Assim que os primeiros casos de coronavírus começaram a surgir na cidade e os estabelecimentos comerciais foram fechando as portas, em março, o empresário Marcelo Lages, 49, precisou virar a chavinha da empresa para que seu negócio não fosse por água abaixo. Fundada em 1996 na capital paulista, a Loclav é especializada na locação de grandes e médios equipamentos de limpeza e manutenção. Seus clientes majoritários sempre foram shoppings, uni- versidades, hotéis e hipermercados, que alugavam por mês ou por ano grandes enceradeiras, lavadoras automáticas, ferramentas e até andaimes. “Depois que todo mundo parou de trabalhar, muita gente passou a olhar para dentro de casa e viu o que podia ser melhorado”, afirma Lages, que já possuía em seu portfólio uma lavadora voltada para clientes residenciais, mas a procura não representava nem 20% do faturamento total. Após o aumento da procura por pessoas físicas, ele foi às compras e adquiriu oitenta novas máquinas. Seu negócio, que estava prestes a entrar em colapso, foi salvo.
O equipamento que hoje representa a maior parte dos negócios da empresa — são três lojas próprias, no Butantã, na Granja Viana e em Cotia, e uma franquia em Campinas — se parece com um aspirador de pó encorpado. Com ele é possível lavar sofá, carpete, tapete, cortina e até colchão. Invisível, a sujeira acumulada nos estofados nada mais é do que uma boa quantidade de ácaros que podem causar alergia em muita gente. Estima-se que, após dois anos, um terço do peso do nosso travesseiro seja constituído por esses bichinhos microscópicos. Imagine o número de ácaros multiplicado em superfícies maiores, como colchões ou no confortável sofá da sala de estar.
A utilização da máquina, que pesa cerca de 13 qui- los e possui rodinhas, é simples. A limpeza de um sofá dura cerca de uma hora e meia e pode ser feita por apenas uma pessoa. São três etapas. A primeira consiste em uma aspiração a seco, sucedida por uma lavagem com água e xampu especial. A última etapa é a retirada do líquido, feita tão logo ele é despejado no tecido. “Não faz molhadeira, pois a água sai por um lado e logo é puxada para dentro”, diz o proprietário da empresa. O aluguel da máquina custa 82 reais a diária. Além disso, é preciso comprar no próprio local o produto de limpeza, a 23 reais (embalagem de 1 litro). Quem alugar na sexta-feira poderá devolver a lavadora na segunda pagando apenas por um dia. Caso não possa retirar o equipamento nos quatro endereços, o cliente pode recebê-lo em casa, mediante pagamento de uma taxa (3 reais para cada quilômetro rodado). Na entrega, na loja ou na residência, um técnico explica os procedimentos e auxilia na montagem. Além dos clientes residenciais, a Loclav aluga a lavadora a profissionais liberais que vão à casa das pessoas e realizam o trabalho. Nesse caso, o serviço não sai por menos de 300 reais.
A mudança no foco de atuação da Loclav em meio à pandemia provocada pelo novo coronavírus veio no momento em que o proprietário pensava em realizar demissões de parte dos seus quarenta funcionários. As medidas aprovadas pelo governo federal para suspensão de contratos de trabalho e redução de salários e jornadas também não precisaram ser concretizadas. Para isso, Lages contratou uma empresa de marketing digital e passou a fazer campanhas de comunicação.
Enquanto vê uma inesperada expansão doméstica dos seus negócios, o mineiro de Belo Horizonte, há trinta anos na capital paulista, chama atenção para a (falta de) mecanização da limpeza no nosso país. “Recentemente fui com meu filho a um hospital particular aqui de São Paulo e a funcionária da limpeza usava um rodo e um pano de chão para limpar o piso. Em hipótese alguma a pessoa deveria encostar na sujeira”, explica. No exterior, as máquinas de limpeza profissionais possuem tecnologia que permite o trabalho autônomo, sem a necessidade de um operador. “Infelizmente estamos engatinhando na limpeza profissional e somos conhecidos lá fora nesse setor como o país do pano de chão.”
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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 05 de agosto de 2020, edição nº 2698.