Estreante nas eleições paulistanas e rejeitado por boa parte dos caciques tucanos, com exceção do governador Geraldo Alckmin, que bancou sua candidatura, o empresário João Dória Jr., de 58 anos, surpreendeu na campanha, saindo de 5% de intenções de votos nas pesquisas para conquistar a prefeitura da cidade no 1o turno. No começo da noite deste domingo, 2, contabilizava votos válidos suficientes para não poder mais ser alcançado por seu adversário mais direto, o petista Fernando Haddad. A vitória em primeiro turno é um feito inédito na história das eleições paulistanas.
Ao ser confirmado como prefeito, ele comemorou a ascensão durante a campanha, após um início complicado nas primeiras pesquisas. “Parti de 5% e cheguei a uma posição histórica na vida política de São Paulo”, afirmou. “Vou celebrar com os militantes do PSDB”, declarou ele, ao deixar sua casa, na noite deste domingo (2).
Morador de uma mansão nos Jardins e dono de um patrimônio declarado de 179,7 milhões de reais (incluindo nove empresas, dois Porsches, duas Pajeros, além de obras de arte e investimentos no Brasil e nos Estados Unidos), fez sucesso na campanha fazendo o discurso anti-político. “Vou trazer as melhores práticas do setor privado para a gestão pública”, disse a VEJA SÃO PAULO quando sua candidatura foi confirmada pelo PSDB. Entre suas promessas de campanha, disse que iria rever os limites de velocidade das marginais e implementar uma espécie de “Corujão”, com médicos realizando consultas durante a noite e as madrugadas para tentar diminuir as filas do serviço municipal de saúde. Doria também garantiu que irá privatizar o Pacaembu, o Anhembi e o autódromo de Interlagos. Nas últimas semanas, a principal polêmica que enfrentou envolveu a posse de uma área na cidade de Campos de Jordão, onde Doria possui uma mansão. A Justiça considerou que o empresário invadiu um espaço que pertencia ao município e, no dia 22 de setembro, ordenou a reintegração de posse.
O que foi prometido durante a campanha paulistana
Filho do deputado João Doria, do PDC (cassado em 1964,no regime militar), o empresário é filiado ao partido há dezesseis anos, mas nunca concorreu a nada. Começou a trabalhar por sua candidatura ainda no primeiro semestre de 2015, e não se intimidou com a resistência à sua pretensão. Era visto como outsider e “coxinha”. Recorreu à alta plumagem da legenda e, por três vezes, bateu à porta do governador, que o desafiou a viabilizar seu nome.
“Ele me deu seis conselhos: amasse barro, gaste sola de sapato, priorize a periferia, seja você mesmo, escute muito e fale o suficiente”, conta. Sugestões anotadas, o empresário partiu para o ataque. Em oito meses, procurou lideranças regionais, foi a rincões onde jamais havia estado na vida, como Guaianases e Capão Redondo. Foram 96 bairros visitados, especialmente nos fins de semana, quando trocava o paletó ajustado e a camisa com suas iniciais (J.D.J) por camiseta, calça jeans e sapatênis. “Fui quebrando o gelo, e hoje me sinto em casa quando vou aos locais longínquos.”
Contou a favor também um fator que nem mesmo os desafetos negam: sua disciplina para o trabalho. Doria gaba-se de ser workaholic e de dormir quatro horas por noite. “Meu vício é trabalhar.” Ele comanda um grupo composto de seis empresas, incluindo uma editora responsável por títulos como a revista Caviar Lifestyle.
No ano passado, veio à tona a notícia de que suas publicações receberam 1,5 milhão de reais por anúncios do governo estadual, mesmo tendo uma tiragem modesta para tanto investimento público. A Caviar, por exemplo, distribuiu em 2015 aproximadamente 40 000 exemplares. Doria amealha mais dinheiro com o Lide (Grupo de Líderes Empresariais), especializado em realizar eventos para um público de empresários e políticos, como palestras com personalidades como o juiz Sergio Moro. Nas madrugadas de domingo, na Band, leva entrevistados ao Show Business, no ar há 24 anos.
Sua obsessão por tornar-se candidato bagunçou o ninho tucano. No embate, Alckmin peitou líderes de peso, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso, simpáticos a Andrea Matarazzo para ser o cabeça de chapa dos tucanos. Com a derrota, Matarazzo acabou saindo do partido e virou o vice de Marta Suplicy. Acabou somando duas derrotas no mesmo pleito.
Na conquista da prefeitura paulistana, Doria venceu até em regiões da periferia da cidade. Durante a campanha, dizia não se incomodar com a fama de “coxinha” e demonstrava confiança na conquista dos eleitores mais pobres. “Tenho de ser eu mesmo e conversar com as pessoas”, disse a VEJA SÃO PAULO. “Mas adoro uma coxinha.”