli­car?’ ”, lembra Gilda, rindo. “O se­xo de velhos gera muita curiosida­de, mas explicamos que é normal como em qualquer faixa etária e levamos tudo com bom humor”, resume a amiga.

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    Com passagem por várias pro­fissões — Gilda trabalhou como figurinista do SBT durante anos e Sônia já foi secretária, modelo e, mais recentemente, comandou uma banca de aves no Mercado Municipal de Pinheiros —, as oc­togenárias estão sempre prontas para uma nova experiência. A pró­xima é um podcast, ainda sem pre­visão de lançamento. “Descobri­mos no envelhecimento uma liber­dade que não esperávamos. Somos a geração de velhos que está fa­zendo a divisão de águas, para que os jovens do futuro consigam ser eles mesmos”, conclui Sônia.

    Publicado em VEJA São Paulo de 9 de fevereiro de 2024, edição nº 2879

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