No último dia 7, a candidata a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL) recebeu com surpresa a notícia de que havia sido eleita com 2 milhões de votos, a maior marca da história para o cargo. “Cheguei a entregar santinhos na porta do metrô”, lembra. Em sua primeira tentativa de conquistar uma vaga na política, a jurista caiu no gosto do paulista, principalmente por ter sido uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015. “Nas ruas, as pessoas me agradeciam muito por ter tirado o PT do poder e estavam preocupadas com a ‘venezuelização’ do Brasil”, diz.
Aos 44 anos, Janaina é um símbolo de uma nova geração de deputados que assumirá as 94 cadeiras da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) em março de 2019. Cresceu a presença de políticos com menos de 50 anos e estreantes no Legislativo. Em campanha, grande parte dos postulantes bateu na tecla do combate à corrupção e à “velha política”. Alguns especialistas enxergam com otimismo a mudança. “São pessoas mais proativas, com perfil de propor o debate”, opina o professor Rui Tavares de Maluf, da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fesp-SP).
No Palácio 9 de Julho, a taxa de reeleição caiu de 66%, no pleito de 2014, para 45%, neste último. Ficaram de fora figuras antigas, caso dos tucanos Vaz de Lima, presidente da Casa entre 2007 e 2009, e Célia Leão, há 27 anos na função. Outra alteração consiste na chegada de seis siglas que não contavam com parlamentares na gestão anterior. Destaca-se o PSL, o partido do candidato à Presidência Jair Bolsonaro, que terá quinze deputados, virando maioria a partir de 2019 — o PT vem em segundo lugar, com dez representantes. Deve inflar ainda a “bancada da bala”, com onze eleitos, donos de títulos como sargento, major e delegado.
De comportamento escrachado, o youtuber Arthur Mamãe Falei (DEM) foi o segundo mais bem cotado na disputa por uma cadeira, com 480 000 votos. Entre as gravações de seu canal, com quase 2 milhões de inscritos, aparecem uma rusga com Ciro Gomes e críticas à recém-eleita deputada Isa Penna (PSOL). “O canal é uma janela para quem eu sou e continuarei fazendo vídeos”, adianta.
Em suas propostas, defende o fim de benefícios no Legislativo, caso do auxílio-moradia, bandeira que também é levantada pelos quatro eleitos do Partido Novo (estreante na Casa), entre eles Daniel José. Essa posição já faz antigos deputados torcer o nariz. “Primeiramente, eles precisam dar o exemplo e recusar as mordomias. Depois, devem propor o projeto e, se não for aprovado, seguir sem os serviços”, diz Edmir Chedid (DEM), que inicia seu sétimo mandato, um dos recordistas no Palácio 9 de Julho.
Outra novidade a ser sentida no local é o aumento de 78% na presença feminina, com dezesseis eleitas. Uma delas, Mônica da Bancada Ativista (PSOL), representa um grupo de nove integrantes, de ambos os sexos, com idade entre 25 e 52 anos. Trata-se de um novo tipo de candidatura, no qual todos opinam sobre as pautas levadas ao plenário. “Foi uma forma de hackear o sistema”, acredita Mônica. O time deve se debruçar sobre assuntos como educação pública e direitos LGBT.Também foi escolhida Érica Malunguinho, da mesma legenda, a primeira transexual a legislar pelo Estado de São Paulo.
Na Câmara de Brasília, o clima de novidade se repete. O lugar terá nomes conhecidos como Tiririca (PR) misturados com estreantes e exibiu a menor taxa de reeleição das últimas décadas. “Há um claro desejo de mudança por parte do eleitor, e os políticos identificados com a tradição foram penalizados”, afirma Edison Nunes, professor de ciência política da PUC.
Confira alguns números:
43% mais parlamentares com até 49 anos
45% menos representantes de PT e PSDB
78% foi o aumento do número de mulheres