Responsável por denúncias como a que pôs atrás das grades em 2009 por um dia a empresária Eliana Tranchesi, dona da Daslu, o procurador da República Matheus Baraldi Magnani, de 34 anos, está acostumado a encarar boas batalhas nos tribunais. Nos últimos três meses, no fim do expediente, ele tem tirado o terno e a gravata para enfrentar outro tipo de briga. Duas vezes por semana, numa academia no Paraíso, passa uma hora e meia praticando no tatame golpes como chutes, cotoveladas e socos, ao mesmo estilo dos violentos ídolos do MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas, modalidade conhecida antigamente como vale-tudo). “É uma excelente válvula de escape para o stress, que na minha profissão não é pouco”, afirma Magnani. “Não existe nada parecido. É preciso estar preparado para tudo diante de um adversário.”
Esse tipo de esporte vem se multiplicando com rapidez pelas academias da cidade. No último ano foram criados ao menos quatro cursos em bairros variados, somando mais de 100 vagas. Boa parte dos adeptos começou a se interessar ao assistir a competições profissionais. A principal delas, o Ultimate Fighting Championship (UFC), disputado numa espécie de jaula octogonal, já rivaliza em popularidade com o boxe. Mas, ao contrário do que ocorre na atualidade no pugilismo, diversos lutadores brasileiros ocupam posição de destaque no torneio.
Em fevereiro, naquela que foi denominada a “luta do século”, enfrentaram-se em Las Vegas, nos Estados Unidos, o paulistano Anderson “The Spider” Silva, campeão dos pesos médios, e o carioca Vitor Belfort, na posição de desafiante. O confronto durou apenas três minutos e 25 segundos. Terminou com o nocaute de Belfort, após um espetacular chute de Spider, que ganhou ares de invencibilidade e trouxe mais fama para a modalidade. “Fico feliz com o crescimento da categoria no país”, diz Anderson. “Com a realização de novos eventos, o interesse deve aumentar ainda mais.” Um dos mais aguardados ocorrerá em agosto, quando o Rio de Janeiro sediará a edição 134 do UFC.
Para os que se assustam com a possibilidade de se engalfinhar com um brutamontes mal-encarado, vale a ressalva de que, nos cursos para amadores, as lutas não chegam ao extremo e é até possível aprender apenas as técnicas, sem contato físico. Por isso, há turmas que contam com mulheres e adolescentes, em busca de benefícios físicos como a melhora no condicionamento cardiovascular, na resistência e no alongamento, em aulas que podem queimar cerca de 1.000 calorias em uma hora e meia — quantidade semelhante à gasta num treinamento de boxe.
Já para aqueles que gostam de trocar uns sopapos, geralmente é obrigatório o uso de peças de proteção para as partes mais sensíveis do corpo, o que reduz bastante o risco. “É um esporte muito seguro e indicado para todos os tipos de pessoa”, acredita, com um certo exagero, Fernando Rocha, professor da Versus Fight Club, no bairro da República. Ele também precisou se adaptar à nova demanda. Antes instrutor de muay thai, técnica de luta tailandesa, agora dedica a maior parte do tempo ao vale-tudo.
A maioria dos que procuram as aulas quer distância dos tatames de competição. “Cerca de 95% de nossos alunos não estão interessados em se profissionalizar”, calcula Francisco Nogues, um dos sócios da Barbosa Jiu Jitsu-MMA, no Paraíso. Na academia, as classes da modalidade, inauguradas há cerca de seis meses, já têm fila de espera, e duas turmas devem ser criadas nas próximas semanas. Na Needs, em Moema, os donos foram além. Resolveram investir 38.000 reais para construir um octógono idêntico ao dos torneios, que deve ser inaugurado em junho.