Seja para reduzir o valor mensal da taxa condominial, seja para aumentar a sensação de segurança, ou pelos dois motivos, tem crescido na capital paulista o número de prédios residenciais que adotam portarias remotas, sem a presença física de uma pessoa no dia a dia do local. Uma pesquisa da plataforma SíndicoNet, feita em 2021 com 957 gestores da metrópole, aponta que 15,4% deles demitiram os antigos porteiros e colocaram em seus lugares um sistema eletrônico que aciona a distância o encarregado por abrir a porta de entrada para moradores, entregadores ou visitantes. Em 2018, o índice era de 8,2%, ou seja, o aumento em três anos foi de 86%.
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A pesquisa abordou também outros temas, como a utilização de aplicativos e a realização de assembleias virtuais. “Não estamos mais conversando se o prédio vai colocar portaria digital, mas quando. Só quem conhece uma portaria entende quão insalubre é o ambiente. O porteiro tem de atender presencialmente, receber entregas, olhar câmeras, abrir o portão da garagem, tudo isso dentro de um cubículo”, afirma o síndico profissional Alexandre Prandini, 45, que administra dezesseis condomínios residenciais na cidade, a metade deles com sistema remoto. “O porteiro físico falha. Não é possível preparar um profissional como ele, que ganha 1 300 reais por mês.”
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O custo para a implantação de um sistema digital de entrada e saída varia de acordo com o tamanho do prédio e pode passar dos 100 000 reais. Soma-se a isso o número de funcionários que eventualmente serão desligados. Nesse caso, o valor das rescisões trabalhistas deverá ser rateado pelos moradores. “No meu prédio são apenas dezesseis apartamentos, temos uma entrada de pedestres e pagamos 9 000 reais por mês pelo sistema digital. Antes disso, tínhamos três turnos de porteiros, que custavam 20 000 reais por mês. A folha de pagamento representa até 70% dos custos de um condomínio”, afirma Julio Paim, 47, CEO do SíndicoNet e responsável pela pesquisa. Morador do Real Parque, na região do Morumbi, Paim foi o pioneiro na instalação de sistema virtual em seu quarteirão, que conta com 27 condomínios. “Desses, vinte têm portaria remota. Foi uma reação em cadeia que foi se multiplicando.”
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Não são todos os prédios nem todo tipo de condômino que topam ver a porta de entrada ser aberta por alguém que está no interfone a dezenas de quilômetros dali. Os maiores, com muitas torres, ou os menores, mas com apartamentos grandes, com mais de 200 metros quadrados, são os que mais enfrentam barreiras.
Edifícios com muitos idosos, alguns dos quais com relações mais próximas com porteiros, que os ajudam com encomendas e em emergências de saúde, por exemplo, também são difíceis de mudar o sistema. “Tentei levar para votação, mas a maioria aqui é contrária e não se sente segura. Muitos dão exemplos de prédios de conhecidos. Dizem ter tocado o interfone e ficado muito tempo esperando, até na chuva. E tem muita gente de idade, um pessoal mais conservador que depende da ajuda do porteiro para receber uma encomenda”, afirma a síndica Adriana Soldera, que administra um prédio com quarenta apartamentos no Ipiranga. “O máximo que conseguimos foi implementar acesso de pedestres com um chaveiro. Eles encostam a tag no painel e entram. Isso já alivia o porteiro.”
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No meio do caminho, entre o convencimento e a possibilidade de instalação, está o condomínio administrado pela síndica Catarina Anderáos, 45, na Vila Clementino. Com uma torre e 56 unidades, o local precisaria passar por algumas adequações estruturais, como melhorias do sistema de portões, o que encareceria o custo de instalação. “É uma conversa que surgiu em uma assembleia e que já tem dois anos. Nosso grupo é dividido”, diz.
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O maior impasse ali é pela alta rotatividade de moradores. Por estar próximo de hospitais públicos e particulares com grande quantidade de médicos residentes, o condomínio é procurado por esse público. “Esses inquilinos ficam de um a dois anos e depois se mudam. Alguns dos proprietários têm uma preocupação com a segurança em caso de instalação de portaria virtual. Será que os novos moradores seguirão o que precisa ser feito? Não adianta ter ótima tecnologia, tem de cumprir os protocolos de segurança. Eles têm muito mais responsabilidade.”
Enquanto esses e outros condomínios estudam a possibilidade de mudar o sistema de entrada e saída, boa parte deles passou a utilizar cada vez mais meios digitais para facilitar o dia a dia e o convívio entre moradores e administradores. A pesquisa do site SíndicoNet feita em todo o Brasil, com recorte específico para São Paulo, mostra que 47,3% dos condomínios paulistanos passaram a usar, entre março de 2020 e abril de 2021, aplicativos para a retirada de entregas ou agendamento de locais de uso comum.
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Na outra ponta, no entanto, a aceitação nem sempre é razoável. Apenas 11,5% dos moradores usam os app com muita frequência. Em relação às assembleias virtuais, o número foi maior, de 53,5%, impactado pela pandemia e a necessidade de distanciamento físico.
Não é de hoje que os condomínios apostam em evoluções tecnológicas e de comportamento para resolver pequenos, grandes ou médios problemas e desafios do dia a dia. Antes da chegada da internet para valer ao Brasil, as prestações de contas eram feitas de forma manual. A partir de 1998 as administradoras passaram a disponibilizar os balanços de forma on-line. De lá para cá, das individualizações de consumo de água e gás ao surgimento dos síndicos profissionais, passando pela criação de sistemas como o Airbnb e pela instalação de mercadinhos digitais nos prédios, as novidades foram surgindo e incorporadas no dia a dia dos mais de 21 000 condomínios existentes na capital. Quase nunca com aceitação inicial maciça.
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Publicado em VEJA São Paulo de 12 de janeiro de 2022, edição nº 2771