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Arqueólogos vasculham terrenos da metrópole e encontram relíquias

Entre obras e construções, esses Indiana Jones do asfalto descobrem peças escondidas há mais de 6 mil anos

Por Neide Oliveira
Atualizado em 5 dez 2016, 18h07 - Publicado em 30 abr 2011, 00h50
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  • A preparação do solo para as obras de um condomínio de alto padrão no Morumbi estava acelerada, quando uma descoberta interrompeu o processo. Uma surpresa e tanto: o terreno fazia parte do mais antigo sítio arqueológico da cidade, que escondia tesouros subterrâneos como facas de pedra lascada e pontas de flechas, datadas de seis milênios atrás. O achado, e 2002, foi um dos primeiros impulsionados pela Lei de Proteção do Patrimônio Arqueológico, que prevê inspeção em obras de grande porte e em regiões de potencial histórico. Desde então, em casos assim, só é possível obter a licença ambiental para colocar um projeto de pé após um laudo atestando que não há mais o que vasculhar.

    A exigência esquentou o setor e os novos Indiana Jones são cada vez mais disputados pelos empreendedores. Trata-se de profissionais que se especializam em arqueologia depois de formados em história ou que frequentam algum dos onze cursos de graduação específicos ministrados no país, todos fora do estado. Trabalho não falta. Em 1991, cinco estudos de campo foram realizados no Brasil. Esse número saltou para 756 em 2009. No ano passado, já eram 969, estatística que cresce alavancada pela expansão do mercado da construção civil. A pressão pela produtividade provoca críticas de alguns pesquisadores veteranos da área, para os quais a pressa prejudica a qualidade do trabalho.

    Graças a essa grande demanda, contudo, São Paulo conseguiu descobrir melhor seu potencial. Hoje são cinquenta sítios conhecidos ao redor da metrópole. “A cerâmica mais antiga da capital foi encontrada em plena Faria Lima”, conta o arqueólogo Paulo Zanettini, líder da Zanettini Arqueologia, uma das principais do mercado. Ele se refere a um fragmento de pote da época da fundação da cidade, achado na Casa Bandeirista do Itaim, onde uma construtora deu início às obras sem atender à obrigatoriedade das pesquisas. Por decisão da Justiça, a empresa terá de cumprir um termo de ajustamento de conduta, no qual se compromete a erguer a nova sede do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP como forma de compensação pela destruição de parte do sítio. Em algumas semanas, uma porção do terreno voltará a ser estudada. Na região da Luz, em outro sítio analisado pela empresa — local onde está sendo erguido o Centro Paula Souza —, foram resgatadas peças de cozinha de 200 anos. Na Lapa, os achados são cerca de 30.000 peças da Santa Catharina, primeira fabricante de louças brancas da América do Sul.

    Lugares de grande potencial para descobertas precisam de acompanhamento arqueológico, qualquer que seja o projeto. Foi na área da Praça das Artes, um complexo cultural a ser construído atrás do Teatro Municipal, que a Scientia Consultoria encontrou xícaras, cachimbos, frascos de remédio e brinquedos, como soldadinhos de chumbo, de meados doséculo XIX. “Havia peças do século XIX a um metro e meio da superfície do solo”, conta Maria do Carmo Mattos Monteiro, diretora da empresa.

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    A primeira fase das obras de revitalização do Largo da Batata, em Pinheiros, entre 2009 e 2010, também revelou relíquias dos anos 1800, como restos de uma taverna. “Havia garrafas de vinho do Porto, de cervejas holandesas e outras importadas, já que na época não se produziam garrafas no Brasil”, diz o arqueólogo Plácido Cali, diretor da Gestão Arqueológica. Na segunda fase das escavações, prevista para o segundo semestre, ele pretende voltar ainda mais no passado. “Nossa expectativa é encontrar vestígios do século XVI.”

     

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